PONTO DE VISTA
Percebemos que, de um modo geral,
a juventude não foi adequadamente preparada para os desafios deste século e
suas adversidades. A frustração alimentada pela baixa qualificação, pela
consequente exclusão devido à falta de oportunidades e a decorrente ausência de
perspectivas a médio e longo prazo, ameaça destruir o sonho de futuro dos
jovens, maiores vítimas da violência, drogas, corrupção, desigualdade, baixa
qualidade da educação e da dificuldade de inserção no mercado de trabalho que
isso acarreta.
A falência dos princípios éticos e
morais da nossa sociedade, acentuada dramaticamente nas últimas três gerações,
se reflete em toda a sua desesperança principalmente na atual geração, cujos
jovens demonstram um total desinteresse pela política, fruto da sua rejeição ao
comportamento imoral e amoral da grande maioria dos políticos, que desprovidos
de qualquer pudor, insistem na prática da politicagem enganosa que apenas visa
a vantagens pessoais, sem nenhum compromisso com o verdadeiro objetivo da
atividade política, que é simplesmente a consecução do bem-comum e nada mais.
O ser humano possuí a capacidade
de desenvolver todas as suas potencialidades e capacidades, desde que o meio
favoreça isso em seu processo de vida, podendo se tornar uma pessoa íntegra e
integrada pela sua utilidade para a sociedade. Para que tal ocorra, no entanto,
o meio social circundante tem que lhe oferecer condições afetivas, educativas,
culturais e socializadoras que estimulem o seu desenvolvimento em toda a sua
plenitude.
Quando a sociedade não oferece
tais condições, quando ela não cuida dos seus integrantes, oferecendo-lhes as
mais básicas condições de uma vida decente, ou seja, negando-lhes o direito à
cidadania, os mesmos se tornam marginalizados, restando a eles simplesmente
tentar sobreviver a sua maneira, na medida das possibilidades que estão ao seu
alcance, uma vez que a necessidade não conhece lei, o que acarreta um
verdadeiro vale-tudo nas relações pessoais que causa, através desse odioso
processo de exclusão, uma profunda e dolorosa fratura no tecido social,
colocando em risco a sua credibilidade como processo integrativo humano e,
acima de tudo, a sua coesão e a sua própria existência, abrindo as portas,
desse modo, ao processo inverso de Anomia Social tão temido pela Sociologia de
Durkheim.
Nossa juventude, que não se
limitará a representar os “jovens”, posto que se tornarão adultos, amadurecerão
e envelhecerão, caso lhes seja possível viver o suficiente para tanto, terão
que suportar o ônus cada vez mais penoso dos dias vindouros, num futuro vazio, um
vazio que faz com que destinos sejam negados, aprisionados e desagregados sem
se cumprirem por estarem distantes das suas vocações. É aí que se afogam
energias, que se anulam trajetórias, que morrem esperanças e o encanto pela
vida, a crença na dignidade e no valor do ser humano. É a apologia da
crueldade, a apoteose do desespero, o clímax da estupidez.
Os marginalizados socialmente,
desprovidos de educação, de dignidade que só o trabalho pode oferecer, sem
recursos mínimos para se manterem, sem futuro e nem confiança no porvir, sabem
que são rejeitados, repudiados, abandonados a sua própria sorte, lançados
involuntariamente num vácuo social, prisioneiros sem crime e muito menos culpa,
condenados a viverem suas carências materiais, físicas, sociais e espirituais,
suas perspectivas mitigadas, numa triste senda de humilhações, oprimidos pela
vergonha da situação sem remédio em que vivem, e, mais do que tudo, recalcados
no ódio do qual não são a causa, mas sim as suas vítimas.
Enquanto for negada a essa
verdadeira legião de desesperados a sua única oportunidade de libertação, que é
o acesso livre e igualitário a uma educação universal de qualidade, que busque
formar consciências e pessoas capazes de se firmarem como cidadãos atuantes
numa sociedade cada vez mais dinâmica nas suas demandas, toda a sociedade
pagará o preço injusto de ficar a mercê do “Ilusionismo Político”, transmitido
em discursos que passam por cima dos verdadeiros problemas sociais que clamam
por uma solução, ou que os falseiam, repetindo indefinidamente as mesmas
promessas, falsas, ocas, mentirosas e que jamais serão cumpridas.
Esta faltando espírito humanitário
e vontade política! Isso vai continuar até quando?
Amaury Cardoso