Atos de insensatez devem ser evitados ao máximo, pois seu desdobramento e grau de consequências são imprevisíveis, porém terríveis. A saída do ministro Sergio Moro, em razão do conteúdo de suas justificativas feito em pronunciamento em sua coletiva de imprensa, coloca o governo do presidente Bolsonaro em situação política extremamente delicada, pelo fato de Sergio Moro ter deixado claro sua insatisfação com a forma do presidente tratar da demissão do diretor geral da polícia federal, delegado Maurício Valeixo.
Importante destacar a sua indagação sobre o porquê da saída do Delegado Valeixo, uma vez que o mesmo estava cumprindo com o devido rigor e competência técnica as suas funções afrente da instituição. Portanto, no seu entender, não ficou devidamente esclarecido o real motivo da demissão do diretor geral da Polícia Federal. Sergio Moro afirmou não ser admissível retroagir no combate a corrupção, e que a interferência política na Polícia Federal, comprometendo sua necessária autonomia, não seria por ele, na função de ministro, admitida. É fato que o ministro Sergio Moro vinha tendo uma conduta transparente e extremamente responsável na condução de suas funções no ministério que comandava, e que a sua decisão de sair do governo o deixa mais forte politicamente perante a opinião pública.
Entendo que essa decisão do presidente Bolsonaro precisa ser entendida pela sociedade. Afinal, porque o presidente da república vinha insistindo em interferir na Polícia Federal? Qual a real intensão de quebrar a autonomia da instituição da Polícia Federal através de interferência política? Por ser a polícia federal uma instituição do Estado e não do governo, a mesma não deve ter a sua autonomia de trabalho garantida?
O presidente em campanha para sua eleição assumiu a bandeira do combate intransigente “doa a quem doer” a corrupção, e recebeu em razão disso um grande apoio da sociedade que, indignada, não aceitava a continuidade de um grupo político que havia institucionalizado a corrupção sistêmica na maquina pública e se locupletado com os altos esquemas dessa corrupção. Ao se eleger convidou o então juiz Sergio Moro, principal símbolo do combate à corrupção em nosso país, para compor o seu governo a frente de um “superministério” que reuniu a pasta da justiça e da segurança pública, e dando a ele “carta Branca” para aplicar as políticas publicas que entendesse necessárias. Isso não aconteceu e tem que ficar claro o por que!
Em meio a uma crise de pandemia de coronavírus que o país atravessa cujo estrago a economia ainda é imprevisível, mas que a recessão é um fato, o presidente tem tomado atitudes que tem gerado crises política desnecessária agravada internamente pelo fato dele enfrentar dois superministros de uma só vez, Sergio Moro, que pediu demissão, e Paulo Guedes, que se encontra desconfortável.
Percebo que a saída do ministro Sergio Moro, embora ele não tenha deixado claro em seu pronunciamento, tenha, também, a ver com o fato do presidente Bolsonaro estar se aproximando de figuras políticas, no mínimo polemicas, líderes do “Centrão” em especial os ex-deputados Roberto Jeferson, Valdemar da Costa Neto e Ciro Nogueira, todos envolvidos em esquemas de corrupção.
O presidente deveria deixar de perder tempo com crises políticas que deveriam ser evitadas, e passar a tratar de questões sérias e prementes que estão no campo da prioridade que é o de atenuar os impactos econômicos da pandemia e, principalmente, adotar medidas para conter a disseminação do coronavírus, que no momento é a ameaça real.
Importante também destacar que o presidente se encontra diante de um cerco que se construiu em torno dele, que, em grande parte, ele poderia ter evitado e não o fez, razão pela qual passa a ter uma parcela de culpa de se encontrar em situação de isolamento diante dos demais poderes da república.
O presidente tem errado muito ao deixar de fazer política e ter apostado no confronto direto e demasiado, e pior, em várias frentes, sem ter tido o cuidado de se resguardar, construindo um razoável lastro político. Faltaram estratégia e sabedoria política, pois não dá para brigar com todos ao mesmo tempo.
A história política brasileira está repleta de exemplos do fracasso de quem jogou esse jogo errado no campo político, nessas condições, e perdeu. Acredito que a luta para tentar mudar as regras do atual sistema político do “toma lá da cá”, só tem chances de sucesso se estiver alicerçada em uma boa estratégia e for adotada em doses homeopáticas de combate e, principalmente, em sintonia com o anseio de grande parcela da sociedade, a fim de obter o seu importante apoio. De outra forma fica difícil vencer o “Mecanismo” que existe há tempos. Provocar a saída do ministro símbolo desse combate foi um erro político gravíssimo.
Diante da saída do ex-juiz Sergio Moro, fica imprevisível medir as consequências que advirão. Preocupa-me, também, a proporção das sequelas no campo político e econômico que ficará para o presidente Bolsonaro administrar agora e, em especial, após o fim da pandemia do coronavírus. Fica a pergunta: Será ele capaz de manter e avançar com a necessária governabilidade para terminar, com relativo êxito, o seu governo?
Amaury Cardoso
(www.amaurycardoso.blogspot.com.br)
Não creio que consiga .
ResponderExcluirComo sempre muitíssimo proveitoso dr.
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