China e Estados Unidos, são responsáveis por 40% de tudo que se produz no mundo, têm economias entrelaçadas, o que reforça a previsão de que essa rivalidade entre as duas superpotências não tem hora para acabar, pois estão enredados em uma guerra comercial e tecnológica sempre a um fio de explodir. Contudo, segundo o professor de Relações Internacionais da UFPE e pesquisador do Instituto de Estudos da Ásia da UFPE, Renan Holanda, diferentemente do contexto da Guerra Fria, não devemos observar conflitos militares, diretos ou indiretos, envolvendo China e EUA. “Uma questão fundamental é a interdependência gigantesca entre os dois países, diferente da URSS e os EUA que tinham laços quase inexistentes, o comércio entre EUA e China é brutal, então é problemático transpormos esse termo”, justifica.
Tenho pesquisado sobre a disputa pela hegemonia tecnológica que está opondo as duas maiores superpotências, Estados Unidos e China, e tenho observado que a intenção de ambas é o de dominar essas tecnologias com o principal intuito de usá-las para assegurar a estabilidade dos governos, por meio da vigilância e do controle sobre as populações, e não da democracia. China e Estados Unidos querem dominar a tecnologia para desenhar o futuro. Mas a imagem desse futuro que aparece, nos dois casos, ainda que com diferenças, é perigosamente autoritária e ditatorial.
O crescimento tecnológico chinês tem, porém, como mostra a revista do MIT, um enorme ponto fraco que é o da produção de microprocessadores. Apesar de a China ser o maior mercado e de mais rápido crescimento para semicondutores, nenhuma fabricante chinesa faz parte da lista das 15 maiores fabricantes de chips do mundo. Os mais avançados microprocessadores são feitos por empresas dos Estados Unidos, Taiwan, Japão e Europa Ocidental. Os EUA produzem metade dos chips importados anualmente pela China.
A implantação da rede móvel de quinta geração é um acontecimento de grande importância na internet porque vai permitir dar um salto para aplicações e usos que possivelmente ainda não tenham sido inventados. A 5G vai permitir aceder à net a partir do celular com velocidades de download e upload exponencialmente superiores ao 4G (20 vezes mais) e uma latência reduzida a 1(um) milissegundo e não aos 40 milissegundos do 4G. Comparando: o 3G permitiu-nos navegar na net e ler textos e ver imagens nos smartphones; o 4G permitiu-nos ver filmes on-line pelo sistema de streaming; o 5G vai nos permitir entrar num mundo de realidade virtual, ou andar em carros sem condutor que se comunicam entre si para evitar acidentes, controlar a distância todos os equipamentos de nossa casa, ou... bem, um futuro de aplicações que ainda não foram inventadas.
A revista Time escreveu recentemente que a corrida ao 5G é a mais importante luta pela supremacia tecnológica global desde a famosa corrida espacial em que os Estados Unidos venceram a União Soviética e puseram na Lua o primeiro astronauta. “O vencedor levará para casa bilhões, ou até trilhões em lucros e ganhará um poderoso lugar à mesa dos criadores da infraestrutura para o próximo bilhão de utilizadores da Internet”, diz a reportagem.
A disputa tecnológica China X Estados Unidos é um confronto entre superpotências, uma em ascensão e outra envolvida num processo de lenta decadência. Ambas procuram ter hegemonia das tecnologias que vão definir o futuro. Essa “guerra fria” na área tecnológica pode ter efeitos positivos para a humanidade: os supercomputadores, por exemplo, têm o potencial de ajudar a definir novos medicamentos que salvem milhares de vidas; ou de prevenir com mais antecedência a formação de furacões. Mas também pode fornecer ferramentas para reforçar os poderes de controle sobre os respectivos povos, tornando reais as piores distopias já imaginadas. Infelizmente, é isso que já está acontecendo na China e também dá passos nos Estados Unidos.
A introdução acelerada do capitalismo na China e o seu crescimento exponencial correram a par da manutenção de um regime de partido único e da persistência de uma ditadura obcecada pelo controle absoluto da sua população, para que não possam repetir-se episódios de contestação ao governo como o que ocorreu há 30 anos e foi simbolizado pela ocupação da praça Tiananmen por estudantes.
A disputa pela hegemonia tecnológica está opondo as duas maiores superpotências; mas essas mesmas tecnologias são usadas para assegurar a estabilidade dos governos, por meio da vigilância e do controle sobre as populações, e não da democracia. China e Estados Unidos querem dominar a tecnologia para desenhar o futuro. Mas a imagem desse futuro que aparece, nos dois casos, ainda que com diferenças, é perigosamente autoritária e ditatorial.
No campo financeiro o século 21, já entrando na sua terceira década, exibe uma dicotomia decisiva. Por um lado, o capital especulativo ditando as regras de acumulação e das relações trabalhistas no panorama dominado pelo Ocidente, onde o Estado serve prioritariamente aos interesses das casas financeiras e a seu imenso poder político-econômico; por outro, a ascensão da China, que abriga o maior PIB mundial e tem no Estado o principal agente organizador e catalisador dos seus expressivos índices de desenvolvimento que perpassam pelo conjunto da sociedade chinesa e se fazem sentir em âmbito global. Qual será o desfecho entre esses dois modos de gerir a coisa pública e o capital? O capital que vive de juros se afirmará soberano no planeta? Ou é possível conciliar mercado e os valores de uma sociedade socialista? E, ainda, como foi/é possível os chineses se adaptarem às exigências da conjuntura dos últimos 40 anos e, ao mesmo tempo, preservarem os ideais de sua autoproclamada sociedade socialista?
Contudo, um tópico parece claro: dos dois modos em disputa, um prevalecerá. Pois, se o capital especulativo é um fator crucial na atual crise sistêmica, também se configura num dos aspectos responsáveis pela queda da hegemonia ocidental liderada pelos Estados Unidos e pela consequente abertura de espaço para ascensão de uma nova força mundial, a China. Os sinais dessa convulsão e mudança macroestrutural estão em curso e são cada vez mais claros.
Immanuel Wallerstein, em Declínio do Poder Americano (2004), destaca que os Estados Unidos sofrem um constante e irreversível declínio. O que significa a decadência estrutural de um padrão capitalista que deverá ser suprido por outro modelo de capital ou, ainda, por uma revolução social. Para tanto, há em sua tese dois aspectos essenciais: a redução do nível competitivo dos Estados Unidos – explicada também pelo desvio de recursos para guerra e a diminuição de seu poder monetário do dólar –, coadunado a uma perda de legitimidade (WALLERSTEIN, 2004). O futuro próximo nos trará as respostas.
Amaury Cardoso
www.amaurycardoso.blogspot.com.br
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