O sistema político brasileiro durante décadas subestimou o poder das
ruas e adotou uma linha de distanciamento que resultou na falta de sintonia com
a sociedade, levando-a a cultivar o sentimento de descrédito com a classe
política por não se sentirem representadas, e por perceberem que para a maioria
dos políticos a cultura segundo a qual vale tudo para obterem o que lhes
favoreça, ainda que em prejuízo dos avanços econômicos e sociais fundamentais para
o desenvolvimento da nação e seu povo, é o que prevalece na sua tomada de
decisões.
As razões da indignação e insatisfação da sociedade se sustentam não
só na percepção do despreparo, atraso moral e ético e hábitos políticos de
malfeitos de grande parcela dos políticos, mas, também, pela degenerescência
dos serviços públicos, cuja a ineficiência perdura à décadas, irritando o
cidadão, ampliando o seu pessimismo com relação a solução de seus problemas
mais imediatos.
O sistema político está profundamente fragmentado, e por isso
fragilizado, em virtude de uma série de escândalos que estão pondo a prova a
credibilidade e integridade das instituições, em especial o congresso.
Estamos diante do esgotamento de um ciclo que ameaça o nosso futuro, e
que exige dos governantes mudança de rumo, sob o risco do controle diante das
indicações óbvias de crise nos campos: moral, ético, social e econômico.
O mundo dos próximos dez anos será, provavelmente, bem mais hostil do
que o dos últimos quinze. A economia global nesse período crescerá menos e terá
inflação mais elevada do que o período que antecedeu a crise financeira
internacional de 2008.
O Brasil acumula deficiências estruturais, que, se não forem
equacionadas ou significativamente minimizadas ao longo desta década, impedirão
um crescimento econômico sustentado mais robusto. Entre elas, destacam-se o
baixo nível de escolaridade e de capacitação da população; os gargalos na
infraestrutura; as restrições a competitividade (elevada burocracia,
legislação, carga tributária, brechas regulatórias, etc.); má qualidade do
gasto público e baixa capacidade de inovação.
O quadro atual mostra que o nosso crescimento diminuiu, o déficit
público cresce, os gastos públicos aumentam e a inflação volta a ameaçar com
sinais de que insiste em subir. O que se percebe é que o governo brasileiro tem
reagido com medidas fiscais pontuais e desacreditadas, se utilizando de truques
contábeis e transferências de gastos a banco público, que não atinge o núcleo
do problema, que é o de ajustar a nossa economia à nova fase do desenvolvimento
capitalista global, revelando sua incapacidade de visão estratégica e definição
de rumos que venham a atacar com precisão os gargalos que paralisam nossas
potencialidades de obter um real crescimento econômico que possibilite
recuperar o nosso atraso social.
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Como
avançar diante da realidade contemporânea, que é a da economia globalizada, com
a demora na execução de projetos de investimento?
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Como
avançar diante da precariedade da nossa formação educacional e do nosso atraso
de produção industrial de bens sem conteúdo científico e tecnológico?
·
Como
crescer economicamente quando a qualidade da educação brasileira ainda é um
forte obstáculo ao desenvolvimento de nossa economia?
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Como
avançar diante de uma taxa de investimento total da economia em torno de 19% do
PIB?
A crise é séria, visível e com fortes possibilidades de piorar. E ela
se instaurou em nosso país diante da falta de estratégia para enfrentar os
problemas estruturais, em todo o sistema, e de falta de percepção das
tendências de longo prazo da economia. O fato é que ter indicadores econômicos
positivos combinados com indicadores sociais marcados pela existência de 1/5 da
população composta por pessoas pobres e de quase 1/10 por pessoas extremamente
pobres é uma mácula do processo de desenvolvimento do país.
Diante desses desafios a serem superados uma definição é obvia. A
população esta frustrada, cansada e desiludida. Superar esse sentimento exige
daqueles que estão investidos da responsabilidade de promover as mudanças
necessárias, a sensibilidade, a vontade, a competência e, acima de tudo, o
compromisso com o avanço da justiça social, e para isso precisam entender a
necessidade de governar com uma visão estratégica, de longo prazo, não adotando
ações pirotécnicas de interesses político-eleitorais míopes.
Enquanto essa consciência não se confirma, que o povo exerça o seu
direito democrático de ir as ruas pressionar as mudanças de que necessita,
consciente da sua responsabilidade de que a mudança na sua representação
depende da sua evolução cultural e política, fundamentais a definição
qualificada da sua escolha. Enquanto essa realidade não chega, cabe-nos a
indignação com as injustiças e atrasos a que somos submetidos.