domingo, 21 de junho de 2020

O CENÁRIO PÓS-PANDEMIA E AS MUDANÇAS DE PARADIGMAS DA SOCIEDADE. - ARTIGO: JUNHO/2020



Arriscar um cenário pós pandemia é especular em cima de previsões de possíveis mudanças que ocorrerão na sociedade. Embora não se possa medir a intensidade dessas mudanças, ela irá ocorrer e deixará como herança uma transformação intensa na geopolítica mundial e, além de mudanças de comportamento e convivência, uma nova ordem nas relações internacionais com foco na economia de mercado é algo que já se pode afirmar. 

No caso específico do nosso país, a pandemia chegou a um momento dramático em razão de atravessarmos um período caótico no campo político e de grande fragilidade social, que tem como agravante o fato do governo estar demonstrando falta de capacidade para enfrentar essa grave crise sanitária, e isso é extremamente preocupante.

As tentativas fracassadas do presidente Bolsonaro de minimizar os riscos humanos causados pela pandemia e a escolha de colocar a atividade econômica acima da vida humana, se for uma estratégia política de não vir a ser responsabilizado pela derrocada da economia brasileira, que já se estima um PIB deficitário beirando 10% este ano, não está funcionando, pois o desgaste de sua popularidade vem ocorrendo não obstante o presidente ser sustentado por cerca de 30% dos eleitores. O governo brasileiro irá enfrentar uma crise política, econômica e social que continuará a avançar com fortes implicações geopolíticas regionais.


Sairemos dessa pandemia com uma grande recessão mundial, e o Brasil irá sofrer um forte impacto econômico, com reflexo profundo na sua frágil estrutura social, em razão do desemprego que em nosso país já era estrutural, e será o grande vilão a dificultar a retomada econômica brasileira. Os problemas estruturais nos setores da economia, educação, saneamento, saúde, violência, dentre outros que já vem de anos e cuja responsabilidade não é do atual governo, já eram um forte obstáculo e um grande desafio a ser enfrentado pelo governo Bolsonaro, que, em virtude da crise provocada pela pandemia do coronavírus, passa a ter uma proporção exponencial que irá exigir medidas urgentes e planejadas que visem tentar melhorar o atual quadro nos setores acima mencionados, sem, necessariamente, ter que contar com o crescimento da nossa economia. 

É fato que já vivemos momentos de crescimento econômico, e esse crescimento não foi capaz de melhorar a qualidade de vida da maioria da população marginalizada socialmente, ao contrario permitiu a continuidade e crescimento das mazelas que são provocadas pelas degradações e ineficiência dos serviços prestados nos setores destacados.

Esse fato lamentável passa a exigir do atual governo a elaboração de um plano de incentivos sociais com o objetivo de evitar o aprofundamento das desigualdades sociais, bem como a redução do aumento da pobreza. Parece-me que o governo Bolsonaro já planeja algo nesse sentido através da criação de um programa de “Renda Básica da Cidadania”. Espero que esse programa não se transforme em mais um programa de bondade que visa corromper eleitoralmente a população por ele atingida, como tem ocorrido em outros programas de cunho social com nítida vertente eleitoral a exemplo do programa “Bolsa Família” dos governos petista. 



Em virtude do não crescimento econômico previsto para os primeiros anos após o fim da pandemia, talvez fosse um caminho alternativo a realização de uma ampla reforma fiscal, em especial com o aumento de impostos aos bens de consumo mais caros, que iria contribuir para melhorar os recursos financeiros que serão aplicados para custear o plano de incentivos sociais a ser implantado.

Diante do fato da pandemia ter desarmado a economia mundial e assustado a todos, fica evidente que ela trouxe a necessidade de uma presença maior do Estado no amparo social, ou seja, na promoção do Bem Estar Social, em razão das evidencias diante das mudanças que irão ocorrer pós pandemia que deixou claro que as desigualdades irão aumentar, e que o aumento da miséria é uma possibilidade concreta. Percebo que estamos vivendo um momento onde as sociedades passam a perceber que esse modelo capitalista de lucros vultosos e de viés social excludente não pode mais perdurar. Essa mudança de paradigma social de cunho humanista, a meu ver, é extremamente positiva.

Essa reação da sociedade irá forçar os governos a reavaliar suas posições de que o mais importante em momentos de crise é fazer girar a economia, o que se mostrou um dilema falso, e essa pandemia revelou que o essencial é a adoção de medidas que visem à preservação da vida. Essa consciência das sociedades será determinante como fator de mudança de concepção da maioria dos governantes com relação à necessidade de crescimento de suas economias em detrimento do aumento das desigualdades entre as pessoas e a devastação do meio ambiente. 




Por fim, no caso específico brasileiro, entendo que se torna urgente repensar o nosso modelo democrático diante do enorme enfraquecimento das instituições representativas: Partidos políticos, Sindicatos e Movimentos Sociais Organizados em Geral, que após as manifestações populares que ocorreram a partir de 2013, sem a participação dessas “instituições representativas” que deixaram de serem os protagonistas das insatisfações e reivindicações da sociedade, a sociedade passou a não ver essas instituições como seus representantes, e expressam sua rejeição através do slogan “NÃO ME REPRESENTAM”. 

