quinta-feira, 3 de março de 2022

O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO E SUA RELAÇÃO DIRETA COM A PERPETUAÇÃO DOS GRAVES PROBLEMAS SOCIAIS. - ARTIGO: MARÇO/2022.


 O sistema educacional brasileiro está na raiz da perpetuação dos graves problemas sociais. O atraso educacional e cultural imposto por décadas a expressiva parcela da população é um projeto de poder que vêm permitindo a elite brasileira o domínio através da imposição da ignorância a seguidas gerações. Entendo que este ciclo só será rompido através do avanço da consciência política dos cidadãos e cidadãs de nosso País, e para tal se faz necessário oportunizar educação de qualidade para todos e, dessa forma, livrando os oprimidos das amarras da ignorância educacional a que estão submetidos, e que os impede de provocar o processo de mudança que leve ao rompimento desse sistema perverso de domínio de massas.

A sociedade brasileira precisa estar na vanguarda do processo de discussão de um novo sistema político/eleitoral, forçando o Congresso Nacional a debater e promover uma nova ordem política, sem os vícios da enrraigada cultura política elitista, atrasada e excludente. Faço essa afirmação em razão de,  infelizmente, entender que a política a que estamos submetidos se apequenou, empobreceu, o que se comprova no descrédito quase que absoluto da classe política.

A sociedade brasileira contemporânea não acredita na política como força de ação transformadora, e percebem que a atual composição do parlamento brasileiro está comprometido com o sistema, ainda, vigente. Infelizmente a grande maioria da população não percebe a política como uma atividade humana fundamental, e que e´ a política que move com o destino humano. O Brasil precisa deixar de ser um País enfermo de desigualdades, de perversidade - ao negar qualidade nos serviços públicos básicos, em especial no campo da educação e saúde -, afundado na corrupção sistêmica e arauto da impunidade.

Até quando vamos viver sobre as amarras de um estado de cinismo e falsidade social, onde grande parcela do poder dominante continuará a fingir uma conduta moral que não possuem e, pior, cobram da sociedade que está sobre seu domínio. Esse sistema é responsável pela formação de uma sociedade falsa, moralista e apodrecida por um discurso artificial que pouco tem a ver com o cotidiano da vida das pessoas. Destaco a frase do filósofo Jacques Rousseau: "Tudo é perfeito, ao sair das mãos do criador de todas as coisas, e tudo degenera entre as mãos dos homens", ou seja, o homem nasce bom, e a sociedade o corrompe. As pessoas tem o direito de serem livres pensadores e não doutrinados pelo sistema no poder.

O conhecimento deve ser universalizado em todas as classes sociais. Isso é liberdade intelectual, é igualdade de oportunidades através da educação de qualidade para todos, independente de classe social, que universaliza o conhecimento. A educação e o conhecimento é a grande ameaça ao processo de domínio pela ignorância. Devemos ser críticos a verdades absolutas, mas essa condição, que é negada a massas de ignorantes educacional, só será transposta com a conquista do pensamento crítico que é possibilitado pela educação sem doutrina e de qualidade.

A educação liberta o indivíduo de qualquer processo de dominação, fazendo com que perceba que  ninguém tem a totalidade da verdade. As pessoas precisam perceber que  a história da humanidade é o grande marco das teses nas diversas ciências que balizaram o avanço e desenvolvimento científico, e que  o século XX entrou para a história como um período de guerra entre as grandes ideologias.

Na minha percepção a liberdade foi representada pelo liberalismo moderno responsável por novos direitos civis e políticos, a igualdade é fruto do socialismo que buscava estender a revolução no campo econômico, acabando com a diferença entre as classes oprimidas e opressoras e a Fraternidade transformou-se no facismo, o sonho de um novo elo social que unificasse um território, a língua e o povo numa identidade Nacional regida pelo estado.

O filósofo americano John Dewey afirmava que: "A democracia deve renascer a cada geração e a educação é sua parteira.". Anísio Teixeira foi um grande adepto da filosofia de John Dewey, e seu ponto de vista era a de que: "A educação escolar é o processo pelo qual se distribuem adequadamente os homens pelas diferentes ocupações da sociedade.". Através desse visão surge no Brasil o conceito de "Escola Nova", que trazia uma filosofia de liberdade de ensino e uma presença da escola técnica no ensino educacional brasileiro a partir do ideário de Anísio Teixeira.

O ano de 1968 foi a grande tentativa de questionar os fundamentos do nosso modo de vida, onde muitos entendem que foi o último momento em que as pessoas, não apenas alguns expoentes marxista, perguntaram se seria o último ano do sistema capitalista. É preciso ter clara a visão segundo Mortines Adller de que a crítica na primeira etapa nos permite uma visão panorâmica, na segunda etapa analisamos, entendemos partes dos detalhes e na terceira etapa passamos a ter a condição de criticar.

