domingo, 10 de agosto de 2014

O CORONELISMO POLÍTICO PRATICADO NOS CENTROS SOCIAIS. ARTIGO: JULHO/2014

O Rio de janeiro outrora cidade maravilhosa, antiga capital da república, ambiente efervescente onde as decisões políticas nacionais eram tomadas, berço cultural onde eventos aconteciam diariamente, a arte em todos os níveis se desenvolviam, cidade mãe da bossa nova, movimento que ganhou o mundo, e dezenas, centenas de atividades que faziam do Rio de Janeiro atração e lugar desejado por todos.

Com a mudança da capital, em 1960, para Brasília, o Rio de Janeiro aos poucos foi perdendo a qualidade de vida que faziam dele exemplos para o país. É relevante notar que políticos de diferentes ideologias debatiam idéias fervorosamente, porém diferentemente de hoje, eram de alto nível intelectual, defendendo suas idéias com argumentos sólidos fundamentados em suas convicções. O que vemos hoje? Os serviços de saúde precários incapazes de atender a demanda, o transporte ineficiente, com engarrafamentos permanentes, a educação num nível extremamente baixo onde os alunos sem condições, devido ao ambiente social desfavorável, assistem aulas dadas por professores desmotivados com salários que mal dão para o seu sustento.

A cidade inchada devido a famigerada especulação imobiliária e ocupações irregulares agoniza. Por outro lado os políticos locais que deveriam lutar para que esse caos minimizasse, de forma acintosa procuram se beneficiar dessa insuficiência e ineficiência de serviços, não se interessando em melhorar esse quadro, se utilizando, face essas carências, do artifício do clientelismo e assistencialismo para “comprar” votos, através do cúmulo da criação de “Centros Sociais” onde oferecem serviços de baixa qualidade a população, quando deveriam cobrar do poder público o cumprimento das atribuições  que lhe são exclusivas.

É vergonhoso, esses políticos deveriam ser alvo de repúdio por parte da população e o Ministério Público investigá-los levando-os de volta ao anonimato de onde nunca deveriam ter saído.

A ampliação da utilização de “Centro Sociais” vinculados a atividade política, nos quais candidatos demagogos oferecem serviços a eleitores em troca de votos, configura-se em clientelismo descarado, explicitando em terras fluminenses o exercício da política no mais atrasado dos sertões, retornando a época do coronelismo político, ou seja, “compra” do eleitor através do fornecimento de serviços do quais já tem direito.

Os “Centros Sociais” tem dissiminado um clientelismo que distorce e desqualifica a representação política, por se utilizar da troca de favores estabelecendo o vínculo de gratidão do cidadão (eleitor) com aquele que o beneficia através dos serviços que oferece, tais como: tratamento dentário, consulta médica, orientação e apoio jurídico, cursinhos de baixa qualidade profissional e até mesmo “ajuda” em dinheiro, que passa a ser retribuído pelo beneficiado por votos, fato que tem sido recorrente nas regiões mais atrasadas e carentes, com deficiências na prestação de serviços público.

A pratica da política clientelista é um sintoma da degradação na forma de fazer política. A sensação absurda que se tem é a de que os políticos que se beneficiam desses métodos não se interessam pela mudança desse quadro, e não trabalharão para que serviços essenciais a população, como saúde e educação, melhorem de qualidade.

O clientelismo praticado nesses “Centros Sociais” é um eficaz instrumento de distorção da representatividade, cuja a qualidade é essencial para o aprimoramento da democracia. A demagogia, o clientelismo e o “toma lá dá cá” na prática política cresceu em alto grau, fazendo vítima o sistema eleitoral e político, que pela distorção sofrida amarga a indiferença de um eleitor indignado e incrédulo diante das imoralidades que são praticadas por aqueles que deveriam honrar com seriedade, correção e eficiência o mandato recebido.

É lamentável ter que admitir que do ponto de vista da consciência de muitos se aceite o princípio do “rouba mais faz”, “me ajuda com alguma vantagem que eu voto” e do “toma lá dá cá”, o que vem a comprovar que a ética não é uma questão decisiva para eleger e ou deixar de eleger em nosso país, e, infelizmente, exemplos são muitos.

Concluo com uma citação bem apropriada ao tema do poetinha Vinícius de Morais, que a cada eleição se torna mais atual: “POLÍTICOS, MELHOR NÃO OUVI-LOS. MAS, SE NÃO OS OUVIRMOS, COMO SABÊ-LOS?”.

É certo afirmar que, melhoramos a qualidade da política qualificando o nosso voto.



                                                                   Amaury Cardoso
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