domingo, 1 de março de 2020

MINHA RELAÇÃO COM DEUS. - ARTIGO: FEVEREIRO/2020

Em nome do Pai, do filho e do Espirito Santo




“A quem não tem Deus, que tenha, pelo menos, Aristóteles”.


Há muito tempo venho refletindo sobre a importância da religião, em especial na minha vida. Estou no processo de crer e acho importante se ter a visão de que precisamos crer, porque isso nos ajuda suportar o que não aceitamos em razão de não entendermos o seu por que.

É sempre difícil compreender Deus, entretanto percebo que Deus está nos detalhes. Quando sou indagado sobre a minha religiosidade, em particular sobre a minha crença em Deus, tenho afirmado crer na existência de uma força divina, superior, a que os cristãos chamam de Deus, e que me dá o sentimento de estar sob uma proteção que me transmite paz, contudo, não me dispensa de ter o cuidado de não extrapolar e muito menos negligenciar no que me cabe.

Aprendi que as circunstâncias ruins a que sou acometido no processo da minha vida, seja ela qual for, não irão deixar de ocorrer ou se dissipar pelo fato de eu crer em Deus. Não tenho a ilusão de que Deus viverá por mim o que somente a mim cabe viver. No entanto, tenho a fé de sua presença me sustentando espiritualmente.

Não me prendo a crença do destino traçado para a minha vida. Penso que os resultados das escolhas que fazemos e atitudes que tomamos resultam nas consequências que influenciam a nossa vida, e que são lições para o nosso aprendizado, não cabendo a Deus mudar.

Tenho refletido sobre com que frequência somos ricos no que realmente importa, e na maioria das vezes não nos damos conta. Às vezes estamos cercados pelo que realmente importa, mas inventamos uma grande missão, uma grande ideia ou uma grande aventura. Achamos que isso é o que importa e perdemos de vista o que está a nossa volta, que é realmente importante, mas não nos damos conta.



As coisas mais importantes para a nossa vida precisam estar bem definidas. Devemos ser gratos pelas coisas boas, gratos pela saúde, gratos pelas bênçãos, gratos pelos amigos.

Erramos ao achar que Deus deva ser aquilo que queremos que ele seja. Deus não pode servir as minhas imperfeições, senão não seria esse espírito divino e superior em que creio. Confesso que ao levar a minha oração a Deus, falo com ele das minhas necessidades, mas me vem à incerteza: Será que o meu querer corresponde à necessidade que realmente tenho na visão de Deus? Será que elas não são mais profundas?

Com o decorrer do tempo passei a ter consciência de minhas limitações e, em razão dessa consciência, encontrei na fé o conforto para acalmar minhas angustias advindas das coisas para as quais não encontro entendimento. Aprendi que fé é uma entrega que necessita de disposição interior.

Aprendi, também, que a oração não pode ser uma forma de fuga diante dos meus insucessos em razão da minha inércia. Vejo a religião como um dogma, porém não ela não deve ser um instrumento de alienação, e sim uma forma de vivenciar ensinamentos que me ajude a amenizar minhas inquietações, angustia e sofrimentos.

A religião pode ser útil, mas pode ser destrutiva, pois ela tem uma capacidade de reforçar as mentiras em que acreditamos as vezes que nós mesmos inventamos, das quais passamos a ser prisioneiros. Ela também traz grandes confortos. Às vezes a nossa religião nos limita. Deus não veio fundar religiões, nós é que criamos as variadas religiões.

A religião precisa ser encarada como um caminho para transformação da mentalidade. Jesus condenou a religião que aliena! Penso que Jesus não veio para fundar uma religião, Jesus veio para nos dizer, ou melhor, para nos mostrar o que é ser plenamente humano, e totalmente cheio de vida. O evangelho não prega que você pode receber Jesus em sua vida. O evangelho prega que Jesus já recebeu você na vida dele, no relacionamento dele com Deus.

