Fazendo uma retrospectiva dos
momentos políticos vividos pela minha geração, tendo passado por longo tempo (
1964 à 1989) sem eleições gerais para presidente, período de cassações,
perseguições política e proibições de manifestações, vivi intensamente um
movimento de resistência ao regime militar, participei de campanhas
fundamentais para o restabelecimento do regime democrático de pleno direito.
Recordo-me da campanha pela
Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, que permitiu a volta dos exilados, a
campanha das Diretas Já e a campanha da Redemocratização, com a importante
eleição indireta de Tancredo Neves a presidente no colégio eleitoral, que pôs
fim ao ciclo de mais de 20 anos de governo militar, depois as passeatas pelo
impeachment de Collor e, logo após, o movimento pela estabilização da economia,
em meados dos anos 90, realizadas no governo FHC, e finalmente, assisti a
eleição de Lula e o avanço do processo social da década passada. As conquistas
foram lentas, mas alimentavam o sentimento de querer mais.
Com tristeza, percebo que essas
lutas políticas que alimentaram os meus sonhos de juventude de mudar o Brasil,
embora tenham provocado mudanças importantes, estão demorando a se
concretizarem. É angustiante você perceber que seus sonhos do passado, sonhos e
ideais políticos de 30 anos atrás, com o passar do tempo se tornam mais
distantes.
Os processos eleitorais dos últimos
anos, e o deste ano com mais evidência, tem revelado que o ciclo a que me
referi acima, iniciado com o golpe militar de 64, esta terminando. Os partidos
de hoje passam ao largo da maioria das pessoas, em especial para a juventude em
razão do esgotamento de suas propostas, confirmando um quadro institucional
partidário falido.
O que vivíamos a 30 anos atrás, a
mobilização das ruas levantando a bandeira das eleições diretas, hoje se
reflete numa descrença no processo político eleitoral, com a juventude
inclinada para o voto branco e nulo, e muitos não interessados em se inscrever
para votar, com o agravante do considerável número de abstenções.
Essa recusa é sintomática, que
atinge diretamente os políticos e a instância partidária. Essa mensagem precisa
ser entendida como advertência e alerta no sentido da necessidade da melhora da
qualidade política e aperfeiçoamento da democracia representativa.
A sociedade não aceita mais
“alianças” para sustentação da tal “governabilidade” em troca de espaços de poder,
que passa a ser sustentada por uma base fisiológica e corrupta, com forte
aparelhamento partidário, a exemplo do projeto de poder construído nestes 12
anos de governo do PT, responsável pelo aprofundamento da vergonhosa
degeneração de nossas práticas políticas.
Essa perda de confiança e
indignação com as práticas de governabilidade que se sustentam no
aprofundamento da sucessão de escândalos praticados no governo petista, gerou
uma crise institucional que atingiu frontalmente a necessária decência no trato
da coisa pública, que precisa ser contida.
Não podemos nos eximir da
responsabilidade de provocar a necessária mudança e, tão pouco podemos perder
tempo. O novo congresso, cuja a renovação poderá influenciar nesse sentido,
devido as evidências colhidas nesta eleição, onde a sociedade deixou claro não
aceitar mais o atual, viciado, excludente e elitizado jogo eleitoral, razão
pela qual a reforma política não tem como não entrar na pauta já em 2015. Esta
eleição é uma prova incontestável de que o atual sistema eleitoral esta falido.
Não há outro caminho para a
regeneração senão as urnas oficializando a mudança.
Amaury Cardoso
Presidente Estadual da Fundação Ulysses Guimarâes/RJ
Site: www.fug-rj.org.br
E-mail: amaurycardosopmdb@yahoo.com.br