domingo, 9 de outubro de 2016

O ELEITOR FOI IMPLACÁVEL, E O RECADO FOI DADO COM O CRESCENTE DESINTERESSE EM VOTAR - ARTIGO: OUTUBRO/2016

Em vários momentos somos confrontados por fatos que nos remetem a tomada de decisões. É nesses momentos que somos testados com relação a nossa capacidade de admitir erros e de mudar de rumo. Se não o fazemos, e nossa decisão nos leva a perdas pelo fato de não cedermos ao excesso de confiança que nos leva a arrogância, pagamos o preço da nossa teimosia.


No campo político se constata que a recusa em aceitar evidências que revelam a falência do atual sistema político e eleitoral tem levado a nossa Democracia Representativa a descer ladeira abaixo. Este sintoma ficou claro diante da rejeição a classe política traduzida nos autos índices de abstenções, votos nulos e votos em branco.

Ao termino das eleições municipais de 2016, como vinha sinalizando, a sociedade confirmou que esta contra o sistema político-partidário em razão do elevado índice de abstenções, ou seja, o “não voto”.
Os eleitores promoveram uma derrota fragorosa à prática do coronelismo político, onde poucos “líderes partidários” escaparam da humilhação eleitoral em razão de apostarem em métodos ultrapassados.

A ineficiência administrativa e, sobretudo o crescimento da corrupção nos últimos anos, evidenciado principalmente pela operação Lava-Jato, fez com que o eleitor fosse implacável com o PT, que perdeu 60% das prefeituras conquistadas na eleição de 2012, e entre as capitais vencendo tão somente em Boa Vista, capital do estado do Acre. O PMDB foi outro partido que embora tenha se mantido a nível nacional como o partido com maior número de prefeituras, perdeu força eleitoral em importantes cidades, com destaque para o Rio de Janeiro.

Esta eleição evidência o abismo político entre a sociedade e a classe política, atingindo profundamente as instituições partidárias, implodindo os pilares dos grandes partidos, e confirmou, através do alto índice de abstenções, votos nulos e brancos, o desencanto da população com os rumos que a política tomou. É inegável a exaustão do atual modelo que sinaliza o prenúncio do que poderá ocorrer nas eleições de 2018 caso o Congresso não sinalize com uma reforma política e eleitoral a altura da expectativa da sociedade brasileira.

A descrença do eleitor transbordou e a insatisfação diante dos inúmeros casos de corrupção aguçou a rejeição a classe política. Aos que alimentavam a ilusão de que o voto estaria assegurado através da gratidão em virtude de uma gestão de grandes realizações, se surpreendeu com uma derrota eleitoral que em outros tempos não ocorreria. Ficou claro que o eleitor não perdoa expectativas não atendidas e comportamentos que firam o padrão de humildade e respeito.
Diante do resultado dessas eleições o recado foi dado. Cresce o desinteresse em votar!!!
                                                                                     
Amaury Cardoso


sábado, 8 de outubro de 2016

O PATRIMONIALISMO E A FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO - ARTIGO: SETEMBRO/2016.


O patrimonialismo no Brasil tem causado consequências profundas no processo de condução dos governos brasileiros. Partindo desta constatação entendo que uma das características que se espera que o Estado moderno desempenhe é o que diz respeito ao desenvolvimento de uma burocracia eficiente e transparente, destituída de interesses particularistas. No entanto, na realidade, e na visão de alguns estudiosos sobre o tema o que se constata é que o sistema político brasileiro continua a exibir traços patrimonialistas dentro dos quais tem se verificado a proliferação de mistificações auto justificáveis que permitem às classes políticas boicotar reformas que visem estabelecer um contrato social mais eficiente, constrangendo, desse modo, uma melhor distribuição da riqueza e a constituição de uma cidadania plena.

Nestas circunstâncias, os cidadãos de maneira geral descreem nas instituições políticas e nos gestores públicos e, consequentemente tentam negociar suas demandas diretamente com o “poder”. Assim, tendo em vista o imediatismo exigido pelas pessoas para o atendimento de suas necessidades essenciais, se cria um cenário para o ressurgimento de práticas políticas que inibem o desenvolvimento democrático. Uma dessas práticas é justamente o patrimonialismo.

Este tipo de prática estabelecido entre Estado e sociedade, em pleno século XXI, onde se continua a observar o uso do Estado e de recursos públicos por parte dos gestores públicos, como dispositivo de dominação e subserviência política. Estas práticas patrimonialistas criaram raízes culturais no Estado brasileiro, determinando a formação, desenvolvimento e o modo de funcionamento de nosso Estado e burocracia.

É evidente que esta prática não é nova, pois a prática patrimonialista remonta à época de Max Weber, quando elaborou as fórmulas de dominação existentes no sistema político. Para Sérgio Buarque de Holanda e Raimundo Faoro, existem três formas de dominação: 1- dominação legal; 2- dominação tradicional e 3- dominação carismática. Para efeitos deste artigo, enfatizo o significado e consequência do Estado moderno, dos resquícios de uma dominação tradicional, a qual se materializa na direção patrimonialista.

Destaco que este conceito se refere a uma estrutura política de relações sociais típicas, as quais se constituem no prolongamento dos poderes do patriarca familiar. De acordo com Max Weber, o patrimonialismo não conhece nem o conceito de competência, nem o de alteridade ou magistratura no sentido moderno, principalmente pelo fato de que o processo de apropriação da coisa pública num sentido familista se difunde. A burocracia, em geral, assume posições de gerenciamento da coisa pública e dos recursos públicos como se propriedade privada e familiar fosse.

