sexta-feira, 7 de março de 2008

ECONOMIA EM MARCHA LENTA: A CRISE GLOBAL BATE À PORTA - ARTIGO – Mai/2012

É sabido por todos que a vida dá muitas voltas, mas, às vezes, mais rápido do que se pode esperar. Em artigo publicado em março deste ano, sob o título ”Pensar em Economia é Pensar Além das Aparências”, tentamos mostrar que o tão decantado “Novo Milagre Econômico” é muito mais ficção do que realidade; que os números divulgados sobre o PIB nacional, naquela época, escondiam sórdidas realidades.

Em menos de 60 dias após a sua publicação, os recentes fatos econômicos mostram que, infelizmente, estávamos certos. Digo infelizmente, porque como brasileiro gostaria que uma economia fortalecida propiciasse prosperidade, um futuro digno e seguro para todos os meus irmãos brasileiros, mas, pelo que se pode verificar, vou ter que esperar um pouco mais para ver isso acontecer.

A economia brasileira, ao contrário do que propalava o governo, entrou em marcha lenta, mostrando que a crise global bate à porta e chega cada vez mais perto. No primeiro semestre de 2012, o nosso ritmo de crescimento econômico só chegou a medíocres 1.9%. Se dividirmos o PIB por setor econômico, vemos um quadro dramático, na indústria à queda foi de 10,5% para 0,7%; na agricultura de 6,3% para 0,8% e no setor de serviços foi de 5,7 para 2,1%, isso no acumulado dos últimos 12 meses. Contrariando o afirmado pelo governo, vemos que o Brasil não está tão imune à crise internacional quanto querem fazer parecer. O que é mais que natural, tendo em vista que num mundo globalizado, as economias são interdependentes e, portanto, o enfraquecimento é mútuo face a qualquer crise.

O que se pode notar claramente é que todos os elementos formadores do PIB nacional entraram em marcha lenta, mas o mais perverso de toda essa história é que os investimentos e a poupança também decaíram, sendo que no caso específico da indústria a situação é muito delicada, pois nem com medidas protecionistas, transferências de dinheiro subsidiado e queda de IPI para os produtos da chamada “Linha Branca”, houve uma retomada, isso sem contar que a Indústria de Bens de Capital, responsável pela independência industrial de uma nação, no Brasil de hoje encontra-se literalmente morta, pois somos o paraíso da maquinaria chinesa, de baixa qualidade e pouca tradição no ramo, o que colabora ainda mais para o nosso fraco desempenho industrial. A indústria automobilística, que sempre serviu de parâmetro para avaliação da indústria nacional, também está devagar, pois embora tenha havido uma redução acentuada dos juros para o financiamento de automóveis, houve um grande aumento do valor exigido como entrada, o que levou a uma retração das vendas. O interessante é que os dados divulgados pelas Confederações Industriais contrastam com aqueles divulgados pelo IBGE, que afirma ter havido um crescimento no setor industrial. Mas pela queda no ritmo da economia, não é difícil saber quem tem razão, ainda mais levando-se em conta a queda na demanda por commodities, que reduz a nossa captação de divisas externas.

A queda do PIB agrícola, deve-se, claro, a fatores climáticos, mas a do setor agropecuário é resultado direto da crise internacional que levou a uma sensível diminuição nas exportações do setor.

Espera-se uma retomada dos níveis de consumo no segundo semestre, como um resultado das medidas governamentais de favorecimento da indústria mencionadas acima, contudo, essa porta da esperança para o industrial brasileiro esconde uma engenhosa armadilha: o nível de endividamento das famílias, que já compromete 20%, e em muitos casos até 30% do orçamento familiar, o que aumenta em muito o risco de insolvência financeira e as inevitáveis dificuldades para a concessão de crédito, por parte das instituições financeiras, o que pode comprometer em termos de eficácia, as medidas que abririam caminho para uma recuperação do nosso vigor industrial com reflexos expressivos no nosso nível de crescimento, pois esses fatores complicadores engessam o governo que fica sem a necessária faixa de manobra para promover ajustes que pelo menos contornem essa situação.

O setor bancário/financeiro, que até o início do ano pensava que Deus é brasileiro, pelos extraordinários lucros obtidos, até mesmo com o menos expressivo crédito rural, vem refazendo as suas previsões e já mostra o abalo na sua fé num crescimento maior do que 2,3%, colocando o patamar de 2,5% como um teto dificílimo de ser alcançado, e dá sinais de inquietude, pois a aventada aquisição do Banco Santander pelo Bradesco é um péssimo sinal quanto à credibilidade do setor entre os investidores estrangeiros. As previsões mais pessimistas apontam para uma taxa de 1,5% e olhe lá.

A queda no investimento governamental, que deveria ser a alavanca do nosso crescimento estagnou, pois de algum lugar tem que sair o dinheiro para financiar os faraônicos programas assistencialistas do governo, e o fraco investimento privado está vinculado à capacidade ociosa da indústria, causado pelo desaquecimento da economia como um todo, com uma ajuda adicional da recente alta do dólar que caiu como uma bomba destruindo o planejamento de custos da indústria, considerando-se todas as variáveis que interferem no desempenho dos vários setores que a compõem, pois o que é preciso ter em mente é que a alteração desse quadro desfavorável não cabe aos pacotes ou a quaisquer outras medidas tomadas pelo governo, mas depende de uma revitalização da conjuntura econômica mundial, que passa por uma grave crise que, ao que tudo indica, está ainda longe de acabar.

Já no nosso artigo de março, pontuamos que o crescimento brasileiro havia sido o menor entre os BRICS, e agora não é diferente, pois a política dos governos atual e anterior de aumento dos gastos com a máquina pública, pela criação de mais de 3000 novos cargos, isso sem contar os já citados programas assistencialistas, que absorvem um montante de recursos importantíssimos para a realização dos investimentos governamentais vitais para alimentar a locomotiva do crescimento, que, conforme dissemos acima, continuam em acentuada queda, além do nosso secular atraso na educação em todos os seus níveis, principalmente no básico, por absoluta falta de uma destinação de verbas adequada à sua recuperação, fato que vai nos distanciando dos países líderes do BRICS, que embora estejam também afetados pela crise que assola o mundo, tentam manter os níveis de investimento neste setor por perceberem que só através das educação é possível se atingir um estágio de desenvolvimento pleno e independente. Muitos se iludiram pensando que os BRICS seriam imunes à crise, mas no seu infundado otimismo se esqueceram que no mundo globalizado não existem compartimentos estanque que isolem as economias umas das outras, principalmente em tempos de dificuldade, pois um dos pilares do processo de globalização é a interligação de toda a cadeia econômica dentro e fora das fronteiras geográficas nacionais.

O futuro do nosso desenvolvimento torna-se cada vez mais incerto. Quem pode dizer até quando seguiremos em marcha lenta, com a crise transpassando a nossa porta e cada vez mais distantes do nosso tão sonhado desenvolvimento pleno que assegurará às futuras gerações de brasileiros um destino de grandeza que vocaciona esta grande nação.

Amaury Cardoso

E-mail: amaurycardosopmdb@yahoo.com.br

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