sexta-feira, 23 de maio de 2014

UPP, UMA POLÍTICA PÚBLICA QUE NÃO PODE RETROCEDER. ARTIGO: MAIO/2014.

Esta cada vez mais claro para a maioria da sociedade que não há outra alternativa para o combate a violência e criminalidade senão a de consolidar o programa do governo do estado do Rio de Janeiro das Unidades de Polícia Pacificadora – UPPs.

Temos que ter a consciência de que se trava uma luta com um adversário poderoso, que é a força econômica do comércio milionário e ilegal das drogas, e a atual política de segurança em nosso estado, pela primeira vez, ameaça o status quo do crime internacional de drogas que por décadas alimentou e se utilizou do apartheid social que se estabeleceu em territórios em nosso estado.

Consolidar as unidades pacificadoras já instaladas, e atualmente sobre ataques do crime organizado, é uma decisão acertada que o governo já tomou. Contudo, expandir o programa de pacificação com a criação de mais UPPs, se reveste de cuidados que garantam que o programa seja acompanhado de medidas administrativas, operacionais e sociais capazes de estabelecerem e consolidarem canais de integração com as comunidades atendidas pelo programa, evitando os focos de conflito, já identificados, com os moradores.

Os resultados alcançados com a implantação do programa das UPPs, são inegáveis mas, que precisa haver avanços, principalmente, no aspecto da integração com os moradores, que mesmo aprovando o fato de serem “libertados do julgo do tráfico”, se sentem inseguros com a cultura policial de desrespeito e troculência.

Entendo que já foram dados os primeiros passos nesse sentido com a criação da Ouvidoria das UPPs, que tem por objetivo estabelecer um canal de comunicação direta com a comunidade e suas lideranças. Outra medida importante foi a decisão de criar os Conselhos de Gestão Comunitária, um avanço no programa dos Conselhos Comunitários de Segurança, que ajudei a implantar e atuei como o primeiro coordenador nas Áreas Integradas de Segurança Pública - AISP, que busca abrir um canal mais intenso de participação do cidadão que mora em comunidade pacificada, na gestão e decisão local das ações de segurança pública praticadas pela UPP.

As respostas aos graves problemas existentes nas áreas onde o poder do estado, por décadas, esteve ausente vão além de intervenções policiais, que devem ser mantidas e intensificadas, passando por ações profundas que transformem as áreas de favelas em bairros, onde saneamento, urbanização, saúde e educação em horário integral são fundamentais e essenciais para a garantia da transformação social e cultural que se pretende.

A nossa polícia precisa reavaliar seus conceitos, forjados através de uma cultura de segurança ultrapassada, mudando a visão de grande parcela da sociedade de que a polícia é reconhecida como agente da violência e, especialmente, contra os pobres.

Os protestos estimulados e promovidos pelo tráfico, criam uma sensação equivocada de que a polícia e não os traficantes, são os responsáveis pela violência. Essa tática precisa, urgentemente, ser desmontada, com vistas a consolidar a confiança e consequente apoio da população, em especial os moradores das comunidades envolvidas no processo de quebra do domínio do medo aplicado pelo tráfico.

A confiança da população no programa das UPPs é um poderoso aliado que irá viabilizar os esforços de controle e pacificação dos territórios ocupados há cerca de 40 anos por bandidos, hoje, criminosos com ligação com o tráfico internacional de drogas.

Outro grande estigma a ser vencido é com relação a visão da população de uma polícia corrupta e intolerante, que tem sido o grande calcanhar de Aquiles que mina a credibilidade e confiança na nova política de segurança do governo estadual, que já mostrou grandes resultados, mas que esta ameaçando a sua eficiência e avanço no sentido do necessário aperfeiçoamento. Essa é uma questão que, infelizmente, não se resolve a curto prazo, e sim a longo tempo, se iniciado através de uma reforma radical na polícia e, paralelamente, estabelecendo enfoque nas ações sociais.

A defesa intransigente das UPPs deve vir acompanhadas de respostas imediatas e firmes aos desvios pontuais de conduta dos profissionais de segurança pública, através de seu saneamento e qualificação profissional, além dos imprescindíveis investimentos sociais, que, devido ao longo tempo de ausência, precisam acontecer com maior velocidade e abrangência. Essas correções de rumo são vitais para evitar a tragédia de se abrir a possibilidade de risco de retrocesso da corajosa e melhor política pública de segurança já implantada. E esse mérito é do estado do Rio de Janeiro.

O poder público precisa continuar agindo com firmeza para que a lei seja cumprida, evitando que o atual momento de tensão em algumas favelas seja aproveitado para se espalhar a violência.

A onda de justiçamento e atos de barbárie ocorridos no país, pelos casos que se sucedem, tem nos chamado a atenção pela frieza com que as pessoas estão tomando para si o direito de aplicar penalidades, muitas levadas a morte, se colocando acima da justiça e do poder do estado. Mas, esse comportamento humano, por ser de grande complexidade, será objeto de melhor análise para um futuro artigo.




                                                                    Amaury Cardoso
                                               Blog:    www.amaurycardoso.blogspot.com
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