PONTO DE VISTA.
Estamos nos aproximando do final da primeira década do século XXI, o Brasil conseguiu importantes avanços no campo econômico, social e político, com a consolidação das suas instituições democráticas, fazendo com que passasse a figurar internacionalmente, principalmente entre os países ricos, membros do G-5, como uma potência num futuro próximo. Sua localização geográfica, sua extensão territorial, sua imensa biodiversidade, a riqueza do seu solo, suas reservas energéticas, seu potencial hídrico e seu mercado consumidor colocam o Brasil na condição de destaque entre os países integrantes do BRIC, muito embora o nosso crescimento (PIB), nesta primeira década, tenha sido menor entre os países membros.
No entanto, o avanço alcançado, muito embora seja animador, ainda se revela insuficiente diante dos desafios a serem vencidos nos gargalos existentes em nossa infra-estrutura, mas, principalmente, no nosso pífio desempenho no campo da ciência e tecnologia e a baixa qualidade da educação que figuram como os maiores entraves a consolidação do desenvolvimento do nosso país, ameaçando o nosso futuro.
A recente divulgação, pelas Nações Unidas, da atualização dos índices de desenvolvimento humano (IDH) expõe, de forma vergonhosa, o mal resultado do Brasil na educação, nos colocando, em comparação à média de tempo de estudo, nivelado ao Zimbábue, país “lanterna” na relação de IDHs, muito embora não se precise comparar com países da áfrica nossa desdita educacional, pois enquanto se discute a colocação de carteiras nas escolas do ensino médio do interior do Ceará, as crianças do ensino fundamental do Chile, no deserto do Atacama, lugar mais árido do mundo, já estudam confortavelmente em salas com ar condicionado e computador individual.
As razões do nosso atraso no campo educacional são do conhecimento de todos, desde o cidadão comum aos especialistas e estudiosos neste campo, que há décadas alertam e fazem prognósticos alarmantes sobre o agravamento da situação pelo descaso, e a falta de prioridade, com que nossos governantes vêm tratando a educação em nosso país.
É fato que ainda se investe pouco na educação. O atual governo termina seu mandato com gastos de 5% do PIB no setor da educação. A presidente eleita, Dilma Rousseff, afirmou considerar a educação “muito bem encaminhada” e promete investir 7% do PIB neste setor, o que diante dos resultados divulgados pela ONU, evidencia o nosso atraso e a má qualidade do ensino em nosso país, o que se revela insuficiente se quisermos mudar esse quadro na próxima década (2011 a 2020).
É imperioso que a presidente eleita Dilma, como primeira mulher presidente do Brasil, e na mulher geralmente a sensibilidade se revela mais profunda, trate este importante e fundamental setor como o maior gargalo a ser eliminado, e a situação atual da educação exige prioridade máxima, com investimentos de no mínimo 10% do PIB, caso contrário estará comprometendo o futuro do país, ao não qualificar a atual e as novas gerações à altura das exigências do mercado de trabalho, no que destacamos não só a melhoria da qualidade do ensino médio, bem como o aumento na oferta do ensino profissionalizante. Quanto à educação básica, ensino fundamental, por ser a base da pirâmide educacional, deve receber especial atenção no tocante à qualificação profissional, especialmente em relação aos profissionais do primeiro segmento, e, paralelamente, à implantação a nível nacional o ensino integral.
As nossas universidades, ao contrário do que ocorre no resto do mundo, não se constituem em centro de pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias, por não estarem em sintonia com as necessidades do país, desenvolvendo inovações tecnológicas adequadas às necessidades e ao poder aquisitivo do consumidor brasileiro. Mesmo se considerando o aumento do investimento federal nas universidades públicas, esta gravíssima deficiência continua, mas isto pode ser mudado. O exemplo mais eloqüente disto é o programa do Proálcool desenvolvido no final da década de 70, com a participação da USP e da UNICAMP, para diminuir a dependência do país em face da importação do petróleo, cuja produção nacional à época era insuficiente. O desenvolvimento do combustível etanol, à base de cana de açúcar, fez do Brasil uma referência internacional na tecnologia de biocombustíveis, o que sobejamente corrobora nosso entendimento a cerca deste ponto.
Cabe ressaltar que embora esta tarefa seja de grandes proporções, ela não é irrealizável, como muito bem mostrou a Correia do Sul, o mais voraz dos “Tigres Asiáticos”, que após uma onerosa e destrutiva guerra na década de 50, se reconstruiu sob o paradigma da educação obtendo resultados excepcionalmente positivos para a sociedade sul coreana. Hoje, apenas para ilustrar, a Samsung, conglomerado industrial sul coreano que reúne mais de 25 empresas dos mais diversos setores produtivos, no seu segmento eletrônico, tornou-se líder mundial neste mercado, passando à frente das suas mais tradicionais concorrentes do ramo, como Philips, Sony e Panasonic, só para citar algumas. As suas concorrentes compatriotas, LG, Hyunday e Daewoo, estão no mesmo ou maior nível que as empresas holandesas e Japonesas citadas, tanto em termos de faturamento quanto em termos de desenvolvimento de novas tecnologias no setor. Só para se ter uma idéia do êxito da experiência educacional sul coreana, ¼ do total de funcionários do grupo Samsung é constituído por PHDs.
A educação de qualidade para todos é o único caminho para o desenvolvimento pleno com igualdade de oportunidades, o único caminho para o avanço da ciência e tecnologia, o único caminho para a maior distribuição da renda nacional, o único caminho para diminuir a violência e, sobretudo, o único caminho para a erradicação da pobreza e para proporcionar uma verdadeira inclusão social, garantindo assim um futuro de paz e prosperidade a todos os brasileiros, além de fortalecer a auto-estima da sociedade.
E o papel de garantir este futuro só quem pode cumprir é o estado.
Amaury Cardoso
e-mail: amaurycardosopmdb@yahoo.com.br
blog: www.amaurycardoso.blogspot.com
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