segunda-feira, 23 de março de 2020

A CRITICA PARA QUEM PERDEU A CREDIBILIDADE NÃO TEM ÉCO! - ARTIGO: MARÇO/2020



Em democracias sólidas, a alternância de poder é resultado da vontade da maioria. 

Na maioria das vezes as mudanças que ocorrem no processo político vêm em decorrência de erros graves com capacidade de gerarem indignação em grande parcela das pessoas, e, como toda mudança abrupta, suas consequências são inicialmente imprevisíveis. 

Toda mudança, e aqui me refiro ao campo político ideológico, gera por parte do campo ideológico derrotado críticas ao grupo político vencedor, que se não são convincentes a maioria da sociedade caem no descaso e deixam de ser consideradas, principalmente, pelo fato das pessoas serem levadas a pensar que quem critica alguém no campo pessoal em razão de ser contrário aos seus métodos e atitudes evidencia a mascara social dos que possuem o ego ferido. 


A critica pode vir de diversas frentes, independente da origem de suas variáveis, e, em meu ponto de vista, quem é objeto de críticas, dificilmente irá considera-las positivas ou “construtivas” a não ser que tenha desenvolvido a humildade ao longo da vida. A pessoa pode criticar por ter noção do que é certo e tentar ajudar a outra pessoa a não errar. Ou pode criticar pelo simples fato de se achar superior e, tendo aversão a pessoa alvo de suas críticas, tem a predominância de interpreta negativamente tudo que vê no outro. 


Sabemos que é extremamente difícil agir sempre corretamente, e que uma hora ou outra a gente acaba tropeçando na própria crítica, como sabemos também que é muito mais fácil apontar o erro do outro do que os nossos e dos nossos amigos e/ou correligionários no campo político. 


Ao fazer a análise acima, e face às críticas viscerais que tenho visto por parte de parcela dos veículos de comunicação ao atual presidente, que são corroboradas com certa demasia pelos seus adversários no campo político, e muitos no campo pessoal, me permito fazer um paralelo do cerco sofrido, por longos anos, pelo saudoso ex-governador Leonel Brizola, cabendo destacar que pertencia a um campo ideológico completamente antagônico ao do presidente Bolsonaro, mas, curiosamente, pelos mesmos motivos: o inconformismo dos políticos adversários com a derrota sofrida e o preconceito da imprensa aos métodos e as causas defendidas e, também, por ter seus interesses ameaçados pelo governante de plantão. 
  

Continuando na minha análise, devo deixar claro que não sou “Bolsonarista” e que também não concordo com alguns de seus métodos que tem protagonizado episódios de confrontos desnecessários. Feito isso, reflitam comigo sobre as razões da vitória de Jair Messias Bolsonaro e a quem culpar: 

1- Perante a maioria da população brasileira, qual o sentimento deixado pela “esquerda lulopetista” que durante 14 anos (2003 a 2016) governou o nosso país? 

2- Não teriam sido os graves erros cometidos por essa “esquerda lulopetista” e seus “aliados” de conveniência sobre o argumento da garantia da “governabilidade” que levaram a direita ao poder? 

3- Não teria sido a pratica da corrupção sistêmica, da ineficiência de gestão, da exaustão de uma prática política de conchavos em defesa de interesses pessoais e de grupos, do excesso de patrimonialismo, fisiologismo, clientelismo e assistencialismo eleitoreiro exacerbados, que esgotaram a paciência de grande parte da população brasileira? 

4- Será que não foi por conta da resistência da grande maioria da classe política em não querer aceitar o clamor da sociedade por mudanças, em especial pelo fim da manutenção do foro privilegiado e da impunidade indecente e secular dos crimes de corrupção praticados pelos ditos “poderosos” em nosso país? 

5- Será que não foram pelas ações corporativistas que pautaram por longo período e continuam a pautar com relativa frequência as decisões adotadas pelos três poderes, quando estão em jogo os seus interesses e esses são confrontados pela sociedade? 

6- Será que não foram em razão da sociedade não ver, por décadas, resultados significativos em áreas fundamentais, por serem garantidoras do seu desenvolvimento humano e social, especialmente nos campos da educação de qualidade e universalizada, da adequada assistência à saúde, da falta da necessária atenção ao saneamento básico, da fragilidade cada vez mais agravante na segurança pública, dentre outras mazelas, a que tem sido submetida a conviver em plena segunda década do século XXI e que ficam sempre em promessas de campanha eleitoral? 

7- Será que não foi pela indiferença de considerável parcela da classe política que tentou de todas as formas deter o processo de combate a corrupção institucionalizada em nosso país, indo na contra mão do clamor da sociedade brasileira que exigia a fim da corrupção na maquina pública nos três poderes? 

