Sinceramente, o
resultado das eleições de 2018, não me surpreendeu. O clamor por renovação ganhou
força a partir de 2013 e as manifestações de desencanto e indignação com a
corrupção na política e a ineficiência na gestão pública, só aumentaram. Os
atores políticos que subestimaram e preferiram ignorar o clamor da sociedade
por mudanças no sistema político e eleitoral, foram, na grande maioria, rejeitados
nas urnas. O fato é que estas eleições desorganizou o sistema
político-partidário que durante anos ditou as normas no país.
Essa eleição deixa
claro que o atual sistema político pós-nova república se esgotou. O golpe final
veio diante da crise de valores morais e ético que assolou a classe política
iniciada em 2014 em razão dos escândalos evidenciados nas etapas da operação
lava jato, que implodiu a credibilidade da maioria dos partidos política junto à
sociedade que se viu indignada e em desencanto com a velha prática política. O
discurso do combate a corrupção, a impunidade e privilégios tiveram um grande
eco nas eleições de 2018.
Além do apelo do discurso
anticorrupção, o tema segurança pública e a defesa dos valores familiares,
foram priorizados pelo eleitor. Forças tradicionais da política, em várias
regiões do país foram derrotadas provocando uma renovação na média de 50%, a
maior dos últimos 20 anos, na câmara federal e na maioria das assembleias legislativas,
sendo que no senado federal, chegou a 85% onde de 54 cadeiras foram renovadas
46. Os grandes partidos tiveram suas bancadas reduzidas, o que causou um abalo
nos partidos tradicionais, evidenciando uma clara mudança no eleitorado
brasileiro.
Essa eleição também
encerra um longo ciclo de polarização entre PT e PSDB e pulveriza a
representação partidária, deixando de existir a supremacia de grandes partidos
sobre as pequenas correntes partidárias.
Fazendo um comparativo da
composição ideológica na câmara federal entre as forças de esquerda, centro e
direita nas três eleições regionais/nacionais (2010-2014-2018), temos o
seguinte quadro:
ESQUERDA:
Em 2010 elegeu 126 parlamentares;
Em 2014 Elegeu 138 parlamentares;
Em 2018 Elegeu 137 parlamentares;
· CENTRO:
Em 2010 elegeu 157 parlamentares;
Em 2014 elegeu 137 parlamentares;
Em 2018 elegeu 75 parlamentares;
· DIREITA:
Em 2010 elegeu 190 parlamentares;
Em 2014 elegeu 238 parlamentares;
Em 2018 elegeu 301 parlamentares;
Outro dato importante a
ser comparado, é com relação à participação de mulheres na câmara federal entre
as eleições de 2014 e 2018. Em 2014, foram eleitos 462 homens e 51 mulheres, já
em 2018 foram eleitos 436 homens e 77 mulheres o que configura um aumento da
representação feminina em 51% em comparação a 2014. Contudo, ainda a quem do
peso eleitoral do voto feminino do país.
O resultado das
eleições de 2018 deixa claro que ela foi tomada por uma forte onda conservadora
que seduziu grande parcela da sociedade que se vê amedrontada pelo alto índice de
violência, associada a grande indignação com o atual processo político que se
vê afundada na lama da corrupção.
Cabe destacar que os
novos eleitos não podem deixar de priorizar o compromisso com a garantia e
avanço da democracia, bem como não fugir da responsabilidade de realizar
reformas estruturais, fundamentais para o momento que o Brasil atravessa, a
começar pela reforma política e eleitoral. A sociedade tem sinalizado no
sentido da mudança desse sistema político aristocrático e corrompido.
Por fim destaco, por
concordar, com o ponto de vista do imortal e jornalista Merval Pereira ao
afirmar que “De forma clara e plebiscitária, a tese do golpe foi rechaçada. O
povo chancelou o impeachment de Dilma e enterrou a narrativa do golpe”.
Amaury Cardoso
Presidente da Fundação
Ulysses Guimarães do Estado do Rio de Janeiro
www.amaurycardoso.blogspot.com.br
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