domingo, 15 de maio de 2016

UM BREVE RESUMO HISTÓRICO DO PROCESSO POLÍTICO BRASILEIRO.- ARTIGO: ABRIL/2016.

 É fato que um espectro ronda o mundo moderno. Não se trata mais da temida ameaça comunista, como nos fez crer Max no século passado. Hoje, o medo é o da não menos desafiadora crise de representatividade das instituições democráticas. O temor refere-se ao fato de as pessoas terem deixado de apoiar e confiar no Congresso, nos Partidos Políticos, na Presidência, nos Tribunais, dentre outras instituições.
Dentre tais instituições, os Partidos Políticos são os que mais se vêem ameaçados. O problema já foi detectado no mundo desenvolvido, onde cresce o argumento, de que o Partido Político tem se fragilizado no tempo.
Partindo da abordagem do processo histórico político e cultural da formação da sociedade brasileira, apresentada de forma distinta pelos dois autores que tomei como bases de minha abordagem são analisadas que a república brasileira atual herdou algumas características de seu período colonial e imperial. Parece difícil pensar que falar de uma história de trezentos anos podem nos ajudar a entender questões atuais. Porém, quando ouvimos ou lemos que no Brasil... a política é toda igual..., talvez possamos vincular ao fato de que, no império, o Partido Conservador e Liberal, deferiam um pouco, tanto no aspecto ideológico quanto na proposição de projetos. Talvez residam nesta dinâmica alguns indicativos do imaginário político atual.
Durante o período colonial (1500 a 1822) algumas instituições políticas do Estado brasileiro foram montadas seguindo características herdadas do Estado Português.
O período monárquico, que se caracterizou em três fases: 1- 1822/1830 – 1º Reinado; 2- 1831/1840 – Regência e 3- 1840/1889 – Proclamação da República; onde o poder moderador inaugura de certa forma, a perspectiva de que as decisões políticas são realizadas por uma pessoa só, idéia esta que irá se basear e fortalecer o nosso presidencialismo.
Durante o império, o Brasil era juridicamente um Estado unitário, mas era dividido em províncias, o que hoje chamamos de Estados. A figura do Imperador conferia estabilidade ao sistema político. Afinal, todo território nacional repartido em províncias era controlado por presidentes nomeados pelo próprio Imperador. No entanto, a rotatividade das nomeações provocava, por vezes, o contrário do desejado: instabilidade.
No Brasil, outro aspecto relevante, originado neste período foi a administração pública, igualmente herdeira de valores portugueses, donde se destaca o gosto do cartorialismo. No período colonial, destaca-se, também, que havia forte unidade entre as elites políticas e econômicas apesar da existência de dois partidos – o Conservador e o Liberal, onde ambos tinham como idéia central a manutenção da ordem para poder governar.
Havia, porém, diferença entre os dois partidos contra o grau de centralização do poder central: os liberais lutavam por mais autonomia provincial, desejavam maior descentralização; os Conservadores pregavam maior subordinação das províncias ao poder central, desejavam, portanto, manter o grau de centralização do poder exercido pelo Imperador. Esta seria a fonte do conflito entre as elites que culminaria na Proclamação da República.
Outro aspecto de grande influência no processo político brasileiro foi o fato das elites brasileiras se estabelecerem em torno de consensos mínimos, dentre os quais o controle da ordem pelo Estado. O Estado tinha o principal papel de organizar a produção. Percebe-se, portanto, que o Estado brasileiro foi construído como uma instituição forte e centralizadora.
Oliveira Vianna coloca o Estado como tendo origem num período com forte ligação ao feudalismo, herdada da nação portuguesa, sendo que teriam se formado a partir dos clãs feudais chegando aos clãs eleitorais e, conseqüentemente, as alianças e Partidos Políticos. Este ponto de vista vai de encontro ao pensamento de Raymundo Faoro no tocante a sua afirmação de Portugal ser uma nação que já nasce moderna, portanto sem ter conhecido o feudalismo.
Nesta análise afirma-se que tivemos uma origem feudal, em virtude do nosso processo de colonização.
Em sua obra “Os Donos do Poder”, Raymundo Faoro traça um parâmetro onde afirma que a sociedade brasileira recebe claras heranças portuguesas, que teriam tido a sua origem o período em que fomos colonizados por Portugal, o que esta análise procura mostrar a influência ocorrida no período colonial e imperial.
No aspecto da formação do eleitorado no Brasil, nas concepções de Oliveira Vianna, que destaca a formação dos clãs eleitorais e a participação da massa, conceituada por ele como “povo-massa”, onde o eleitorado se constitui a partir do povo a medida que for mais conveniente para a elite burguesa deste país consolidar seus interesses. Vitor Nunes Leal corrobora com este pensamento em sua definição sobre o coronelismo, através do “voto de cabresto”, que esta análise deixa claro que este aspecto cultural no sistema eleitoral brasileira se estende até os dias atuais.
Diante desta análise, busco afirmar que os reflexos do processo histórico – político brasileiro se mostra na sociedade contemporânea, onde ainda vigora a relação política personalista e direta entre a liderança e o eleitor, mesmo que sempre de maneira pontual, em períodos eleitorais.
Em face da nossa abordagem evolutiva do processo político eleitoral brasileiro, em certa medida, pergunta-se se não estaríamos avançando para uma sociedade de massas, no sentido negativo; pouca organização partidária ou de outra natureza, refém da idéia de democracia como o momento do voto, muito sensível aos aspectos emocionais e mergulhados no contexto da moral punitiva. Em outras palavras continua-se vivenciando uma sociedade de tipo Liberal-Autoritária, no qual a paixão se traduz na política pela busca do melhor candidato, cujo critério seria o aspecto performático.
                                                                                                        Amaury Cardoso
                                                                                 Blog: www.amaurycardoso.blogspot.com
                                                                                 Site: http://www.fug-rj.org.br

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