8- Será que não foi em razão da atitude daqueles que não querem perder o foro privilegiado, que são contra a prisão em segunda instância, e não se importam em não estarem em sintonia com o clamor da grande maioria da população? 

9- Será que foi pelo fato da sociedade não concordar com a máxima da política de que saber governar é privilégio daquele que governa com o velho sistema do “presidencialismo de coalizão”, não estou querendo dizer para não governar com o Congresso, e sim, sem a pratica repudiada pela sociedade do “Toma lá da cá”, cuja regra é a de lotear o governo entre partidos políticos entregando áreas estratégicas para pessoas despreparadas e de caráter duvidoso, pratica que se revelou desastrosa por facilitar atos de corrupção? 

10- Por fim, será que a sociedade reconhece eficácia nos governos passados, ao se perguntarem: quem cuidou da saúde, equipou os nossos hospitais e valorizou os nossos médicos? Quem promoveu em escala nacional o saneamento básico nas comunidades carentes? Quem cuidou da segurança pública na proporção que o nosso país precisa? Quem cuidou do ensino público garantindo qualidade de ensino em todos os níveis? Quem, efetivamente, contribuiu para a diminuição das desigualdades sociais sem ser através de medidas pontuais e paliativas de aspecto assistencialista? Quem atuou para resolver a grave crise estrutural do sistema prisional em nosso país? Quem colocou o Brasil numa posição humilhante no índice internacional de desigualdade social? Dentre tantas outras perguntas que se fazem. 

Vamos encarar a realidade, deixar de hipocrisia e aprender com os erros cometidos pelos governos passados que foram apoiados muitas das vezes pelos os que hoje criticam e resistem em admitir que a grande maioria das mazelas e atrasos estruturais que o país atravessa ocorre em decorrência de não terem sido tratadas por quem deveria, com a eficácia, seriedade e responsabilidade que lhes cabia. 


Não obstante importantes avanços, erramos muito após o período da redemocratização, e essa falta de autocrítica têm sido responsável pela continuidade dos erros, e, pior, da inoperância política de muitos que se limitam a criticar os erros dos governantes de momento e de passagem pelo qual não tem simpatia no campo pessoal e/ou ideológico, mas fecharam os olhos para os graves erros, em especial no campo ético e moral, dos amigos, aliados políticos e/ou correligionários por serem próximos ou por terem sido ou estarem sendo beneficiados de alguma forma. 


A crítica é fundamental desde que se tenha credibilidade para fazê-la. Aqueles que no passado cometeram erros graves ou se omitiram e foram coniventes através de seu silêncio com os erros praticados pelos os que eram seus aliados ou companheiros, precisam entender que foram corresponsáveis, portanto lhes faltando credibilidade política para criticar. 


A história política brasileira nos revela que conflito entre os três poderes da República não é um fato novo. Em pelo menos três momentos da nossa história política ocorreram crises que culminaram com o fechamento de poderes. Refiro-me aos anos de 1930, 1937 e 1964. 


Atualmente vivenciamos um conflito entre executivo e o Congresso Nacional, colocando como fator emergencial a ocorrência de um “Pacto entre os três poderes”, e, para tal, o presidente Bolsonaro deve buscar evitar uma relação de tensão com os outros poderes, em especial o Congresso. 


O presidente, em virtude de seus erros, e, principalmente, por não exercitar a política do diálogo pela busca do entendimento, que é a essência da política, não dispõe de uma coalisão majoritária de partidos e tem adotado a estratégia de buscar apoio do seu eleitorado, o que a meu ver é um erro estratégico, pois a história política tem registrado que essa tática não tem dado certo, a exemplo, dentre outros, da estratégia de renúncia do ex-presidente Jânio Quadros, que achava que voltaria fortalecido nos braços do povo o que não ocorreu. 


O presidente está isolado em razão da crise de forças dos poderes, e esse isolamento, protagonizado pela inabilidade política do poder executivo, não é bom para o governo, só trará dificuldades em avançar na continuidade das reformas estruturais que o país tanto necessita. É certo que a economia terá um baixíssimo crescimento, ou, provavelmente, um quadro de recessão em razão da turbulência política agravada pela crise da pandemia do Coronavírus. 


“Assim como não se pode mostrar a luz aos cegos, não se pode mostrar conhecimento aos ignorantes, nem decência e honestidade aos indecentes e desonestos.” 



Amaury Cardoso 

Blog de artigos: www.amaurycardoso.blogspot.com.br

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