O conceito de patrimonialismo é desenvolvido por Raymundo Faoro, um dos principais pensadores da política brasileira, que tem o entendimento que o atraso político brasileiro no ponto de vista da incorporação da sociedade civil, tem  a ver com a forma de estruturação da burocracia no país. Fruto do avanço sistemático do poder político no controle da economia e da diferenciação social, o patrimonialismo estatal destruiu a institucionalização dos direitos individuais.

Este conjunto de fatores da sociabilidade brasileira propiciou, segundo Sérgio Buarque de Holanda, o estabelecimento de quatro elementos que caracterizaram a organização social brasileira: ausência da tendência de autogoverno, a qual significava a ausência de solidariedade comunitária e de maneiras espontâneas de auto-organização política; virtudes inativas, ou seja, o ser social não reflete ativamente para transformar a realidade mas procura uma razão externa à sua existência; é razão reflexiva, a qual provoca um pensamento que impede rompimentos, sustenta uma consciência conservadora e um domínio dos interesses pelas paixões.

De acordo com essa concepção, a sociabilidade brasileira nasceu influenciada pela pirâmide familiar, tendo como fundamentos a organização patriarcal, a fragmentação social, as lutas entre famílias, as virtudes inativas e a ética da aventura. Originalmente, o caudilhismo e, posteriormente, o coronelismo, que implicava a existência de lideranças carismáticas, substituíam a racionalidade dos interesses individuais e estabeleciam a matriz sobre a qual a organização social e as fundações da política e do Estado foram delineadas.

Com efeito, na medida em que as relações afetivas ou familiares precederam a constituição do espaço público, o poder incorporou uma dimensão personalista em que o carisma-onipotente e a dependência do homem comum geraram uma atitude instrumental em relação à política.
A base da estrutura de atitudes e comportamentos políticos, neste tipo de sistema político, se dá num sentido pessoal. Desse modo, o patrimonialismo  produz uma práxis política dos representantes eleitos que somente se interessam pela sorte e bem- estar daqueles que dele dependem, pois desses grupos dependem sua sobrevivência política.

Quando o gestor público usa os recursos de maneira patrimonialista, a tendência à geração de figuras chamadas de “salvadores da pátria”.
No Brasil ainda persistem práticas de caráter patrimonialista, produzindo uma cultura política que mistura relações políticas de natureza pessoal com estruturas razoavelmente eficientes de mediação política.

A entidade privada precede sempre a entidade pública. O resultado é a prevalência de sentimentos próprios à comunidade doméstica, naturalmente particularista a antipolítica, uma invasão do público pelo privado, do Estado pela família, segundo a visão de Sérgio Buarque de Holanda.
Concluo com a afirmação de que nossas instituições públicas são tomadas pelos governantes como algo de interesse próprio, com finalidades pessoais e particulares, diferentemente do ideal da burocracia expressado por Weber.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

ULYSSES GUIMARÃES, UMA VIDA DE LUTA PELA DEMOCRACIA - ARTIGO: OUTUBRO/2016

Em 06 de outubro de 1916 nascia Ulysses Silveira Guimarães. Hoje o Brasil comemora os 100 anos de  Ulysses Guimarães, um político admirável e respeitado que deixou um grande legado, construído na sua trajetória política iniciada em 1947, quando se elegeu deputado estadual pelo estado de São Paulo, tendo sido eleito deputado federal em 1950, função que exerceu por 11 mandatos consecutivos, que deixou um grande legado.

Dr. Ulysses foi reconhecido como o líder da "Resistência Democrática", que derrubou a ditadura militar. O "Senhor Diretas ", ao liderar a campanha das "Diretas Já ", tendo sido o grande timoneiro da oposição à ditadura militar e o principal condutor do nosso país a retomada da Democracia, sendo fundamental a sua condução como presidente da Câmara Federal do processo de construção da Constituição Federal de 1988, que consagrou o avanço dos direitos sociais e libertários, assegurando a participação cidadã, com isso sendo reconhecido como o mentor da "Constituição cidadã".

Ulysses Guimarães é reconhecido como uma referência nacional, em razão de sua luta e seus feitos durante o processo da ditadura militar e da reconstrução do processo democrático em nosso país.


Ulysses Guimarães pregava que a política não se faz com ódio, pois não é função hepática. É filha da consciência, irmã do caráter, hóspede do coração. Eventualmente, pode até ser açoitada pela mesma cólera com que Jesus Cristo, o político da Paz e da Justiça, expulsou os vendilhões do tempo. Nunca com raiva dos invejosos, maledicentes, frustrados ou ressentidos. Sejamos fiéis ao Evangelho de Santo Agostinho: Ódio ao pecado, amor ao pegador. Quem não se interessa pela política, não se interessa pela vida...

Defensor ferrenho da Democracia, foi, também, intransigente contra a corrupção, onde afirmava: "Não roubar. Não deixar roubar. E colocar na cadeia quem rouba..."
A política de hoje, desacreditada por falta de escrúpulos morais e éticos, prescinde da presença no cenário político contemporâneo da figura firme, corajosa, integra e implacável contra a prática da má política de Dr. Ulysses.

Para mim tem sido um privilégio presidir, desde 2011, a Fundação Ulysses Guimarães do Estado do Rio de Janeiro, uma experiência que tem me enriquecido politicamente, por ser uma entidade que tem como principal finalidade o compromisso de levar conhecimento e capacitação política a todos os cidadãos, por entender que só o conhecimento e a educação libertam e constrói cidadania.

A SOCIEDADE ESTÁ REJEITANDO O ESTABLISHMENT POLÍTICO ALHEIO AO INTERESSE GERAL. - Artigo: Março/2024

O mundo contemporâneo tem nos revelado que as coisas ficam complicadas no trato do campo político, em que a dimensão de significado e interp...