PONTO DE VISTA.
A irresponsabilidade com o meio ambiente e o clima há muito ultrapassou o limite da insensatez. Após reduzidos avanços alcançados na conferência de Kyoto, em 1997, onde foram estabelecidas metas de redução de emissões para países industrializados, cujos resultados pífios deveram-se, principalmente, a postura do governo dos EUA, que se recusou a ratificar a acordo. Sem o compromisso Norte Americano (Governo Bush) de participar e apresentar metas, assumindo compromissos de redução de CO2, fica difícil imaginar um acordo abrangente e efetivo, por ser a maior economia industrial do mundo.
As sociedades do passado viveram em um planeta pouco populoso e com abundância de recurso. A nossa sociedade, hoje, precisa compreender que a forma com que estamos tratando nosso planeta, com violentas agressões à natureza, começa a causar transformações que permanecerão, e se agravarão, para as sociedades futuras, que contarão com um número muito maior de pessoas e um número muito menor de recursos naturais disponíveis, e a água e o alimento serão escassos.
A história pode se repetir em Copenhague, com a decisão de líderes de países desenvolvidos, entre eles os EUA e a China, justamente as duas nações mais poluidoras do planeta, que sinalizam em não assumir nenhum compromisso concreto sobre metas de redução de gases causadores do efeito estufa, o que se confirmando será um desastre, cujas conseqüências para o futuro da humanidade serão imprevisíveis e irreparáveis.
A razão da recusa sino-americano em assumir compromissos ambientais reside na própria natureza do capitalismo, de cunho hedonista, ou seja, a busca do máximo de lucro com mínimo risco e no menor tempo possível. Considerando que compromissos ambientais obrigarão a um grande investimento em filtros e outros equipamentos para se evitar a poluição, teme-se que com isto, as indústrias sediadas nestas nações “migrem” para outras com legislações ambientais mais flexíveis e permissivas, enfraquecendo suas já combalidas economias pela recente crise internacional.
O lucro, alma do capitalismo, tem natureza egocêntrica e imediatista, só pensando em si próprio, e não no futuro do planeta.
É importante frisar que a China se inclui neste rol capitalista por que embora este país mantenha uma estrutura política comunista, a sua economia, já há mais de uma década pelo menos, está longe de ser aquela planificada típica dos estados socialistas, uma vez que aderiu à economia de mercado e livre concorrência, característica dos países capitalistas. O encontro de Copenhague deveria ser considerado como uma oportunidade única para as principais nações do planeta firmarem compromissos concretos para proteger o meio ambiente e estimular uma economia ecologicamente sustentável com investimento no desenvolvimento de energia limpa.
Como entender que a ganância financeira, a busca do desenvolvimento a qualquer preço, sem limites, cujo único objetivo é o de preservar e, se possível, ampliar o seu domínio sobre os seus países periféricos, chegue à irracionalidade de continuar agredindo a natureza que nos fornece o alimento e a água que nos sustentam e mantém o clima estável.
À medida que a população mundial cresce, os recursos naturais tendem a tornarem-se incapazes de responder as nossas demandas, principalmente por alimento.
Se quisermos alcançar um mundo mais sustentável, precisamos assumir nossa responsabilidade por mudanças climáticas. Está mais do que provado, que já começamos a sentir os seus efeitos, que a mudança do clima representa uma ameaça ao futuro e à preservação da humanidade.
As conseqüências do aquecimento já são bastante significativas, com redução da produção agrícola nos trópicos, secas freqüentes, agravamento da escassez da água, aumento das ondas de calor e incêndios florestais, inundações, sobretudo nos países mais baixos. É absolutamente urgente que os líderes mundiais encontrem uma solução para impedir o avanço das agressões ao nosso planeta.
Como trabalhar esta questão quando a ganância pelo lucro e domínio econômico predomina. As economias são baseadas quase que inteiramente na queima de combustível fóssil. Para reduzir emissões, esses países “dominantes” precisam fazer uma transição da matriz energética e alterar o padrão de consumo. O que me parece é que não estão dispostos a enfrentar a sociedade de consumo, que formam e alimentam, da qual fazem parte.
As estatísticas globais mostram que 80% das emissões mundiais de gases estufas são provenientes da queima de combustível fósseis, principalmente nos países desenvolvidos. Mas 20% vêm do chamado uso da terra, do qual o desmatamento é a maior fração. Segundo relatório do painel intergovernamental de mudanças climáticas da ONU, mesmo com a diminuição considerável da queima de combustíveis fósseis pelos países desenvolvidos, sem que haja redução do desmatamento, o mundo não conseguirá deter a elevação da temperatura média do planeta em dois graus Celsius. Caso o aumento da temperatura venha ultrapassar os dois graus, as conseqüências, segundo especialistas, do aquecimento são consideradas catastróficas.
Os países dominantes precisam entender que a transição para uma economia mais sustentável não significa sacrificar o crescimento ou cercear as suas aspirações de se manterem ricos.
O Brasil, diante desse quadro, tem, nesse momento, a oportunidade de consolidar sua reputação de potência ambiental, expandindo sua matriz energética sustentável e seu monitoramento da Amazônia e outros biomas, como o cerrado, aperfeiçoando novas formas de cultivo e pecuária.
Temos verificado através da mídia a existência de uma posição de cunho ideológico, que defende que o Brasil não deve assumir um ônus que não lhe cabe, por não ser um dos principais responsáveis pelos principais problemas que o mundo enfrenta. Percebemos, por outro lado o receio de parte significativa do governo brasileiro, de que ao assumir um compromisso ousado o país possa estar comprometendo seu potencial de crescimento, o que inclusive gerou confrontos que levaram as mudanças ministeriais. Percebemos, também, que economistas clássicos acham que o crescimento só pode ser feito à custa de mais energia de alto nível poluidor, como o carvão e petróleo.
Diante de sinais cada vez mais dramáticos de que o tempo para adotar medidas impeditivas do avanço das agressões ao meio ambiente se esgote, políticos e líderes de vários países preferem discutir prazos menores, relutando encarar a grave situação ambiental que se acelera em nosso planeta. Governos discutem trocam acusações e o impasse se instala entre os líderes das nações ricas e dos países em desenvolvimento sobre os cortes a serem adotados, se estendendo por tempo demais o que dificulta a oportunidade de se aprovar, em Copenhague, um protocolo diplomático formal para substituir o de Kyoto.
PS: Ao tempo da conclusão deste artigo, fomos surpreendidos com as notícias, publicadas no dia 25/11/2009, que declaravam que os líderes dos EUA e China resolveram participar do Encontro de Copenhague, com posições mais flexíveis, apresentando metas mais definidas e claras de redução de CO2 até 2020, em 17% e 40% respectivamente. Mais uma vez se confirma à máxima marxista de que o homem é capaz de consertar todo estrago por ele cometido.
Amaury Cardoso.
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