quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

COM O ENFRAQUECIMENTO DO SISTEMA POLÍTICO E DOS PARTIDOS, O CENTRO POLÍTICO PRECISA APRENDER A DIALOGAR COM A SOCIEDADE!

 PONTO DE VISTA DE AMAURY CARDOSO



Há tempos venho afirmando em minhas conversas com amigos, palestras e publicações no meu blog de artigos que a crise política que ocorre no mundo como um todo, e em especial no Brasil, que atinge mais diretamente os partidos de viés de esquerda, esta vinculada diretamente a crise da democracia representativa.


Partindo do pressuposto que os partidos são definidos pelo que defendem, mas também pelas suas atitudes e posições adotadas diante de questões relevantes a sociedade, tenho destacado a ênfase dada pela corrente conservadora ao debate sobre costumes, por ter se tornado peça-chave no tabuleiro político e que percebo estar criando um impasse difícil para a esquerda que resiste em adotar uma mudança de diretriz estratégica, em especial sobre o tema.


No processo histórico político os partidos de esquerda se diferenciaram dos partidos de direita pelo seu posicionamento político em defesa dos direitos sociais e, consequentemente, em defesa do avanço da justiça social. Contudo, o poder financeiro do Estado, que sustentava políticas públicas distributivas, vem sendo corroído, em especial nos últimos 15 anos, afetando diretamente o orçamento público, associado ao alto déficit do sistema de seguridade social que fizeram com que a principal política pública da esquerda, baseado em programas sociais distributivos, se inviabilizasse. 


Outro relevante fato surge no início da segunda década do século XXI (2013), que foi o fortalecimento dos movimentos sociais independentes, portanto sem vinculação partidária, que se amplia através das redes sociais, e trás consequências diretas causando o enfraquecimento do sistema político, tirando o poder dos partidos como instrumento de representação e voz da sociedade.


Por sua vez, os partidos políticos ignoram essa ameaça e não adotam a estratégia de incorporar as pautas de interesse da sociedade, e já em discussão dentro dos movimentos, fazendo o caminho suicida de continuarem fechados ao debate de interesse da sociedade do século XXI, tendo como consequência o aprofundamento do enfraquecimento da democracia representativa, que tem causado reflexos fortes no atual sistema político arcaico e desconectado com a sociedade.


É fato que a falta de comunicação com a base da sociedade tem sido um dos principais motivos do enfraquecimento da democracia representativa, associado ao não surgimento de novas lideranças com credibilidade política e de visão moderna alinhada com as novas demandas da sociedade urbana. Faltam projetos voltados às novas demandas da sociedade, em transformação, do século XXI, aliada a uma comunicação eficaz que reconquiste as classes populares, altamente descrentes por serem as maiores vítimas da corrupção sistêmica na máquina pública. 


Nessa polarização entre esquerda e direita os conservadores estão levando vantagem, pois estão sendo mais eficazes na construção da maioria junto à sociedade.


Saindo da polarização dos extremos políticos, rejeitados por metade da sociedade brasileira, entra em cena o Centro Político que precisa se aglutinar e encontrar uma liderança madura e com perfil moderno, gestor de comprovada experiência e alto grau de competência administrativa, que, preferencialmente, não possua viés político populista, que soa demagogo.


Do ponto de vista da teoria política a definição teórica da corrente política de centro não é muito clara. Enquanto a Esquerda Política é definida como um segmento voltado para as lutas pela igualdade social, econômica e política; e a Direita Política como um segmento preocupado com questões ligadas a segurança e forças de mercado com ideia do Estado mínimo, o Centro Político é formado por forças políticas moderadas, incorporando até certo nível uma preocupação com a igualdade, bem como a preocupação de assegurar as condições de liberdade, valorizando as instituições, com o equilíbrio das funções do Estado – sem muita intervenção, porém não aceitando a ausência da presença do Estado em questões fundamentais para a sociedade.


O Centro Político precisa urgentemente aprender a dialogar com uma maior parcela da sociedade que anda descrente e desconfiada em relação às instituições, trabalhando o imaginário de uma parte significativa da sociedade que está rejeitando a política em razão de suas velhas práticas. Para isso o Centro Político terá que ser capaz de convencer a sociedade de que irá abrir a possibilidade de sua maior participação no processo de definição de políticas públicas e implantação de metas prioritárias de governo.


Fica a expectativa: Será que o Centro Político irá encontrar já para as próximas eleições, um nome que reúna essas qualidades, que, no meu entender, são pré-requisitos imprescindíveis para desbancar a polarização eleitoral entre os extremos políticos?


Amaury Cardoso

Blog de artigos: www.amaurycardoso.blogspot.com.br

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