quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A SENSAÇÃO DESCONFORTÁVEL DA INCOMPLETUDE DAS GRANDES CIDADES. ARTIGO: SETEMBRO/2015



Partindo do pressuposto de que para avançarmos no processo de melhoria da qualidade de vida das pessoas, em especial que vivem nas grandes cidades urbanas, temos que considerar que a qualidade dos serviços públicos tem relação direta com a efetiva melhoria de bem-estar para os seus usuários, é importante que nossos governantes (gestores públicos) repensem todos os nossos serviços públicos seguindo uma lógica mais moderna, pensando a infraestrutura de uma cidade como um conjunto de serviços, considerando que o principal da infraestrutura não é a obra em si, mas o serviço público prestado com base na obra planejada e executada.
Faço essa afirmativa por entender que, a nós cidadãos, interessa menos a estrutura física que permita que tenhamos serviços públicos e mais a qualidade desses serviços, pois, por exemplo, nos parece que tanto faz se o prédio da escola seja novo ou reformado. O que interessa é que tenha carteiras confortáveis, salas ventiladas e bem iluminadas, pátios e banheiros limpos, e outros serviços essenciais ao aprendizado.
Ao olharmos o Brasil como um todo, percebemos que diversas regiões metropolitanas estão atingindo dimensões que criam problemas urbanos que não são mais passíveis de solução adequada quando utilizada a tradicional perspectiva de uma única obra isolada.
Os sistemas de transporte, de energia, de saneamento, de saúde e o zoneamento urbano precisam ser planejados para prover, em conjunto, o sistema de serviços públicos, responsável por definir em larga escala onde e com que nível de bem estar viveremos nessas cidades.
A alta taxa de crescimento nos grandes centros urbanos, associada a crescente demanda por mais serviços e de qualidade, e o agravante das degenerescências dos serviços públicos, tem exigido cada vez mais dos governantes e de seu corpo de auxiliares voltados a pensar gestão e políticas públicas, um salto de oferta e qualidade nos serviços através de medidas e análises que independam de grandes reformas.
Para tal, segundo o economista Bernardo Tavares, é recomendável planejar e executar projetos considerando o ambiente atual. Bons projetos, da concepção à implantação, passando pelos estudos jurídicos, ambientais, econômicos e de engenharia, além de impactarem positivamente a infraestrutura do local.
Seguindo a cartilha do que aprendi em minha Pós Graduação em Gestão Pública, planejar a infraestrutura envolve alguns elementos básicos:
1-      Visão integrada de redes de serviços enxergando a obra como um insumo;
2-      Participação da sociedade na especificação das soluções (o que na maioria das vezes não ocorre);
3-      Desdobramento e incorporação do planejamento e do detalhamento dos programas e projetos nos instrumentos de orçamento e gestão governamentais;
4-      Análise prévia dos incentivos e riscos presentes no projeto;
5-      Monitoramento, avaliação, controle e transparência quando da execução.
As grandes metrópoles são muitas complexas e de difícil governança, com metas cada vez mais complexas de serem executadas, tais como: planejar sua mobilidade, solucionar o grave problema de transporte público adequando-o a uma condição compatível com a vida nas grandes cidades, o grave problema do déficit habitacional, o atendimento integral da rede de saneamento, a questão do tratamento dos resíduos sólidos, o cuidado com a preservação ambiental que na maioria das grandes metrópoles passam por um grave processo de degradação, dentre outros problemas que afetam diretamente a qualidade de vida das pessoas que vivem no meio urbano.
Devemos levar em consideração que a cidade tende a ser ainda mais urbano, fato este que precisa ser enfrentado desde já e de forma inovadora, para que se possa viver e conviver em ambientes urbanos agradáveis e inteligentes, com mais oportunidades, que sejam sustentáveis e que, conseqüentemente, proporcionem maior qualidade de vida para as pessoas que nela habitam ou transitem.
