A afirmação por dignidade
tornou-se um clamor por democracia e justiça, e vários movimentos espontâneos
surgiram de causas específicas a cada país e evoluíram de acordo com as
condições de seus contextos utilizando suas redes digitais para se conectar e
difundirem seus pensamentos, suas revoltas e indignação.
Em todos os casos, esses
movimentos ignoraram partidos políticos, desconfiaram da mídia, não
reconheceram nenhuma liderança e rejeitaram toda organização formal,
sustentando-se na internet, se organizando e tomando decisões.
“As redes da internet e de
telefonia celular não são apenas ferramentas, mas formas organizacionais,
expressões culturais e plataformas específicas para a autonomia política”. A
difusão e o uso de tecnologias de informação e comunicação favorecem a
democratização, fortalecem a democracia e aumentam o envolvimento cívico, abrindo
caminho para o aperfeiçoamento da democratização do estado.
Fatores como a alta corrupção,
aumento da impunidade, deficiência nos serviços públicos, humilhação provocada
pelo cinismo e pela arrogância de grande parcela dos que estão no poder fizeram com que pessoas de todas as
idades e condições ocupacem as redes sociais manifestando seu pensamento de
forma autonoma, reivindicando seus direitos, transbordando sua indgnação
levadas as ruas contra essa relação de poder estabelecida, onde os políticos e governantes
constroem as instituições segundo seus valores e interesses, quando a
verdadeira configuração de estado e de outras instituições que regulam a vida
das pessoas depende de constante interação entre representantes e
representados.
Esse repúdio da sociedade se deu
na forma de comunicação digital em massa processando mensagens de muitos para
muitos, automaticamente, passando a exercer um contrapoder, livre ao controle
dos que detêm o poder institucional, deixando-os sem entender e sem como agir
diante dessa nova forma de protesto.
Quando pessoas se setem
humilhadas, ignoradas e mal representadas, passam a ficar na condição de
transformar sua decepção e indignação em raiva, e este sentimento as levam a
reagir e exigir mudanças, colocando seus sentimentos e protestos no facebook,
no twitter, no sms e transmitindo-os através do youtube. Perceberam que o poder
viral das mídias disponíveis nas redes digitais, no volume e velocidade com que
as notíciais se propagam, são instrumentos poderosos no processo de formação de
opinião e poder de mobilização.
Diante dessa nova modalidade de
manifestação do século XXI, o poder em cada uma de suas dimensões (econômico,
político, militar, ideológico e da comunicação convencional) fica ameaçado. A
rede digital passou a ser uma ferramenta poderosa no processo de avanço da
democracia, facilitando a difusão de idéias, posições, pensamentos, se
transformando em agenda da cidadania que se impõe nas ruas, onde são lançados
todos seus afetos, ódios, expectativas, esperanças. “Quem não se sentir
desafiado por tudo isso não esta preparado para compreender”.
A política tradicional reluta em
aceitar as drásticas mudanças na estrutura social, diante de uma sociedade cujo
o número de internautas em nosso país já ultrapassa a cifra de cem milhões, que
rejeita a atual representação democrática, e que começa a se movimentar no
sentido de promover transformações no processo político democrático.
O que nos parece é que as atuais
manifestações tem se revelado um movimento político apartidário, sem filiação
ou simpatizantes a partido algum, onde na sua diversidade social se destaca uma
maioria de jovens com pouca experiência política tradicional por acharem que as
regras institucionais de representação lhe são distantes e manipuladas. O atual
sistema político, com destaque para os partidos, não estão sabendo como lidar
com esse movimento. Percebe-se que se
estabeleceu um estranhamento entre movimento nas ruas e o sistema político, e
as próximas eleições podem confirmar essa tendência.
Será que a produção material da
mudança social, vocalizado nos sentimentos e opiniões através do exercício da
cidadania, se contruirá em tal grau de comprometimento que influenciará na
reinvenção da política?
A centelha da indignação dos
próximos anos dirão!
Amaury Cardoso
Presidente Estadual da FUG/RJ
Blog: www.amaurycardoso.blogspot.com