segunda-feira, 30 de março de 2020

A CRISE DO CORONAVÍRUS E SEUS MULTIPLOS IMPACTOS. - ARTIGO: ABRIL/2020




A pandemia do coronavírus (covid-19) alterou a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, modificando rotinas e modos de vida, em especial nos grandes centros urbanos.

A principal medida que vem sendo adotada para conter o avanço do vírus é o isolamento. Contudo, o isolamento é visto como algo totalmente atípico, até certo ponto radical.

A epidemia do coronavírus está causando um impacto enorme nas cidades brasileiras, e suas medidas para conter o contágio dividem opiniões, acirrando os debates, principalmente no campo político e ideológico. O que não irei aprofundar nesse artigo.


É fato que o isolamento tem um impacto no bem-estar das pessoas, principalmente nas pessoas mais pobres em razão do medo da perda do emprego. A história da humanidade registra grandes catástrofes que revelaram que as pessoas tendem a refletir mais sobre seu papel no coletivo, demonstrando que a cidadania se faz nas cidades.

A crise provocada pelo coronavírus inevitavelmente irá trazer um impacto econômico, político e social de grandes proporções, evidenciando a imprescindível necessidade de uma gestão global de cooperação. O mundo olha com bastante atenção para a China neste momento em que ela indica que venceu a batalha da epidemia, sendo de interesse geral saber como o país lidou com a epidemia e como vem lidando, quais os efeitos econômicos sobre a China e o mundo e o que representa essa pandemia para a cooperação global Brasil-China.

Percebo que a China tratou a sua epidemia do coronavírus em etapas bem estruturadas. A primeira etapa foi à imposição da medida de isolamento, em razão de se tratar de um fenômeno pouco conhecido. A segunda etapa foi a adoção de um procedimento de classificação de risco entre as regiões/províncias aplicando medidas severas ou não dependendo de cada realidade encontrada. A terceira etapa foi a utilização de meios digitais como monitoramento da população nas províncias mais afetadas, visando rastrear fontes de contaminação a fim de isola-las. Esse método ajudou muito a identificar os possíveis atingidos pelo contágio do vírus.

É certo que no início da pandemia não se podia prever o seu grau de alcance e a expressão de seus efeitos na economia mundial. Tem os que afirmam que a China demorou a atuar no sentido de conter a sua epidemia, fato que se tivesse se antecipado teria, talvez, evitado que se espalhasse pelo resto do mundo.

As medidas voltadas a retomada da economia chinesa, com foco maior na população rural e nas Micros e pequenas empresas, se deram nas seguintes frentes:
Criação de linhas de créditos especiais para o setor privado e Micro e pequenas empresas;



Garantia de flexibilização do pagamento de empréstimos que foram concedidos a essas empresas, com extensão do prazo para pagamento e redução das taxas de juros, evitando com isso uma quebra do fluxo de caixa dessas empresas;

Promoção de um ajuste da política trabalhista, buscando aliviar o gasto com encargos, e assim reduzindo os encargos e congelando por um período a contribuição previdenciária.

O que se percebe nesta atual fase na China, é o fato de que os impactos internos na economia chinesa não vieram na proporção que temiam. Outro fato importante a destacar foi a decisão da criação de uma coordenação central da crise, presidida pelo presidente Xi Jinping, o que permitiu unificar as decisões e aplica-las na proporção do nível de contaminação em cada província chinesa, com isso garantindo um melhor e maior controle da epidemia.

No campo da cooperação global ao combate ao coronavírus com vistas amenizar os reflexos que irá provocar uma recessão econômica mundial, visualizo uma dificuldade diante da atual e complexa conjuntura geopolítica mundial que requer muito diálogo no sentido de se obter uma maior cooperação internacional, em virtude do forte nacionalismo existente, em especial nas maiores potencias, que se revela diante da guerra comercial em andamento, onde a Organização Mundial do Comércio – OMC vem encontrando dificuldades em mediar.

Todavia, diante de um mundo globalizado e sem fronteiras, pouco adianta um ou poucos países vencer a suas batalhas internas contra a epidemia se outros também não alcançarem o mesmo êxito a curto e médio prazo. Torna-se crucial e de interesse de todos os países que ocorra uma cooperação material, técnica e científica entre as nações, objetivando debelar a pandemia, e a experiência dos países que vencerem o vírus se torna fundamental para o processo de eliminação.


Episódios históricos de surto de pandemias revelaram a ocorrência de períodos contínuos de décadas de investimentos limitados, fazendo com que a recuperação econômica da maioria dos países ocorresse de forma lenta. Isto irá se repetir, contudo face ao avanço técnico-cientifico pode se esperar que o período de recessão seja bem mais curto na proporção do tamanho do desemprego e das falências empresariais em cada país, bem como nas medidas tomadas pelos governantes que visem amenizar o impacto de suas crises internas, e uma medida crucial é a de que os governos ignorem os preceitos dominantes sobre endividamento público e utilizem o que estiver ao seu alcance para lidar com a crise.


No aspecto particular do Brasil, especialistas em economia em períodos de crise apontam um cenário cada vez mais negativo com um enfrentamento do recuo da economia, em patamar que irá lembrar a crise financeira de 2008 e a greve de caminhoneiros de 2018, levando-se em conta as expectativas econômicas de uma recessão mundial.

Diante de tal cenário, concluo deixando clara a minha visão de que, pelo menos, nos temas globais se torna necessário haver uma maior integração mundial, com troca de experiências e cooperação humanitária nas formas de tratar os problemas globais com o propósito de melhorar a governança global, e essa pandemia evidência essa necessidade de solução mais integrada e eficaz.

Nesse contexto, talvez possa surgir à necessidade de se criar uma condição de discussão construtiva de como a comunidade internacional pode, em conjunto, responder melhor a questões tão graves, a exemplo da pandemia do coronavírus, construindo consensos para o que ficar entendido ser o melhor para a convivência humana mundial.

A pandemia do coronavírus precisa ser encarada com a seriedade e responsabilidade governamental que ela exige. Medidas severas, por si só não são suficientes. Torna-se necessário aprofundar o processo de pesquisa visando sua cura, e para tal estão disponíveis os meios tecnológicos que o mundo dispõe. A pandemia pode ser vencida de forma equilibrada e com brevidade.


Neste momento não cabem disputas em nenhum campo, principalmente no campo político, e sim a consciência de que só através de ações bem coordenadas, eficazes e rápidas, que tenham como principal objetivo proteger a população, ou seja, o cidadão, é o mais adequado e importante.



Amaury Cardoso



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