domingo, 23 de setembro de 2018

O TEMPO PERDIDO NO AVANÇO POLÍTICO. - ARTIGO: Setembro/2018


Fazendo uma retrospectiva dos momentos políticos vividos pela minha geração, tendo passado por longo tempo (1964 à 1989) sem eleições gerais para presidente, período de cassações, perseguições política e proibições de manifestações, vivi intensamente um movimento de resistência ao regime militar, participei de campanhas fundamentais para o restabelecimento do regime democrático de pleno direito.


Recordo-me da campanha pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, que permitiu a volta dos exilados, a campanha das Diretas Já e a campanha da Redemocratização, com a importante eleição indireta de Tancredo Neves a presidente no colégio eleitoral, que pôs fim ao ciclo de mais de 20 anos de governo militar, depois as passeatas pelo impeachment de Collor e, logo após, o movimento pela estabilização da economia, em meados dos anos 90, realizadas no governo FHC, e finalmente, assisti a eleição de Lula e o avanço do processo social da década passada. As conquistas foram lentas, mas alimentavam o sentimento de querer mais.


Com tristeza, percebo que essas lutas políticas que alimentaram os meus sonhos de juventude de mudar o Brasil, embora tenham provocado mudanças importantes, estão demorando a se concretizarem. É angustiante você perceber que seus sonhos do passado, sonhos e ideais políticos de 30 anos atrás, com o passar do tempo se tornam mais distantes.

Os processos eleitorais dos últimos anos, e o deste ano com mais evidência, tem revelado que o ciclo a que me referi acima, iniciado com o golpe militar de 64, esta terminando. Os partidos de hoje passam ao largo da maioria das pessoas, em especial para a juventude em razão do esgotamento de suas propostas, confirmando um quadro institucional partidário falido.


O que vivíamos a 30 anos atrás, a mobilização das ruas levantando a bandeira das eleições diretas, hoje se reflete numa descrença no processo político eleitoral, com a juventude inclinada para o voto branco e nulo, e muitos não interessados em se inscrever para votar, com o agravante do considerável número de abstenções.


Essa recusa é sintomática, que atinge diretamente os políticos e a instância partidária. Essa mensagem precisa ser entendida como advertência e alerta no sentido da necessidade da melhora da qualidade política, onde os valores morais e éticos sejam primordiais, condição fundamental ao aperfeiçoamento da democracia representativa.

A cada processo eleitoral fica mais claro que a sociedade não aceita mais “alianças” para sustentação da tal “governabilidade” em troca de espaços de poder, que passa a ser sustentada por uma base fisiológica e corrupta, com forte aparelhamento partidário, a exemplo do projeto de poder construído nos 13 anos e meio de governo do PT, que foi, a meu ver, responsável pelo aprofundamento da vergonhosa degeneração de práticas políticas corruptas. A polarização dessa eleição entre os eleitores anti-petista e os simpáticos ao lulopetismo confirmam a indignação e desencanto de uma grande parcela da sociedade, que em resposta consagram a vitória daquele que incorpora o sentimento anticorrupção e anti PT. A decepção com os erros no campo moral e ético agravados no governo do PT forjou o fenômeno Bolsonaro.


Essa perda de confiança e indignação com as práticas de governabilidade que se sustentam no aprofundamento da sucessão de escândalos praticados no governo petista gerou uma crise institucional que atingiu frontalmente a necessária decência no trato da coisa pública, que precisa ser contida.


Não podemos nos eximir da responsabilidade de provocar a necessária mudança e, tão pouco podemos perder tempo. O novo congresso, cuja renovação poderá influenciar nesse sentido, devido às evidências colhidas nesta eleição, onde a sociedade deixou clara sua rejeição e intenção de não aceitar mais o atual, viciado, excludente e elitizado jogo eleitoral, razão pela qual a reforma política não tem como não entrar na pauta do novo Congresso. Esta eleição é uma prova incontestável de que o atual sistema político eleitoral esta falido.


Não há outro caminho para a regeneração senão as urnas oficializando a mudança.
Contudo, a mudança nem sempre é garantia de avanço.




Amaury Cardoso
Presidente Estadual da Fundação Ulysses Guimarães/RJ

Blog: www.amaurycardoso.blogspot.com.br


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