“Jesus Cristo é o salvador de toda humanidade e o Deus que nos ama está constantemente presente em nós.”


Em uma pregação do padre Fábio, o ouvi afirmar que: “Precisamos levar a sério os motivos pelos quais Jesus morreu. Ele morreu, sobretudo, porque ousou contradizer o discurso religioso de seu tempo. O fator religioso contou bem mais que o político”... “Tenho dificuldades em acreditar em um Deus que negocie favores. E pior, favores que são concedidos mediante exigências sádicas. Alguém promete que atravessará uma passarela de joelhos para que Deus lhe conceda um favor. Há um equívoco por trás dessa compreensão.”



Por formação acadêmica acredito que todos os ramos do conhecimento podem nos auxiliar no crescimento espiritual. A ciência nos ajuda a obter melhor compreensão sobre coisas que não entendíamos nos permitindo o aperfeiçoamento humano. Entendo que o crescimento espiritual está associado à evolução humana, e seguem juntos. Há ensinamentos que se encontram, e é através do conhecimento que aprendemos, superamos paradigmas e assimilamos o novo.

Diferente do que muitos pensam não é a religiosidade que transforma a vida, mas a espiritualidade que decorre dela. É essa espiritualidade cada vez maior que faz que alcancemos o objetivo de viver uma vida melhor, sendo um ser humano melhor, e com isso melhor suportar as demandas da nossa existência. Daí vem meu entendimento de que ter uma religião está longe de ser uma garantia de exemplo de caráter, valores morais e éticos. Exemplos nesse sentido é que não faltam!

Percebo que a religião é uma oportunidade de incorporar valores que nos humanizam, que nos tornam mais justo, mais verdadeiro. Não podemos permitir que a religião nos leve a condição de alienação, que nos cega, nos tirando a condição de racionalidade.

Para mim foi muito precisa uma citação do padre Fábio ao afirmar que a religião no mundo historicamente se institucionalizou através de normas, autoridades pagas, coletoras de taxas, possuidora de prédios e bens, influência política e entidade jurídica. Entendo que a associação entre religião e Estado é, sempre, em qualquer época, um desastre brutal.

É lamentável que o discurso religioso que mais cresce seja o que negocia com Deus a solução de todos os problemas que enfrentamos mediante o pagamento de dízimo. “Não é honesto apregoar que Deus fará por nós o que nos cabe fazer”. Aliás, como se deu no passado com a compra de indulto e perdão dos pecados. Jesus condenou essa prática religiosa.

É mesquinha a utilização pelo líder religioso, que em sua pregação apresente um Deus mercador, negociando os seus favores. É um desserviço à fé negociar milagres e favores.

Tenho me pautado na afirmação do padre Fábio, que entendi que a nossa fé em Deus é um instrumento para nos colocar na direção do eixo existencial, pois dessa forma tomamos conhecimento das nossas possibilidades e limites, nos dando condições de alcançarmos a liberdade interior.

Precisamos refletir sobre nossa definição do que é sucesso e fracasso, pensar sobre isso e descobrir o que esta faltando para sermos uma pessoa completa. Para mim o sucesso e o fracasso trazem a tona o que temos em nós, mas eles são diferentes, são dois tipos diferentes que revelam um aprendizado, e em parte, Deus é o arquiteto desse aprendizado.



Por fim, entendo que a ciência e religião são complementares e atuam em seus espaços. Aristóteles, um dos filósofos que tem pautado alguns dos meus argumentos, defendia a ideia de que o ser humano pode captar o conhecimento no próprio mundo em que vive, e que Deus não é o criador do universo, mas, sim, seu motor.

A vida é uma jornada, não um destino. O que precisamos é aprender a viver a dar sentido a nossa existência. A cura que precisamos esta na dor, no reconhecimento dos nossos erros que alimentam nossas imperfeições. E nem todos estão preparados para colher ensinamento com a dor e sofrimento.


Amaury Cardoso

Blog: www.amaurycardoso.blogspot.com.br

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