sábado, 5 de janeiro de 2013

ESTÍMULO AO CONSUMO – A FALÊNCIA DE UMA ESTRATÉGIA - Artigo Janeiro/2013


Com a recente divulgação do pífio resultado do PIB relativo ao terceiro trimestre desse ano, que cresceu acanhados 0,6%, segundo o IBGE, algumas previsões que fizemos em artigos anteriores (“Pensar em Economia é Pensar Além das Aparências” e “Economia em Marcha Lenta: A Crise Global Bate à Porta” publicados em março e maio deste ano, respectivamente) foram categoricamente confirmadas, pois o desacerto do governo é evidente por não conseguir nem manter o nosso crescimento econômico, nem controlar a inflação que ainda está longe de voltar ao centro da meta considerada segura pela equipe econômica da presidente Dilma.
A economia de um país forma um todo orgânico, semelhante ao corpo humano, onde as várias atividades econômicas correspondem aos órgãos e tal qual o nosso corpo, são afetados por perturbações que lhe afetam a integridade e o bom funcionamento. Quando fazemos um “Check-Up” buscamos avaliar a nossa saúde física através de um diagnóstico, assim como na economia, o PIB é o diagnóstico da nossa saúde econômica. Se cresce, e gera renda e riqueza, a economia da nação vai bem, mas se ocorre o contrário é sinal que esse todo orgânico sofre de algum mal que pode ser má distribuição de renda, alta inflacionária, aumento dos juros, baixa produtividade na indústria e agricultura, etc.
Portanto, os números do último PIB são claros exemplos de que os males da nossa economia ainda estão longe de serem curados. E pior, os remédios utilizados não produzem os efeitos desejados e agravam outros sintomas do nosso descompasso econômico.
O estímulo ao consumo foi o carro-chefe dessas medidas salvadoras adotadas pelo governo, e cuja eficácia mostrou-se bem aquém das expectativas porque não blindou o país da crise internacional, apenas minorou-lhes os efeitos por certo tempo, provocou um aumento do consumo sem lastro na produção e distribuição de riqueza e renda, provocou o endividamento das famílias, pois juros baixos com maiores prazos para financiamento levaram as pessoas a gastarem mais do que podiam, comprometendo mais de 44% da sua renda familiar, e por fim, provocaram uma inflação de demanda que simplesmente impediu que o índice inflacionário caminhasse para o centro da meta.
Outro grave problema da desoneração de determinados produtos com a redução de IPI, parte dessa política de estímulo ao consumo, foi a queda no repasse de verbas federais para os estados, alterando o equilíbrio do pacto federativo pela não criação, embora isso tenha sido prometido, de mecanismos de compensação de perda de receita, o que poderia ter se dado se houvesse no Brasil um mercado interno forte, pelo ressurgimento de uma nova classe média escorada num aumento da produtividade econômica da nação e não pela entrada no mercado consumidor de pessoas que passaram a ter renda advinda do assistencialismo governamental bancado justamente pelos setores produtivos da sociedade; tendo que haver também uma reforma fiscal séria e efetiva, que diminuísse o número de impostos para os promotores das atividades econômicas, aí sim lastreada por uma política de juros baixos e crédito facilitado, bem diferente do que ocorre agora, porque muito pouco foi feito para eliminar essa grande barreira aos investimentos, que é a complexidade tributária na qual vivemos.
Claro que além dessas razões existem outras que colaboraram para a queda do nosso crescimento, como o aumento da despesa do governo com a criação de mais de 3000 cargos desde o governo passado, o aumento dos programas assistencialistas que deram renda a milhões de brasileiros, porém sem que essa renda produza riqueza para a nação, onerando os setores produtivos do país; a queda da demanda internacional pelas commodities, o que desfavoreceu a nossa balança comercial, os subsídios governamentais aos combustíveis, o que ainda impede uma alta inflacionária muito maior e mais perigosa que a atual, entre as principais que podemos citar.
Mas o pior resultado desse mau gerenciamento da economia brasileira é, sem dúvida, a falta de investimentos nos nossos setores produtivos. Nossa indústria já amarga à perda de mais de 7000 postos de trabalho desde o último trimestre. A dependência do exterior em relação à indústria de Bens de Capital, ou seja, as máquinas que fazem máquinas, é quase que absoluta, sem qualquer previsão de um programa de incentivo à recuperação desse setor vital para o desenvolvimento nacional pleno. Tal se reflete no custo de produção dos nossos bens industrializados, onerados pelas necessidades de importação e condenados ao atraso tecnológico pelo não desenvolvimento ou não transferência de tecnologia de ponta. O eterno gargalo da educação, particularmente relativo às disciplinas diretamente ligadas ao desenvolvimento da tecnologia (matemática/física e química) pode comprometer o futuro do país por absoluta incompetência no gerenciamento da questão educacional no Brasil, e não somente pela falta de recursos para serem investidos nesse setor.
