É muito importante frisar que estes números de um PIB bem sucedido dão a aparência de que o Brasil tem uma situação econômica superior a esses países, mas temos que olhar além das aparências, pois existem outros critérios para a aferição da riqueza de um país, que não são o PIB, sendo o principal deles o IDH, ou seja, o Índice de Desenvolvimento Humano, que leva em conta os padrões de qualidade de vida atingidos pelos países, com base nos níveis de educação, saneamento básico, moradia, segurança-pública, até porque riqueza não basta apenas ser produzida, para ser real tem que ser distribuída. O IDH considera, além do PIB per capta ajustado pela paridade do poder de compra da população de cada país, os itens educação e longevidade, medidos pela expectativa de vida dos nascituros, e pela taxa de analfabetismo conjugada ao número de alunos matriculados em todos os níveis do ensino. Portanto, PIB e IDH, embora devessem, não caminham juntos, pois a China, segundo PIB mundial, amarga uma constrangedora 101º posição na lista do IDH, evidenciando que o Regime de Pequim é muito bom na produção de riqueza, mas é péssimo na sua distribuição e em propiciar ao povo chinês, um nível de vida comparável até com aquele dos países europeus menos ricos, como Portugal e Grécia, bastante combalidos pela crise que os assola.
Não poderíamos deixar de comentar a respeito dos BRICS, grupo de países emergentes dos quais o Brasil faz parte e, dentre eles, o nosso PIB foi o que menos cresceu. Relativo ao IDH, o Brasil tem a 84º colocação, a Índia tem a 124º, a China 101º e a Rússia 66º. Pelas recentes projeções, a população do grupo dos BRICS vai continuar mais pobre do que a dos países desenvolvidos, havendo uma espécie de consenso entre os economistas e analistas da área, que o único país capaz de conseguir elevar o nível de vida do seu povo até as condições dos países desenvolvidos é a Rússia. Para os outros membros o caminho deverá ser bem mais longo.
A queda no desempenho do nosso PIB, já causa uma certa apreensão na área econômica, o que torna bem evidente que o otimismo revelado pelos números da economia não é justificado, pois a presidente Dilma Roussef, sempre deixou bem explícito que a manutenção do nosso ritmo de crescimento econômico seria um dos pilares do seu governo, fato que já teve um efeito prático visto que o Comitê de Política Monetária – COPOM, já efetuou um corte de 0.75 ponto percentual na taxa básica de juros ( SELIC), agora em 9,75%, com o claro objetivo de tornar o crédito mais barato e estimular o poder de compra das famílias, aumentando os níveis de crescimento econômico, assumindo o risco, ainda não afastado, de uma alta inflacionária e de um endividamento muito grande dos consumidores, que seguramente não ajudará numa melhor distribuição de renda e muito menos na inadiável solução dos gargalos seculares que atravancam o progresso nacional na questão social, imprescindível para que o país chegue ao nível de desenvolvimento dos países da Europa e dos Estados Unidos.
Outra questão importante para o avanço do nosso país em termos de produção de tecnologia que nos permita uma real independência, que inclusive já abordamos em artigos anteriores, é a deficiência no ensino de matemática, ferramenta essencial para a física, química e engenharia, matérias responsáveis pelo desenvolvimento das novas tecnologias de ponta. Sem que essa questão específica seja resolvida em particular, embora dentro do contexto maior das soluções para o nosso déficit educacional geral, o futuro do Brasil como potência mundial estará irremediavelmente comprometido, fato muito bem lembrado pelo Senador Valdir Raupp, Presidente Nacional do PMDB, em seu discurso no Senado Federal, nesta última semana, que atribuiu o sucesso da economia chinesa ao pesado investimento feito por aquele país na educação, seguindo o exemplo da Coréia do Sul, que ao fazê-lo, conseguiu um desenvolvimento e autonomia tecnológicos tais que permitiram aos sul-coreanos conquistarem a liderança de mercados tradicionalmente dominados pelos japoneses e europeus, como o de eletroeletrônicos, por exemplo.
Face ao exposto podemos perceber que os números da economia nos levam a um otimismo justificável apenas na aparência, pois é preciso ver além, pensar além, naquilo que os números frios no papel não dizem, ou seja, que a verdadeira riqueza não está apenas em quantos bens o meu país pode produzir, mas está muito mais representada pela qualidade e pelo acesso que a sua população tem aos mesmos, proporcionando assim um padrão de vida que amplamente justifique o conceito de desenvolvimento social e econômico.
Pensar em economia é pensar além das aparências.
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