A Democracia Brasileira
está em águas turvas, uma vez que a percepção da sociedade é a de que os atuais
atores políticos não merecem confiança em virtude da amplitude do envolvimento
da grande maioria dos partidos políticos, onde suas principais figuras estão
sendo denunciadas, indiciadas e alguns já viraram réus, pela operação
Lava-Jato, que se qualificou em o maior escanda-lo de corrupção do mundo.
Diante do
aprofundamento das investigações e a amplitude de oligarcas no campo político e
econômico atingidos, com alguns presos e muitos em vias de ter a prisão
decretada, o Congresso Nacional, mortalmente atingido, se articula para tentar
se alto preservar, e em mais uma ação corporativista busca através de uma
desfaçatez anistiar o “crime do caixa 2”,
numa clara tentativa de golpear as investigações da operação Lava-Jato, que
neste mês (março/2017) completa três anos apresentando um significado
importante através do rompimento do ciclo de corrupção no país.
Outra questão que tem
sido objeto de entrave à necessária celeridade dos processos de investigação e
a questão do foro privilegiado que dá tratamento jurídico desigual a aqueles
que se beneficiam dele. A ministra Cármem Lúcia, presidente do STF, faz a
seguinte afirmação: “É preciso que se saiba o que fazer e como fazer. Tem que
ser discutido não pode ficar como está. Isso (foro) quebra a igualdade em
alguns casos de maneira flagrante”. Já com relação à possibilidade de anistia
do Caixa 2, afirma: “Caixa 2 é crime”. “Não existe essa história de caixa um ou
caixa dois ou caixa três. Se vier de dinheiro ilícito, constituem-se em
ilícitos previstos na legislação penal. E tudo que for ilícito é crime tem que
ser apurado e punido”.
Com o atual sistema
político e eleitoral em vigência acredito serem mínimas as chances de renovação
da classe política na proporção necessária que assegure uma quebra do sistema
que impõe a corrupção como modelo de parâmetro da pratica da velha política. A
corrupção sistêmica levou ao colapso a gestão do Estado. Sem enfrentá-la o país
não sairá da crise econômica e política. Segundo o historiador Marco Antonio
Villa, “A elite dirigente tem na corrupção seu instrumento de gestão da coisa
pública. Nos três poderes a corrupção é parte intrínseca do funcionamento de
uma república carcomida.”
Esse sistema tenta se
colocar imune às mudanças, onde seus beneficiários oligárquicos reagem a
qualquer tentativa de moralização, pois não conseguem se manter no poder sem a
reprodução da corrupção, e farão tudo para impedir a mudança do seu “Modus Operante”.
Um sinal da tentativa
de manutenção do sistema vem com a proposta de remendo no sistema eleitoral com
a retomada da tentativa de aprovar o projeto do “Voto em lista fechada”, onde a
direção partidária apresenta os candidatos em lista na ordem de sua preferência
possibilitando a manutenção dos mesmos que se alimentam e se beneficiam da
corrupção mantida pelo atual sistema, e o eleitor vota na lista na ordem
imposta pelo partido, perdendo, com isso, o direito de ter uma escolha pessoal,
ou seja, do candidato que melhor lhe inspire confiança e preparo.
Uma reforma eleitoral
minimamente responsável e séria, não pode se esquivar de deliberar sobre o fim
das coligações proporcionais, da instituição da cláusula de barreira, da adoção
do sistema do voto distrital e da extinção da figura do suplente de senador,
alem, é claro, da manutenção do fim do financiamento jurídico e da redução do
tempo de campanha e regulação de material de divulgação com vistas a torná-la
menos onerosa e mais igualitária.
A tarefa de
reconstrução de um novo sistema político, com novas lideranças em cena, caberá à
sociedade através de seu processo de escolha, sendo imprescindível a sua
participação e esclarecimento político, que lhe assegurará o voto qualificado.
Amaury Cardoso
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