segunda-feira, 13 de março de 2023

A CIDADE PRECISA TER A CAPACIDADE DE SE REINVENTAR AO FIM DOS CICLOS. - MARÇO/2023


Estamos atravessando um século que vislumbra profundas transformações, e dentre tantas que já ocorrem e irão ocorrer, quero trazer o meu ponto de vista sobre o que está acontecendo com as cidades.  Estamos diante da maior onda de urbanização da história da humanidade, que promoverá profundas repercussões junto a sociedade.

De tudo que tenho lido a respeito, me deparo com diversas previsões e prognósticos que se dividem na visão de que essas mudanças sem precedentes pode acentuar o desenvolvimento e promover a sustentabilidade ou pode aprofundar a pobreza e acelerar a degradação ambiental.

Somo aos que acreditam que, em razão de vários governos passados terem errado bastante nas suas épocas, não há muito a fazer, a não ser esperar o crescimento, porque o que está ruim agora, o sufoco das grandes cidades só vai piorar.

Nunca foi tão importante para os atuais administradores/ gestores público pensar de forma revolucionária os espaços urbanos. As cidades vão continuar a crescer em população nas próximas décadas.

Especialistas e estudiosos sobre metrópoles e cidades urbanas afirmam que o futuro dos espaços urbanos, o futuro das cidades nos países em desenvolvimento e da humanidade, depende das decisões que tomarão seus administradores. No entanto, nas últimas décadas a grande maioria dos administradores públicos fizeram menos do que era possível para enfrentar os erros cometidos no passado, quando a primeira onda de urbanização aumentou a demanda por serviços públicos e por moradia nas grandes cidades.

Nosso país acentuou desigualdades que nas primeiras décadas do século XXI estão sendo enfrentadas, favelizou periferias e transformou o trânsito em um caos que desafia os administradores públicos que se veem diante de um desafio impossível de resolver. Milhões de pessoas saem dos pontos mais diversos e distantes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e vão a grande maioria para o mesmo lugar: o Centroda cidade do Rio de Janeiro. Importante destacar que os que desembarcam no centro da cidade estão indo trabalhar ou de passagem, por ser o centro o entroncamento obrigatório para outras partes da cidade. Essa é uma das contradições: os Centros das cidades são movimentados e desabitados.

Em virtude do fato da grande maioria da população viverem em áreas urbanas , o administrador público municipal precisa ter claro o desenho da cidade. Um fato relevante é que várias cidades têm mostrado nos últimos anos que podem melhorar a modernização de seus espaços reativando áreas mortas, exatamente o que ocorre no projeto de reformas modernizantes que está em andamento no centro da cidade do Rio de Janeiro, que hoje se transformou, em razão de obras de revitalização, num polo turístico, histórico e cultural, áreas que eram sufocadas por prédios, verdadeiros monstrengos construídos ao longo de décadas. Essas transformações estão sendo de fundamental importância para o Rio, uma cidade de serviços, turismo, criatividade e cultura.

Tenho a percepção que para uma cidade não basta construir a infraestrutura. À cidade precisa ter vida planejada que permita a aproximação de pessoas em torno de interesses comuns, e o sistema de transporte eficiente é fundamental. 

O que dá errado nos projetos das cidades é quando o administrador constrói algo que vai de encontro a sua natureza!

O arquiteto Carlos Leite afirma, em Cidades sustentáveis: “A cidade é a pauta: o século XIX foi dos impérios, o século XX das nações, o século XXI é das cidades. As megacidades são o futuro do Planeta Urbana “. Em todos os aglomerados urbanos procuram-se soluções para problemas que chegaram ao seu limite, como exemplo o nó da mobilidade urbana, pois nos últimos anos as cidades, independente de seu tamanho, estão ficando cada vez mais paralisadas pelo trânsito.

Má outra grande preocupação dos administradores públicos decorre das chuvas intensas, cada vez mais frequente, concentradas em períodos curtos. As cidades de qualquer tamanho, têm que estar preparadas para isso, tanto com obras quanto com equipes de socorro e sistema de alerta. Neste quesito o Rio saiu na frente, tem trabalhado muito.

Li em minhas pesquisas sobre Cidades Urbanas, que Cidades não são infraestrutura, são as pessoas. Quando se pensa em grandes obras devemos perguntar, em primeiro lugar, se elas vão, de fato, melhorar a vida dos moradores e se à cidade na qual se fará o investimento se dedica com eficiência ao principal que é educar as crianças e protegê-las “.

Aprendi em minhas leituras que há uma nova tendência de reorganizar as cidades em torno de pessoas e não mais de carros.  Vito o exemplo de Londres que sempre resistiu à tendência de muitas cidades de abrir vias expressas a qualquer custo.  Mesmo assim, tomou a decisão de dificultar maus a vida dos carros em certas áreas. Existe uma visão urbanística de que é preciso empurrar as pessoas para o transporte público, contudo ele precisa estar minimamente decente e eficiente. Entendo ser esse o grande desafio para o gestor público municipal que já têm excessivos problemas.

Por fim, considero desafiador para os prefeitos que administram cidades litorâneas o enfrentamento, em razão do processo de elevação do nível do mar, dos desafios de amenizar problemas de inundações. Acredito que o plano diretor das cidades que sofrem com essa real ameaça precisa levar em conta essa dramática questão nas suas decisões de localização. 

Outra situação, também, de grande relevância é a questão do saneamento face ao muito que não foi feito. Um enorme esforço terá que ser feito na área de saneamento urbano e no de abastecimento de água. Em geral a reee coletora de água recebe esgoto e despeja in natura diretamente nos rios e mar.

Reduzir as agressões ambientais aos rios, para reduzir o risco de doenças, para cumprir a lei dos resíduos sólidos, para alcançar o título de cidade sustentável se torna imprescindível enfrentar essa grande mazela. Outro grande desafio está no enfrentamento das questões externas. Chuvas torrenciais estão desabando e as cidades precisam se preparar para ter um sistema de alerta, identificação das áreas onde haverá problema para se criar prevenção, investimento em defesa civil.

O futuro vai ser mais desafiador do que os piores momentos do passado, exatamente porque o clima está mudando! “ O custo de preparação é sempre infinitamente menor do que o custo de recuperação depois do desastre “. É impossível controlar tudo, por isso é preciso ter um sistema de reação rápida e ágil diante de um incidente.


Amaury Cardoso 

Físico/ Pós-graduado em Gestão Pública/ Especialista em Ciências Políticas 

http://www.amaurycardoso.blogspot.com.br

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