Embora a organização das esferas de governo seja definida predominantemente por tipo de função (educação, saúde, transportes, segurança etc.), o bem-estar da população tem natureza multidimensional e requer um amplo leque de serviços públicos, que devem ser disponibilizados de forma integrada e compartilhada nas diversas regiões. São nas cidades e grandes centros urbanos que as principais atividades do mundo moderno acontecem e que boa parte das políticas públicas é testada e posta em prática.
Seja pela escassez de recursos financeiros, seja pela carência de recursos humanos e físicos, e de capacidade institucional em quantidade e qualidade suficientes, os governos já não conseguem carregar sozinhos o “fardo” de planejar, gerir e aplicar recursos para a melhoria das condições urbanas. É preciso repensar o modelo de investimento e de atuação do poder público e trazer para mais próximo dos governos outros atores que até então, muitas vezes, estiveram em lados opostos. É necessário constituir novas formas de “governança para o desenvolvimento” para a geração de valor econômico e social, a partir da integração de vontades políticas, oportunidades econômicas e de recursos financeiros e físicos, públicos e privados. Só assim seremos capazes de sustentar um esforço de mudança que seja veloz, permanente, que tenha escala e que dure uma geração. Esse não é um desafio fácil, envolve interesses muitas vezes divergentes, mas algumas iniciativas de gestão moderna e eficiente têm sido implantadas com sucesso e podem servir de exemplo e ser aperfeiçoadas para replicação em outros ambientes, resguardando suas peculiaridades regionais.
É importante destacar a importância fundamental da integração Público-Privada para a realização de intervenções urbanas sustentáveis. O “revocacionamento” de áreas nas cidades não é trabalho somente do governo. É preciso criar projetos e governanças inovadoras, focadas em propósitos específicos e que sejam capazes de estimular e sustentar um esforço duradouro. Devem ser iniciativas e instituições, instâncias ou instrumentos de gestão que passam pelos governos e que sejam capazes de ir além de um ciclo de gestão. É preciso criar mecanismos administrativos e dispositivos legais que harmonizem os interesses públicos e privados, com condições de sustentar políticas e estratégicas de longo prazo, que sobrevivam aos ciclos políticos, para que tenham credibilidade e condições de auto-sustentação.
Para isso, a participação do setor privado é crucial. Existem modelos de parcerias, agências, entidades de interesse público e direito privado, com participação minoritária dos governos. Elas reúnem empresas que têm a ganhar com as mudanças e se juntam para recuperar uma área ou território. É necessário que haja uma visão de longo prazo e um planejamento conjunto. A instituição tem de ser capaz de reunir e equilibrar esses interesses, preservando o interesse público. Precisa ter capacidade de captar recursos, oferecer garantias reais e desenvolver e implantar projetos. (Ex: regeneração da área da Portuária na cidade do Rio de Janeiro – revisando a decadência urbana).
Essas intervenções urbanas devem ser encaradas como projetos que geram valor (retorno) para a sociedade e também para os principais atores envolvidos (empreendedores, comunidades, empresários e o próprio governo). Dessa forma, assim como qualquer projeto, o seu financiamento deve ser pago com o retorno.
Nos dias de hoje, um conceito que vem ganhando força é o de “cidades inteligentes – sustentáveis”, objetivo importante que demanda aos atores públicos e privados um grau elevado de governança e compromisso com o coletivo e com o meio ambiente. Dada a crescente complexidade das cidades, é importante e urgente ampliar as capacidades de planejamento de longo prazo e a gestão das mesmas, frente aos desafios que se colocam para o futuro. Os problemas a serem enfrentados são múltiplos e em diversas dimensões, implicando o planejamento e a implantação de ações e soluções de natureza econômica, social e ambiental.
                                                                            Amaury Cardoso
                                                       Blog: www.amaurycardoso.blogspot.com

                                                        Site: www.fug-rj.org.br

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