PONTO DE VISTA.
Não é a primeira vez que falamos sobre a China em nossos artigos, mas, dada a atualidade do tema e o impacto que o crescimento deste país tem sobre todo o resto do mundo, seremos obrigados, mais uma vez, a comentar a respeito deste antiqüíssimo país, que já foi um dos maiores e mais fortes impérios da terra e agora ressurge com toda a pujança e grandeza que teve outrora, em pleno século XXI.
Não resta a menor dúvida que dos países emergentes, chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), a China é o país deste grupo que já atingiu um estágio de desenvolvimento econômico e social que permite classificá-la como país desenvolvido, com tecnologia de ponta e que, apesar de não ter ainda logrado um padrão de vida elevado em áreas do interior do país, possuí IDH bastante alto e disputa mercados com os produtos ocidentais em todos os continentes.
Evidentemente, o crescimento chinês tem impacto global, mais particularmente sobre os E.U.A, país que após a extinção da União Soviética se tornou a única superpotência existente e a nação mais próspera da terra. As relações sino-americanas são um verdadeiro exemplo do que se pode definir como contradição. Se por um lado os americanos são os maiores compradores dos chineses, estes são os maiores financiadores do déficit americano; a desvalorização forçada do Yuan, em que favoreça o controle da inflação nos Estados Unidos, não ajuda na sua recuperação econômica, uma vez que coloca os produtos chineses numa faixa de preço que os produtos americanos não podem competir, principalmente num momento de crise imobiliária e financeira, que redesenham o perfil do consumidor americano, que passa a buscar produtos com uma relação custo-benefício mais favorável ao seu bolso, deixando o patriotismo de lado e caindo nas garras do “Made in China”, justo no momento em que deveria fortalecer a sua indústria nacional de modo a promover a recuperação da economia do seu país. No ano passado o PIB chinês cresceu 10%, ultrapassou o Japão como a segunda maior economia do mundo e já começa a ser uma sombra temível para o Tio Sam, passando a brigar com os americanos na produção de alta tecnologia em mercados tradicionalmente dominados por eles, como no caso da União Européia.
Portanto, em que pareça uma boa relação para ambas as partes, não é bem assim que funciona, pois os EUA não conseguem recuperar seus empregos na indústria, o que poderia ser ajudado por uma pequena valorização do Yuan e pela boa vontade chinesa em comprar mais produtos americanos, como fez com outros países emergentes que tiveram suas economias puxadas pela locomotiva chinesa ávida de matérias-primas e de outros itens por eles produzidos.
A pergunta que nos fazemos é a seguinte: Dentro desse panorama chinocêntrico que se desenha no horizonte, como fica a situação do Brasil nesse duelo de titãs pela hegemonia mundial?
Em que pese o crescimento da economia brasileira, o desafio chinês é bastante complicado para o Brasil, principalmente no setor industrial. O detalhe é que esse desafio não é apenas nos ramos de eletrônicos, automobilístico e nas comodities, mas, particularmente no principal setor da indústria que torna um país rico e poderoso, ou seja, o setor de bens de capital, aquele que produz as máquinas que fazem máquinas, sendo justo neste ponto que a concorrência chinesa torna crítica a situação do Brasil, pois se antes nossa indústria de máquinas operatrizes mantinha fábricas até mesmo fora do Brasil, como foi o caso das Indústrias Romi no México, hoje este mercado, que é a base da produção industrial de qualquer país, está totalmente sob o domínio chinês, com a indústria nacional muito reduzida, para não dizer inexistente, o que dificulta e muito o ingresso brasileiro no rol dos países desenvolvidos, pela dependência das importações no setor e pelo atraso tecnológico.
Ainda existem dados mais alarmantes, pois uma em cada quatro empresas brasileiras sofre grandes prejuízos pela concorrência chinesa e 45% das indústrias nacionais já perderam participação no mercado interno, para suas concorrentes chinesas, que além de terem uma alta competitividade pelo volume de produção e pela já mencionada desvalorização artificial do Yuan, já contam como um diferencial de qualidade, que as colocam em igualdade com qualquer país do primeiro mundo.
Isso sem contar que a China derrubou as exportações brasileiras, inclusive no setor agrícola, se tornando, ainda, fornecedora de vários insumos indispensáveis a importantes e diversificadas áreas da nossa produção industrial.
Para enfrentar esta delicada situação, metade das empresas brasileiras, felizmente, já tem uma estratégia definida, sem qualquer iniciativa do governo nesse sentido, para enfrentar o poder de fogo do Dragão Chinês, ou seja, o industrial brasileiro, habituado a reinar e lucrar soberanamente no seu mercado, hoje tem consciência de que para sobreviver precisa investir uma parcela muito maior do que gostaria do seu lucro na diversificação da produção, na modernização do parque industrial, em pesquisa de novas tecnologias, na verticalização da produção, na formação de mão-de-obra qualificada e na sua atualização, principalmente, nos ramos têxtil, metalúrgico, calçadista e, acima de todos, no de bens de capital. O pior é constatar que à avalanche chinesa que caiu sob nossas cabeças, não corresponde uma entrada proporcional dos nossos produtos industrializados no imenso mercado chinês, pois a participação e, pior, a previsão de uma participação nossa nesse rico filão de mais de um bilhão e quatrocentos milhões de consumidores reais e potenciais dos mais variados produtos é desalentadora, tendo em vista que 90,4% das empresas nacionais não produzem e não pretendem produzir na China, muito em função de se sentirem inviabilizadas pela falta de incentivo governamental no seu caminho em busca do oriente amarelo.
No nosso entender, s.m.j., o governo brasileiro deve procurar um alinhamento com outras nações que também sofrem com a mesma avalanche chinesa, de modo a equilibrar a balança, concedendo incentivos, através de subsídios, para que nossos produtos também tenham entrada na China, facilitando os meios para que possamos desenvolver ou adquirir, via transferência, a tecnologia que nos permita conter a maré amarela no mercado interno e, ao mesmo tempo, lutar com um relativo pé de igualdade com uma China, sendo bom lembrar, rica em recursos minerais, agrícolas e em petróleo, capaz de manter e até mesmo ampliar seu imperialismo econômico, que ofusca o seu imperialismo político, de desrespeito aos direitos humanos e à autodeterminação dos povos como bem exemplificam as atrocidades chinesas no Tibet, e a estrutura política autocrática e autoritária lá vigente estampada no recente isolamento arbitrário imposto pelo governo chinês ao Prêmio Nobel da paz.
Faz-se necessária uma rápida intervenção no sentido de se adotarem os caminhos, alguns aqui elencados, que levarão a uma convivência comercial mais equilibrada e proveitosa com os chineses, porque tanto em relação a nós, quanto relativo aos norte-americanos, o “Negócio da China” tem sido bom somente para eles, lembrando, porém, que ruim com a China, pior sem ela.
Amaury Cardoso
e-mail: amaurycardosopmdb@yahoo.com.br
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