terça-feira, 4 de janeiro de 2022

PRECISAMOS VIRAR ESSA TRISTE PÁGINA DA POLÍTICA BRASILEIRA! - Artigo: Janeiro/2022.



Inicio o meu ponto de vista trazido neste texto com a afirmação de que o crescente descrédito da democracia representativa, bem como das instituições partidárias, é ruim e tem sido um obstáculo ao avanço da democracia. Faço essa afirmação por entender que na politica os interesses firmados em oportunismos e incoerências de caráter esdrúxulo, não deve se sobrepor aos princípios.

Não devemos negar a política, pois ela é essencial para o avanço da democracia e influência diretamente na vida das pessoas. Contudo, não devemos aceitar a institucionalização da prática da velha política rasteira, oportunista, fisiológica e sem princípios.

Grande parcela da sociedade está rejeitando, de forma indignada, a continuidade da prática política onde prevalece os interesses de grupos de poder, prevalece a hipocrisia, prevalece a mentira, prevalece o vale tudo sem escrúpulos, desde que sirvam aos interesses de determinados grupos de poder. A política, sua boa pratica e essência, deve seguir o seu curso histórico. O que precisa ser abolido da política são os atores políticos que se beneficiam dessa prática política nociva a democracia representativa.

Em qualquer democracia, políticos enfrentam desafios graves. Crise econômica, insatisfação popular crescente e declínio dos partidos políticos, abrem espaço para demagogos populistas de viés extremista, que desafiam a velha e indesejável ordem estabelecida, criando processo de alto desgaste junto a sociedade. Cabe ressaltar que populistas tendem a negar a legitimidade dos partidos estabelecidos e prometem acabar com a elite que sustenta o sistema, devolvendo o poder ao povo.

É preocupante o fato da grande maioria da população não se identificar com os partidos, o que configura o avanço do descrédito popular dos partidos políticos, pondo em risco a construção do processo democrático, bem como a permanência da corrupção que segue em alta escala corroendo a credibilidade dos políticos, afetando diretamente a democracia representativa. 

Quando o sistema partidário e a representação política são vistas com descrédito pela sociedade, é sinal de que caminham para o colapso. Cabe ressaltar que esse processo abre espaço para o surgimento, com protagonismo político/eleitoral, de outsiders com talento para capturar a atenção da grande massa de insatisfeitos. Destaco que esse processo se consolida quando o poder político de ocasião (establishment) negligencia aos sinais de alerta emitidos pelas insatisfações da grande maioria da população. “Se o povo abraça valores democráticos, a democracia estará salva. Se o povo está aberto a apelos autoritários, então, mais cedo ou mais tarde, a democracia vai ter problemas.”

Demagogos potenciais que fazem vibrar o sentimento social, aflorando sua esperança, existem em todas as democracias. Daí decorre o perigo de surgir extremistas, demagogos e falsos moralistas, e a história política mundial confirma este fato. Se não houver um filtro, sobretudo nos partidos políticos, o risco de se instalar um governo autocrático com consequências imprevisíveis serão grandes. Afinal, nem sempre os políticos revelam toda plenitude do seu autoritarismo antes de chegar ao poder.

 O cientista político Juan Linz, alerta que um perfil autoritário reúne quatro tendências em seu perfil político que devemos nos preocupar:
1 - Rejeitam, em palavras e ações, as regras democráticas do jogo;
2 - Negam a legitimidade de oponentes;
3 - Toleram e encorajam a violência;
4 - Dão indicações de disposição para restringir liberdades civis de oponentes, inclusive a mídia.

O que se observa em vários casos ocorridos em processos eleitorais em diferentes países é o fato de que sempre há incerteza sobre como um político sem histórico vai se comportar no cargo. Esta situação se estabelece em virtude de posturas antidemocráticas, bem como traços de desvios de caráter serem, na maioria das vezes, difíceis de se identificar antes de chegarem ao poder.
Diante da configuração desse quadro, visando evitar a decadência democrática com a ascensão de extremistas, entendo que os partidos políticos alinhados com a democracia e comprometidos com a ordem política democrática devem formar uma frente única para derrotar o extremismo autoritário seja de viés ideológico de esquerda ou de direita, razão pela qual tenho defendido com certa veemência, em artigos e palestras, o alinhamento político das forças politicas de centro progressista.

Tenho afirmado: Que a democracia não pode ser ameaçada por nenhum retrocesso político de momento! Que partidos políticos não irão se sustentar ao ignorar os interesses de suas bases popular! Que representação popular, democraticamente eleita, precisa ser exercida em sintonia aos anseios da sociedade a qual representa!

Tenho o entendimento que à partir do processo de redemocratização em nosso país, em especial nos últimos 15 anos, atravessamos um momento delicado no campo político, econômico e social que tem ameaçado o processo democrático brasileiro. Observo que as ameaças à nossa democracia vem crescendo e assumindo variadas formas, muitas não perceptíveis a uma grande parcela da população que se mantém apática e desinformada politicamente, afetando à confiança da população nas instituições e na própria democracia, com o agravante de estar gerando um gradual afastamento dos cidadãos da política democrática e os aproximando de ideias autoritários. Essa afirmativa está baseada no fato do aumento do discurso extremista do ódio e da prática da violência política com crescente ataque de intolerância nas redes sociais. Para o bem da nossa jovem democracia, precisamos virar essa triste página da política brasileira!

Por fim, no fechar do ano legislativo de 2021, o Congresso Nacional, em um enorme acórdão, aprova o valor imoral de 5 bilhões para custear, com dinheiro público, as eleições de 2022. No momento em que o país atravessa uma enorme dificuldade, agravada pela pandemia, com severas consequências para a população brasileira, o Congresso, numa demonstração de total insensibilidade, eleva o Fundo Eleitoral para uma cifra bilionária surreal. Essa decisão é recebida pela população como um deboche, um tapa na cara do cidadão/cidadã eleitor. Entendo, já que, felizmente, foi interrompido o imoral financiamento privado nas eleições, ser necessário a democracia e para o processo democrático eleitoral o custeio público das eleições, mas convenhamos não no patamar estabelecido e aprovado pelo Congresso Nacional. Nada justifica essa constrangedora excrescência!
Esse é o meu ponto de vista.

www.amaurycardoso.blogspot.com.br 

Amaury Cardoso

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