terça-feira, 9 de outubro de 2018

A SOCIEDADE DEU UM BASTA A VELHA POLÍTICA. - ARTIGO: OUTUBRO / 2018





Sinceramente, o resultado das eleições de 2018, não me surpreendeu. O clamor por renovação ganhou força a partir de 2013 e as manifestações de desencanto e indignação com a corrupção na política e a ineficiência na gestão pública, só aumentaram. Os atores políticos que subestimaram e preferiram ignorar o clamor da sociedade por mudanças no sistema político e eleitoral, foram, na grande maioria, rejeitados nas urnas. O fato é que estas eleições desorganizou o sistema político-partidário que durante anos ditou as normas no país.

Essa eleição deixa claro que o atual sistema político pós-nova república se esgotou. O golpe final veio diante da crise de valores morais e ético que assolou a classe política iniciada em 2014 em razão dos escândalos evidenciados nas etapas da operação lava jato, que implodiu a credibilidade da maioria dos partidos política junto à sociedade que se viu indignada e em desencanto com a velha prática política. O discurso do combate a corrupção, a impunidade e privilégios tiveram um grande eco nas eleições de 2018.

Além do apelo do discurso anticorrupção, o tema segurança pública e a defesa dos valores familiares, foram priorizados pelo eleitor. Forças tradicionais da política, em várias regiões do país foram derrotadas provocando uma renovação na média de 50%, a maior dos últimos 20 anos, na câmara federal e na maioria das assembleias legislativas, sendo que no senado federal, chegou a 85% onde de 54 cadeiras foram renovadas 46. Os grandes partidos tiveram suas bancadas reduzidas, o que causou um abalo nos partidos tradicionais, evidenciando uma clara mudança no eleitorado brasileiro.

Essa eleição também encerra um longo ciclo de polarização entre PT e PSDB e pulveriza a representação partidária, deixando de existir a supremacia de grandes partidos sobre as pequenas correntes partidárias.

Fazendo um comparativo da composição ideológica na câmara federal entre as forças de esquerda, centro e direita nas três eleições regionais/nacionais (2010-2014-2018), temos o seguinte quadro:

ESQUERDA:
Em 2010 elegeu 126 parlamentares;
Em 2014 Elegeu 138 parlamentares;
Em 2018 Elegeu 137 parlamentares;
·        CENTRO:
Em 2010 elegeu 157 parlamentares;
Em 2014 elegeu 137 parlamentares;
Em 2018 elegeu   75 parlamentares;
·        DIREITA:
Em 2010 elegeu 190 parlamentares;
Em 2014 elegeu 238 parlamentares;
Em 2018 elegeu 301 parlamentares;

Outro dato importante a ser comparado, é com relação à participação de mulheres na câmara federal entre as eleições de 2014 e 2018. Em 2014, foram eleitos 462 homens e 51 mulheres, já em 2018 foram eleitos 436 homens e 77 mulheres o que configura um aumento da representação feminina em 51% em comparação a 2014. Contudo, ainda a quem do peso eleitoral do voto feminino do país.

O resultado das eleições de 2018 deixa claro que ela foi tomada por uma forte onda conservadora que seduziu grande parcela da sociedade que se vê amedrontada pelo alto índice de violência, associada a grande indignação com o atual processo político que se vê afundada na lama da corrupção.

Cabe destacar que os novos eleitos não podem deixar de priorizar o compromisso com a garantia e avanço da democracia, bem como não fugir da responsabilidade de realizar reformas estruturais, fundamentais para o momento que o Brasil atravessa, a começar pela reforma política e eleitoral. A sociedade tem sinalizado no sentido da mudança desse sistema político aristocrático e corrompido.

Por fim destaco, por concordar, com o ponto de vista do imortal e jornalista Merval Pereira ao afirmar que “De forma clara e plebiscitária, a tese do golpe foi rechaçada. O povo chancelou o impeachment de Dilma e enterrou a narrativa do golpe”. 


Amaury Cardoso
Presidente da Fundação Ulysses Guimarães do Estado do Rio de Janeiro
www.amaurycardoso.blogspot.com.br

                                                                               

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