Os inúmeros descasos que ilustram a negligência de nossos
governantes com a educação em nosso país, nos estarrecem e indignam. Poucas são
as escolas em nosso país com infraestrutura adequada e ensino de qualidade. Nossos
índices de qualidade educacional há anos são vexatórios. Uma nação compromete
seu futuro, se não prioriza a educação de seu povo.
O nível da educação em um país esta diretamente relacionada ao
fator da perpetuação ou de superação da pobreza. A realidade das escolas
brasileiras tem sido o fator da perpetuação do atraso do ensino público, com
conseqüência direta na permanência da desigualdade social, uma vez que o
conhecimento e a educação libertam e constrói cidadania.
Se há um diagnóstico que vem se confirmando geração após
geração é o de que as famílias pobres, em razão da escassez de recursos
econômicos, socioculturais e sócio emocionais, têm menos chances de dar a seus
filhos o acesso às formas de consciência e conduta necessárias ao
aproveitamento escolar. Contudo, este fato social, amplamente comprovado, vem
sendo ignorado ou tratado com descaso, por décadas, ao deixarem de fazer
grandes mudanças estruturais e institucionais na forma como se organiza e se
realiza o ensino básico de qualidade que seja capaz de corrigir as
desigualdades sociais por meio da “justiça escolar”.
O ciclo vicioso se amplia criando um abismo entre os que
sabem e os que não. Ao convivermos com essa cruel realidade parece que, entre
nós, a ignorância não é um desserviço público, um pecado social. É claro que
temos consciência de que o descaminho da nossa educação vai muito mal e não
pode ficar assim. No entanto, assistimos as conseqüências sociais advindas
dessa realidade comprometer gerações, como se não pudéssemos fazer nada. Quando
na verdade a mudança desse lastimável quadro educacional brasileiro só virá através
de nós, da nossa participação política e qualificação do nosso voto, ou seja, melhorando
a escolha dos nossos representantes, sendo o quesito moral, ético e capacitação
para o cargo (executivo ou legislativo) fatores fundamentais.
O estudo conduz à superação da ignorância, a libertação
através do conhecimento. Nesse sentido, destaco que o projeto do Ciep era uma
grande inovação, cujo objetivo era o de promover um resgate social. Hoje, a reflexão
histórica que se faz é que podíamos ter investido mais nos sistema de ensino de
turno integral. O Ciep foi idealizado para seguir de forma paralela ao ensino
regular, como um projeto que iria possibilitar pensar os problemas enfrentados
especialmente pelas crianças oriundas de famílias de baixo nível social,
praticamente em situação de miséria, e as formas de reverte-los, uma vez que em
cada Ciep, em seu projeto inicial, possuía um centro com médicos e dentistas,
cozinha, refeitório, um ginásio com quadra, arquibancada e vestiário, uma
biblioteca e aposentos para alunos que residiam no colégio.
Por ser um projeto de educação integral de forma popular, sofreu
fortes ataques de parte de parcela do seguimento acadêmico, das elites políticas
que alegavam ser seu custo muito alto, que acabaram interrompendo politicamente
o projeto. Diante desse preconceito intelectual elitista, passaram-se décadas,
nossa educação foi perdendo qualidade e gerações se perderam, comprometendo o
futuro de gerações, e a vida de milhões de crianças tornou-se uma monótona repetição
de perdas e fracassos.
Um exército de analfabetos funcionais vagueia sem
perspectiva, sem futuro, que se repete num círculo vicioso que contribui para o
aumento da degradação social, pois o jovem que não estuda – para além do
estreitamento das perspectivas de fugir do fantasma da pobreza – em geral
torna-se presa do canto da sereia do tráfico.
Contudo, por justiça, devo destacar que se vislumbra uma luz
no fim do túnel. Próximo dessa linha dos Cieps, a prefeitura do Rio de Janeiro
implanta um projeto de escolas no mesmo modelo, que prevê a construção de
centenas de escolas em tempo integral até 2016. Em número alcança mais do
triplo dos Cieps feito pelo saudoso governador Leonel Brizola. Entendo que o prefeito
Eduardo Paes, através desse projeto, estabelece uma mudança de paradigma no
campo do ensino fundamental, que será dividido em Espaço de Desenvolvimento Estudantil
- EDI (creche e pré-escola), primário (do 1º ano ao 6º ano) ou Ginásio (do 7º
ano ao 9º ano). Segundo a secretária Helena Bomeny, esse projeto mudará a
dinâmica por ficarem mais próximos das casas, onde os professores dessas
unidades atuarão com carga horária de 40 horas semanais para ficarem dedicados
exclusivamente ao projeto.
Por fim, cabe destacar que com a universalização do acesso à
educação em estágio avançado, o grande desafio da educação no Brasil é a
melhora da qualidade do ensino em todos os níveis. O gasto com a educação no
Brasil esta muito abaixo da norma internacional em termos per capita com a
pré-escola e os ensinos fundamental e médio, que gira em torno de 5% do PIB, o
que resulta na baixíssima qualidade da educação em nosso país, onde nos
colocamos nas últimas posições, fato apontado no programa Internacional de
Avaliação de alunos (Pisa), que coloca nossos alunos com índice de conhecimento
abaixo do considerado essencial.
“Sócrates foi condenado
à morte pela cidade de Atenas porque inquietava as consciências.” A ignorância
que procura a sabedoria, e vista como ameaça pela elite dominante, pois
desequilibra privilégios, e é por essa elite considerada uma ação subversiva. É
inaceitável continuar condenando ao fracasso gerações de alunos!
Amaury Cardoso