Outra questão importante é a de aceitarmos, não necessariamente concordando, diferentes saberes, sem aceitar que todos os saberes são válidos. Entendo que a pedagogia do ensino não pode ter como princípio a alienação do aprendiz. As instituições de ensino não podem sofrer a influência de aparelhamentos ideológicos, pois qualquer aparelhamento ideológico visa a alienação, ou seja, impedem a liberdade de pensamento crítico. A formação educacional deve seguir sem amarras ideológicas, e sim permitir a evolução do pensamento crítico e a consequente liberdade de escolha, inclusive do viés ideológico, que deve ser construído em razão da conscientização e convencimento de cada pessoa, sem perder a condição de respeitar a posição dos que pensam diferente. Afinal posição é pessoal, que se constrói e se modifica, ou não, com o tempo.

Após a reforma protestante é que o sistema de ensino fortaleceu-se e foi rompendo com a ideia de ensino da igreja católica e passou a ser utilizado como propagação de ideias, ou seja, uma "Educação Iluminista". No Brasil o iluminismo teve sua expressão inicial através do Marquês de Pombal, que expulsou os jesuítas e deu início ao ensino brasileiro no século XVI, fechando as escolas e mosteiros espalhados pelo Brasil.

No século XX, com a revolução industrial, o ensino pragmático ganha força em razão da necessidade de formação de mão de obra, e passou a utilizar métodos de ensino, através de uma educação massificada, que passa a ganhar protagonismo no combate ideológico, onde os alunos ganham o papel de agentes transformadores da sociedade.

A herança deixada na educação brasileira é a de fusão entre uma educação crítica e o ensino pragmático voltado para o trabalho, ou seja, educação para gerar agentes transformadores da sociedade e trabalhadores para o mercado. Hoje o que se percebe é que todos os que atravessam uma escola, com sua vida toda pela frente, um dia sairão do ciclo educacional para serem atores no nosso País. É na escola que os jovens conhecerão seus amigos, compartilharão o seu caráter e obterão a sua formação interior. Esse é um ciclo importante de sua vida.

É fato que os pais entregam para a escola grande parte da vida de seus filhos. O problema é que a educação brasileira a décadas vem se desqualificando, chegando a condição de ser uma das piores educação  no ranking do PISA. É claro que temos algumas exceções, onde poucas instituições de ensino fogem a regra do ensino desastroso.

Sempre que a discussão sobre atraso do ensino brasileiro vem à tona, o maior argumento é a falta de investimento, mas infelizmente não é só esse o maior obstáculo para mudar a triste realidade do ensino em nosso País. O fato é que se gasta com educação no Brasil o equivalente a 6% do PIB Nacional (algo em torno de 100 bilhões de reais) o que está  acima de vários países do ocidente. Acontece é que se gasta mal. devemos nos perguntar: Porque se gasta tanto na educação  brasileira, e tão pouco chega no ensino fundamental (Base do ensino).

A prioridade do destino dos recursos financeiros com educação é para as universidades. Essa realidade revela que o ensino no Brasil nunca teve a preocupação de educar a base (Creches, ensino fundamental e médio). O curioso é que os altos gastos com ensino superior tem produzido resultados fracos. Infelizmente temos uma realidade triste no meio acadêmico. Me refiro ao fato de termos uma precária formação pedagógica, o que acarreta em um corpo docente pouco capacitado para a realidade do ensino moderno contemporâneo.

Recentemente foi lançado o BNCC (Base Nacional Comum Curricular) que tinha como objetivo implantar um currículo unico obrigatório para todas as escolas, o que não é uma novidade no mundo. Esse método é utilizado em vários países e visa padronizar a educação básica, estabelecendo o mínimo que cada escola deve ensinar, permitindo a atualização da maior parte do currículo, onde o básico é a alfabetização, a ciências exata e os objetivos de aprendizagem.

Esse método fez com que muitos depositassem suas esperanças na melhora da qualidade do ensino brasileiro, o que infelizmente até agora não ocorreu. O método BNCC tem, em síntese, o seguinte objetivo: Formação de cidadãos críticos, cientes de suas responsabilidades sociais; cidadãos construtivos, engajados e reflexivos, ou seja, cidadãos produtos de sociedades. Traduzindo, o currículo deixa de estabelecer metas e conteúdos basicos para o essencial, reduzindo significativamente a margem das escolas.

Entendo que o papel da escola seja o de formar pessoas, despertar e trabalhar sua imaginação e permitir que elas exercitem o pensamento livre, sem doutrinação, passando a ter pensamento crítico.

Por fim, encerro afirmando que a minha esperança profunda é a de ver o meu País dar certo. O analfabetismo funcional impacta a grande maioria dos brasileiros, que possuem deficiência na compreensão e forma de se expressar, sendo facilmente manipulado, acreditando em tudo que lhe dizem, e a culpa é da má educação.



Amaury Cardoso

blog de artigos: www.amaurycardoso.blogspot.com.br


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