quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O DESAFIO DO BRASIL DIANTE DAS TRANSFORMAÇÕES GLOBAIS. Artigo: Ago de 2013

O sistema político brasileiro durante décadas subestimou o poder das ruas e adotou uma linha de distanciamento que resultou na falta de sintonia com a sociedade, levando-a a cultivar o sentimento de descrédito com a classe política por não se sentirem representadas, e por perceberem que para a maioria dos políticos a cultura segundo a qual vale tudo para obterem o que lhes favoreça, ainda que em prejuízo dos avanços econômicos e sociais fundamentais para o desenvolvimento da nação e seu povo, é o que prevalece na sua tomada de decisões.
As razões da indignação e insatisfação da sociedade se sustentam não só na percepção do despreparo, atraso moral e ético e hábitos políticos de malfeitos de grande parcela dos políticos, mas, também, pela degenerescência dos serviços públicos, cuja a ineficiência perdura à décadas, irritando o cidadão, ampliando o seu pessimismo com relação a solução de seus problemas mais imediatos.
O sistema político está profundamente fragmentado, e por isso fragilizado, em virtude de uma série de escândalos que estão pondo a prova a credibilidade e integridade das instituições, em especial o congresso.
Estamos diante do esgotamento de um ciclo que ameaça o nosso futuro, e que exige dos governantes mudança de rumo, sob o risco do controle diante das indicações óbvias de crise nos campos: moral, ético, social e econômico.
O mundo dos próximos dez anos será, provavelmente, bem mais hostil do que o dos últimos quinze. A economia global nesse período crescerá menos e terá inflação mais elevada do que o período que antecedeu a crise financeira internacional de 2008.
O Brasil acumula deficiências estruturais, que, se não forem equacionadas ou significativamente minimizadas ao longo desta década, impedirão um crescimento econômico sustentado mais robusto. Entre elas, destacam-se o baixo nível de escolaridade e de capacitação da população; os gargalos na infraestrutura; as restrições a competitividade (elevada burocracia, legislação, carga tributária, brechas regulatórias, etc.); má qualidade do gasto público e baixa capacidade de inovação.
O quadro atual mostra que o nosso crescimento diminuiu, o déficit público cresce, os gastos públicos aumentam e a inflação volta a ameaçar com sinais de que insiste em subir. O que se percebe é que o governo brasileiro tem reagido com medidas fiscais pontuais e desacreditadas, se utilizando de truques contábeis e transferências de gastos a banco público, que não atinge o núcleo do problema, que é o de ajustar a nossa economia à nova fase do desenvolvimento capitalista global, revelando sua incapacidade de visão estratégica e definição de rumos que venham a atacar com precisão os gargalos que paralisam nossas potencialidades de obter um real crescimento econômico que possibilite recuperar o nosso atraso social.
·        Como avançar diante da realidade contemporânea, que é a da economia globalizada, com a demora na execução de projetos de investimento?
·        Como avançar diante da precariedade da nossa formação educacional e do nosso atraso de produção industrial de bens sem conteúdo científico e tecnológico?
·        Como crescer economicamente quando a qualidade da educação brasileira ainda é um forte obstáculo ao desenvolvimento de nossa economia?
·        Como avançar diante de uma taxa de investimento total da economia em torno de 19% do PIB? 
A crise é séria, visível e com fortes possibilidades de piorar. E ela se instaurou em nosso país diante da falta de estratégia para enfrentar os problemas estruturais, em todo o sistema, e de falta de percepção das tendências de longo prazo da economia. O fato é que ter indicadores econômicos positivos combinados com indicadores sociais marcados pela existência de 1/5 da população composta por pessoas pobres e de quase 1/10 por pessoas extremamente pobres é uma mácula do processo de desenvolvimento do país.
Diante desses desafios a serem superados uma definição é obvia. A população esta frustrada, cansada e desiludida. Superar esse sentimento exige daqueles que estão investidos da responsabilidade de promover as mudanças necessárias, a sensibilidade, a vontade, a competência e, acima de tudo, o compromisso com o avanço da justiça social, e para isso precisam entender a necessidade de governar com uma visão estratégica, de longo prazo, não adotando ações pirotécnicas de interesses político-eleitorais míopes.
Enquanto essa consciência não se confirma, que o povo exerça o seu direito democrático de ir as ruas pressionar as mudanças de que necessita, consciente da sua responsabilidade de que a mudança na sua representação depende da sua evolução cultural e política, fundamentais a definição qualificada da sua escolha. Enquanto essa realidade não chega, cabe-nos a indignação com as injustiças e atrasos a que somos submetidos.

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