Me impressionou o artigo “Atravessados no mundo real” da escritora Rosiska Darcy de Oliveira, onde destaco o trecho: “A internet permeia de tal modo o cotidiano que é possível que o processo de adaptação esteja em curso. Estaríamos “evoluindo” para uma capacidade cada vez maior de conseguir informação fragmentada e desconexa. Na ânsia do aqui e do agora, temos acesso a tudo e não entendemos quase nada. Mais informação e menos emoção. E, sobretudo, pouca reflexão. A internet estaria induzindo a um pensamento raso”.
O acesso a toda a informação existente, em tempo real, proporcionado pelo extraordinário avanço tecnológico no campo da informação, sem deixar de reconhecer sua enorme importância, chegando a admitir que a nossa sociedade e suas futuras gerações não saberiam viver sem os seus “benefícios”, me remete ao sentimento de que avançamos o estágio de estarmos desconectados, como seres humanos, uns dos outros.
Temos muitos “amigos” nas redes sociais, contudo, poucos escolhidos pelo afeto através de relacionamento interpessoal. O mais grave é que na própria célula familiar, seus membros passam a maior parte do tempo, quando estão em casa, em contato com a internet.
Uma quebra da intimidade, alimento necessário para o sustento de um relacionamento pessoal. Essa nova realidade que o mundo contemporâneo enfrenta, através da Tecnologia da Informação (T. I), é o grande enigma deste século.
As grandes redes sociais e demais instrumentos que a mídia eletrônica oferece, dão à impressão de que os relacionamentos humanos foram dinamizados, que as relações entre as pessoas foram ampliadas com a redução das distâncias, que é impossível sentir-se só. Entretanto, esta sensação não corresponde à realidade.
As pessoas têm um imenso medo de se relacionarem frente a frente, pois o celular, o computador e os outros meios de comunicação virtual, agem como barreira à verdadeira troca de experiências que possa gerar um vínculo afetivo que só o contato pessoal constrói.
Todo este processo é matriz de uma tremenda solidão coletiva, que podemos exemplificar através dos casamentos via internet, que são a versão ocidentalizada dos casamentos realizados dentro das tradições culturais dos povos orientais, particularmente os indianos e árabes, onde os nubentes só se conhecem no dia do enlace, sem qualquer convívio prévio que possibilite o estabelecimento de um mínimo de afinidade entre eles, porém o que salva a cena é a força da cultura, que num processo de elaboração, via contato pessoal, às vezes milenar, proporciona os mecanismos de convívio mútuo que garantem o sucesso destas uniões.
O homem está passando a ser um animal social “virtual” e até nos seus afetos dependente da tecnologia, de um modo que nem George Orwell, no seu famoso livro “1984”, com o seu “Big Brother”, pôde imaginar. Somos uma síntese de comodidades ofertadas pela tecnologia moderna, que vão desde o controle remoto até as mais requintadas ferramentas de intercâmbio pessoal.
A tecnologia, ao mesmo tempo que constrói pontes com o mundo, erige muros em torno de nós mesmos; ao mesmo tempo que nos põe em contato com o outro lado do mundo, nos isola do nosso vizinho de porta; ao mesmo tempo que nos faz conhecer toda a fronteira dos E.U.A. com o México, nos torna incapazes de sabermos os limites do bairro em que vivemos.
As próprias condições de utilização da internet já sofreram a influência das redes sociais, pois o e-mail já está caindo em desuso, porque essas redes oferecem uma gama imensa de serviços complementares que permitem ao usuário jogar, ler e consumir uma infinidade de produtos disponibilizados, condicionando a nossa vida, nos mínimos detalhes a este “Big Brother”, quer ele seja Orkut, Facebook ou Twitter.
É a mentira da aldeia global, na verdade crua do isolamento pessoal, pois de acordo com o artigo publicado na “Revista O globo” de 24/07/2011, a empresa de antivírus Norton, em recente pesquisa, apurou que o Facebook é uma das principais causas de divórcio nos Estados Unidos atualmente, o que vale dizer, que além de reduzirem os relacionamentos interpessoais de um modo geral, as redes sociais representam um poderoso motivo da dissolução dos relacionamentos desse tipo já existentes, pela exagerada exposição da intimidade das pessoas na internet, o que leva à transformação da vida pessoal dos indivíduos pela criação de um novo código de conduta, ditado pela dinâmica das redes sociais que sobrepõe o virtual ao real, como pontua o psicanalista Joel Birman, as relações, principalmente amorosas, nos tempos de redes sociais são mais impessoais.
É necessário observar que com o advento da sociedade mediática, a cultura foi violentamente modificada, criando-se uma similitude de experiências e imagens, causando esse fato um processo de homogeneização cultural que foi a base do processo de globalização. Paradoxalmente, é nesse contexto que surge os movimentos de afirmação das minorias que, lutando por seus direitos, exigem respeito à diversidade, exercendo pressões sociais cada vez mais evidentes.
É importante ressaltar também que com a imensa quantidade de informações despejadas, é praticamente impossível ao indivíduo processá-las e compreendê-las em sua totalidade, havendo dessa forma a tendência natural de se selecionar as informações, dependendo de cada área ou grupos, de acordo com seus interesses particulares. De qualquer forma, é indiscutível que hoje as mídias exercem cada vez mais influência na vida dos cidadãos e dos países, como também e, principalmente, nas relações pessoais.
Nem o douto psicanalista e nem ninguém pode, neste momento, arriscar qualquer palpite coerente sobre qual tipo de relacionamento teremos, em todos os níveis, num futuro não muito distante, contudo, podemos ter certeza de que nada mais será como antes e que a tendência generalizada será a radical diminuição da presença física das pessoas em seus relacionamentos, a inevitável troca do real pelo virtual, do conteúdo pela forma, do essencial pelo superficial, com todo o empobrecimento de alma que tudo isso traz.
Conectado a milhões de pessoas pelas redes sociais, o ser humano será cada vez mais presa de um enorme vazio que nem a tela do computador ou o display do BlackBerry podem preencher. Será que vamos nos tornar autômatos até na maneira de lidar com nossos semelhantes? Será que o controle remoto das relações virtuais, o mouse do computador, é que definitivamente determinará com quem, quando e como nos relacionaremos?
Estas são perguntas que só o tempo irá responder.
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