Há que se entender definitivamente que sem investimentos não há crescimento sólido nem duradouro. Quanto mais elevada a taxa de investimentos, quer sejam eles públicos ou privados, nacionais ou estrangeiros, maior o crescimento alcançado. O Brasil, apesar desse tão decantado “Novo Milagre Econômico”, investe muito pouco e, portanto, cresce proporcionalmente a esse investimento, pois, a guisa de ilustração, a China investe cerca de 40% do seu PIB para manter uma taxa de crescimento econômico variando entre 8% e 9% ao ano, o que torna mais do que evidente que o investimento é o combustível do crescimento econômico.
Os mesmos dados do IBGE que revelaram a queda no nosso PIB revelam que os investimentos estão em queda há nove trimestres consecutivos, ou seja, quase um ano e meio!
Se formos falar em investimentos na infra-estrutura do país, aí temos uma situação simplesmente dramática. É ínfimo o investimento na nossa rede de ferrovias, o que baratearia o frete num país continental com forte impacto no “Custo Brasil”. A nossa rede portuária, apesar de grande, é ineficiente em face de outros terminais portuários do resto do mundo, como Antuérpia, Valparaíso, Callao ou Roterdã, tanto em equipamento quanto em custos o que onera os produtos que vem pelo mar, sendo que o mesmo se aplica aos setores aéreo e de navegação fluvial. De tudo isso resulta a perda de competitividade dos nossos produtos para exportação e a oneração das nossas importações, principalmente no que toca aos inúmeros componentes importados essenciais a nossa atividade industrial. Não existe avanço duradouro sem infra-estrutura, sem formação e oferta de mão-de-obra qualificada para a ampliação da nossa agropecuária e indústria já existentes e para a instalação de novas plantas industriais que nos garantam um aumento na produtividade e conseqüente maiores competitividade em mercados cada vez mais disputados, incluindo-se aí o nosso mercado interno.
Diante disso, é notório que vivemos um esgotamento da nossa capacidade de crescimento, não por carências de recursos econômicos, mas pelo seu equivocado gerenciamento, que limita o ideal aproveitamento desses recursos, inclusive os humanos, e travam o nosso crescimento econômico e social.
Os escândalos de corrupção protagonizados desde o último governo, também têm um peso imenso nessa redução de investimentos, principalmente do capital estrangeiro, pois eles são indicadores de instabilidade e pouca confiabilidade nas nossas instituições políticas, que gera mal-estar nos potenciais investidores em relação ao país e aumenta o chamado “Risco Brasil” causando uma retração nos investimentos externos na nossa economia.
Por último, destaco a visão de importantes especialistas em economia, dentre estes Armínio Fraca, ao afirmarem que “A política econômica que se esboça nos últimos anos é de cunho intervencionista, não prevê reformas, e já não funcionou durante a ditadura militar”, o que diante dos resultados da nossa política econômica me parece ser um entendimento correto.
É preciso traçar políticas públicas que restituam a confiança aos mercados, tornando o país atrativo para os investimentos privados internos e externos, com um gerenciamento dos recursos públicos direcionando-os para serem investidos nos gargalos que entravam a nosso desempenho econômico, conforme dita os princípios de eficiência e eficácia gerenciais que caracterizam uma gestão moderna, ao contrário das atuais ações governamentais evasivas e contraditórias que abalam cada vez mais essa confiança que nos é imprescindível recuperar.
Para 2013, desejamos que sejam tomadas as medidas corretivas necessárias para fazer a Locomotiva-Brasil voltar a avançar a pleno vapor, pois é fato que a política de estímulo ao consumo, da forma como vem sendo executada, representa a falência de uma estratégia que arrasta no seu fracasso toda uma perspectiva de desenvolvimento e estabilidade econômicos e de um futuro digno e próspero para todos os brasileiros.

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