O STF atravessa uma crise de sérias conseqüências diante da sua frágil
credibilidade junto à sociedade. Depois do episódio ocorrido com o senador
Renan Calheiros, a época presidente do Senado, que na condição de réu viu sua
permanência na linha sucessória da presidência da republica e, conseqüentemente
sua condição de presidente do senado ameaçada, o que acabou tendo um desfecho
esdrúxulo de ficar impedido de constar na linha sucessória, mas continuar a
frente da presidência do senado federal. Houve outro episódio de extremo
desgaste ocorrido com o senador Aécio Neves, que fora, provisoriamente,
afastado do exercício do mandato tendo que permanecer em casa, e por pressão do
senado federal o STF abriu mão de sua prerrogativa concedendo ao senado o poder
de revisar decisão do supremo relativa aos senadores.
O episódio ocorrido na sessão do Supremo Tribunal Federal do dia
22/03/18, onde por maioria seus ministros concederam uma liminar como salva
guarda ao ex-presidente Lula, com o objetivo claro de impedir a sua prisão, foi
uma vergonha. No momento em que o STF aceita, por 7 votos a favor e 4 contra,
julgar o pedido de habeas corpus do petista, fica caracterizado para a grande
maioria da sociedade que a Suprema Corte do Brasil não honra sequer as próprias
decisões.
A Súmula 691 determina que a Corte não tome conhecimento de habeas
corpus rejeitado por instância inferior, no caso o Supremo Tribunal de Justiça,
tendo a quinta turma do STJ negado por unanimidade o provimento do pedido
pautado na jurisprudência em
vigor. Fosse o solicitante do pedido de habeas corpus um
cidadão comum por certo passaria a Páscoa atrás das grades.
O princípio da presunção da inocência não impede o início da execução
provisória da pena. Esse é o entendimento jurídico em vigor, onde a execução
provisória não desrespeita a Constituição. Assisti estarrecido o STF acatar uma
liminar verbal solicitado pelo advogado do Lula, concordando liminarmente
mantê-lo solto até o julgamento do habeas corpus, que ocorrerá depois do
descanso do feriado da semana santa. Triste absurdo!
Os magistrados do STF não conseguem enxergar o óbvio: a visão que a
sociedade tem é a de que a Corte foi transformada em escritório de advocacia de
bandidos notórios e de interesses escusos. O STF é motivo de vergonha! Como
pode o STF cogitar julgar outra vez o tema da prisão em segunda instância se
tomou a decisão de repercussão geral sobre a matéria em outubro de 2016?
Difícil não acreditar que o fato do STF voltarem a discutir a prisão em segunda
instância porque o TRF4 recusou os embargos de declaração da defesa de Lula e,
com essa decisão, sua prisão será decretada.
Concordo com os que afirmam que se o STF aceitar o habeas corpus que
livra o Lula da prisão estará readmitindo a volta da impunidade, o que será
horrível, significando que Lula e todos os condenados com sentença confirmada
estarão livres.
O dilema que envolve o julgamento do habeas corpus do Lula é de extrema
gravidade. Caso seja concedido pelo STF, não só Lula, mas todos serão
beneficiados. Abre-se a porta para a impunidade, o que será um retrocesso
jurídico.
Amaury Cardoso
Presidente da FUG/RJ
Blog:
www.amaurycardoso.blogspot.com.br