A globalização pode ser entendida como um processo multidimensional que não se restringe só à vertente econômica, mas envolve também dimensões políticas, de segurança, cultural e ambiental. Este processo está associado ao crescimento dos fluxos de comércio e investimentos internacionais, reforço da concorrência, à celeridade e facilidade das comunicações, ou ainda à convergência de valores culturais e da consciência sobre os problemas globais, designadamente os ambientais.
O surgimento deste novo modelo induz os Estados à uma nova condição socioeconômica, obrigando-os a uma reavaliação de seu papel nos processos decisórios e modificação de postura em relação a questões como a desigualdade social, o desequilíbrio no acúmulo de capital e a corrupção, tidos como efeitos causados pela globalização.
Ao mesmo tempo, a evolução tecnológica e a interdependência de mercados internacionais permitem que as mudanças ocorram em um espaço de tempo cada vez menor, causando impactos cada vez mais intensos. Estes impactos provocam a necessidade de acompanhamento do capital humano dos países, principalmente daqueles que estão em processo de desenvolvimento, de modo a se tornarem aptos para concorrerem com outros países no mercado internacional.
Sendo assim, as novas relações tanto políticas, quanto econômicas permitiram que empresas se internacionalizassem graças ao aperfeiçoamento da tecnologia em vários países e, com isso, instaurando um processo de co-dependência entre as nações. Esta condição, do ponto de vista da economia política, resultou no denominado “tecnocapitalismo”, cujas características relacionam-se ao aumento do poder do mercado e ao declínio do Estado nação, acompanhado do crescente poder e influência das corporações transnacionais nas decisões estatais, de modo a facilitar e criar condições favoráveis à reprodução do capital.
Em suma, o capitalismo contemporâneo ou tecnocapitalismo, baseia-se na estrutura do capital e da tecnologia, que produzem novas formas de cultura, sociedade e cotidiano social. Secundo Douglas Kellner, “Nas últimas décadas, a indústria cultural possibilitou a multiplicação dos espetáculos por meios de novos espaços e sites, e o próprio espetáculo está se tornando um dos princípios organizacionais da economia, da política, da sociedade e da vida cotidiana.” (Douglas Kellner, “A cultura da mídia e o triunfo do espetáculo”, In Líbero. São Paulo, vol. 06, n.11, p.05).
Especificamente em nosso país, ocorreram intensas transformações nas últimas décadas, patrocinadas pela mudança de regime político, onde a sociedade obteve o direito de participar das decisões de Estado. A exemplo de outros países, a nossa economia, passou pelo processo de estabilidade monetária e decréscimo inflacionário desde a década de 90, onde buscou se tornar um país economicamente maduro e seguro, apto a receber investimentos externos e internos, de forma a comportar um crescimento econômico linear e equilibrado, com a finalidade de contemplar e suprir as demandas dos mais variados segmentos da população brasileira.( Infelizmente a partir de 2010 as políticas econômicas adotadas aliadas a generalização da corrupção levaram o Brasil a um retrocesso deste processo.)
Em virtude das mudanças associadas aos efeitos da globalização, houve a necessidade de alterações na normatização legal até então vigente, de forma a compatibilizá-la à nova configuração socioeconômica estabelecida, uma vez que este ajustamento às novas estruturas se evidencia como uma condição sine qua non para o desenvolvimento econômico de qualquer país.
A exemplo de outros tantos países onde vigora o sistema capitalista, o Brasil também adotou as novas regras e as novas formas de tecnologia com o objetivo de inserir-se ao mundo globalizado, onde as relações econômicas se tornam cada vez mais competitivas. Ressalta-se neste sentido, que não somente aderiram à estas regras os países capitalistas, como também a China, onde as relações socioeconômicas até então, eram essencialmente de cunho socialista.
Por fim, a globalização, em suas diferentes modalidades de expressão e realização, tem o Estado cada vez mais sob o controle das organizações e das corporações transnacionais, onde instituições que normalmente controlam poderes econômicos e políticos se tornam aptas a se sobrepor e impor controle sobre os Estados. Tem poder de influenciar governos, aparelhos estatais, burocracias e tecnocracias e estabelecem objetivos e diretrizes que se redirecionam às sociedades civis, no que concerne às políticas econômico-financeiras.
Amaury Cardoso
Físico/Gestor Público/Especialista em Ciências Políticas
www.amaurycardoso.blogspot.com.br