O enfraquecimento dessas instituições representativas, em especial os partidos políticos, associada ao descredito das pessoas com a classe política, coloca em cheque a legitimidade da democracia representativa, e trouxe como aspecto negativo a ampliação do espaço para o fortalecimento do líder populista extremista, tendo como contra partida a disseminação de uma militância radical, alimentada pelo ódio entre as correntes ideológicas radicais e extremistas, o que considero um preocupante retrocesso político e um obstáculo ao avanço da nossa democracia.

As instituições brasileiras a permanecerem em conflito, alimentado por vaidades, se enfraquecem e, consequentemente, enfraquece a nossa jovem e frágil democracia. A sociedade precisa interceder para que esse quadro não prospere e a esperança no avanço da nossa democracia esteja presente.


Amaury Cardoso

Blog de artigos: www.amaurycardoso.blogspot.com.br

terça-feira, 2 de junho de 2020

OS RISCOS DE UMA CRISE INSTITUCIONAL PROFUNDA. - ARTIGO: JUNHO/2020


“Quando um Estado tem suas instituições em situação de descrédito, começa a ruir toda a ordem institucional”. 

É preocupante o fato de constatarmos que o Brasil não se preparou para esse momento de pandemia, e se mostra vulnerável no setor econômico diante da declaração do ministro da economia de que “o país quebrou e que suas reservas não possui lastro”. O ministro Paulo Guedes, com essa declaração, passa uma insegurança para o mercado em razão de evidenciar a vulnerabilidade do país no campo econômico. 

Não obstante o fato de estarmos enfrentando uma crise econômica que tem tudo para se agravar, o país se encontra diante de uma crise institucional séria e preocupante face seus desdobramentos, pelo fato dos poderes da república não se entenderem e entrarem em conflito gerando uma crise política que só contribui para acelerar a crise econômica em nosso país, em virtude de inviabilizar o debate e aprovação, nas duas casas no Congresso, das importantes reformas: tributária, administrativa e política/eleitoral. 

O país está dividido no campo político, sem hierarquia e sem comando e isso é grave, principalmente, nesse momento de crise sanitária. As consequências desse acúmulo de crises para a população brasileira são severas levando ao aprofundamento da crise social, por ampliar as desigualdades em virtude do aumento do desemprego. 




É preocupante o fato de não se perceber, em curto e médio prazo, a possibilidade de haver um entendimento por parte das lideranças dos três poderes da república que levem a chegar a um consenso nas questões que são essenciais para amenizar os efeitos danosos no campo econômico e social pós-pandemia. Se as divergências no campo político e ideológico não forem deixadas de lado nesse momento em prol do país, as chances de se evitar um colapso econômico de grandes proporções serão pequenas. 

Há uma necessidade de se chegar a uma pauta mínima de medidas de consenso entre união, estados e municípios, caso contrário iremos enfrentar uma situação de casos de fome, onde milhões de pessoas não terão o essencial, e com isso se estabelecendo os ingredientes que levarão a uma desordem social de consequências imprevisíveis. 

A possibilidade de se chegar a uma situação que leve a desordem social, é um fator de extrema relevância que exige um movimento de união nacional entre os poderes institucionais, através do entendimento de que o que está em jogo é o destino de milhões de brasileiros que se encontram vulneráveis, muitos na marginalidade social, diante de um cenário de grande recessão pós-pandemia. 

A pauta de medidas deve priorizar um planejamento conjunto que vise amenizar os efeitos do alto índice de desemprego, a possibilidade de casos de desabastecimento, o socorro financeiro aos pequenos empreendedores e as micro, pequenas e médias empresas. 



A história universal tem registrado que a hora que as ruas se insurgem com críticas aos poderes de uma nação, esse é um forte sinal de que começam a aflorar o sentimento de revolta. É quando o povo não sabe a quem apelar e confiar. Esse desespero abre espaço para o surgimento de radicalismos, e casos de propostas de soluções extremadas passam a serem consideradas. Esse quadro favorece a uma situação de ruptura social, o pior que pode acontecer a uma Nação. 


O Brasil precisa urgentemente construir o seu grupo estratégico e, através dele, entender os efeitos da resseção mundial que já se instalou e como pensam os grandes monopólios financeiros espalhados pelo mundo e que não tem pátria, analisar seus impactos e construir um plano de ação amplo e robusto. Não o fazendo o Brasil irá sofrer um processo de desnacionalização de grande parte de suas empresas, com o risco da perda de sua soberania, se tornando um país servil diante dos interesses internacionais em nossas reservas. 

O governo brasileiro não pode continuar em estado de inação, sob o risco de colocar o nosso país em situação de alto risco diante do que virá pós-pandemia. Não havendo um gesto de grandeza dos líderes dos três poderes, a crise política, econômica e social brasileira continuará a avançar com fortes implicações geopolíticas regionais. 

Que as diferenças políticas, ideológicas e as vaidades sejam postas de lado e o espírito cívico e o bom senso prevaleçam!!! 


Amaury Cardoso 

Blog de artigos: www.amaurycardoso.blogspot.com.br

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