No contexto político histórico geral, principalmente depois do pós II Guerra Mundial, podemos encontrar muitos fatores pode tentar explicar esse fenômeno, dentre os quais, arrisco destacar que a ascensão da extrema direita constitui mais um movimento, que começou com o avanço da hegemonia neoliberal, no sentido da completa destruição das conquistas civilizatórias e democráticas do pós-Segunda Guerra Mundial.
O que temos visto nos últimos anos pós virada do século XX para o século XXI, é um avanço da extrema-direita nas sucessivas últimas eleições. O seguimento político conservador vem aumentando seu lastro de poder político passando, a meu ver, uma clara mensagem de que é preciso pensarmos o que está gerando nas populações esse desejo por governos conservadores.
Porque esse avanço da direita vem sendo desejado por muitos?
Arrisco afirmar que esse avanço do conservadorismo seja pelo fato de encarna os valores e as formas de pensar de milhares de pessoas no país, onde uma multidão de pessoas se vê nele representados. Ele é a encarnação de um tipo de subjetividade, de desejos, de valores, de ideias, de conceitos e preconceitos que estão disseminados na sociedade mundial.
Porque foi desejado por muitos?
Porque encarna os valores e as formas de pensar de milhares de pessoas no país, porque uma multidão de pessoas se vê nele representados.
Entendo que precisamos levar em conta essa insegurança existencial crescente produzida pela nova etapa do capitalismo. Essa insegurança se acentua a medida em que o avanço tecnológico significa a redução dos postos de trabalho e a desaparição de muitas atividades e profissões. Essa, a meu ver, é apenas uma das razões.
Outra razão é a retórica da direita e da extrema-direita, com o reavivamento do nacionalismo, com críticas à globalização, aos acordos de livre-comércio, bem como o crescimento da concentração da riqueza e, consequentemente, o avanço da miséria em vários países do mundo têm feito com que ocorra um alinhamento com as forças da reação melhor representadas pelas forças políticas conservadoras de centro, de direita e de extrema-direita.
Essas políticas de recuperação econômica, aplicadas, inclusive, por sucessivos governos ditos socialistas levaram a desmoralização e ao descrédito crescente dos partidos mais à esquerda no espectro político, o que também favoreceu o crescimento da direita e da extrema-direita em vários países. No Brasil, não foi diferente.
O capitalismo é gerador de insegurança a medida que está permanentemente alterando sua própria regulamentação, seus regramentos, suas formas de funcionamento, suas bases tecnológicas, deslocando sua produção de espaços, alterando as relações de trabalho e emprego.
Quando as pessoas no mundo, em especial no Brasil, estão clamando por segurança, elas atribuem a insegurança que sentem aqueles que são execrados como bandidos ou como corruptos todos os dias na televisão. A insegurança, que é existencial, que é promovida pelas formas de vida precarizadas pelo capitalismo, é atribuída a um outro que se torna o bode expiatório do mal estar causado por vivermos em constante incerteza. A busca de forças políticas que representam a ordem e a segurança é resultado, portanto, da crescente insegurança existencial promovida pelo próprio capitalismo.
Por fim, destaco um trecho da minhapesquisa que afirma: "O estágio atual do capitalismo se caracteriza pela criação de formas vida e de trabalho cada vez mais precárias. A informalidade crescente das relações de trabalho, o crescimento das formas de trabalho temporário, a rotatividade dos postos de trabalho, a previsão de possíveis reduções de salário previstas em contratos de trabalho, a chamada flexibilização do trabalho, o fim mesmo da ideia de especialização e profissão, a competição crescente por postos de trabalho precarizados, a destruição permanente de postos de trabalho e de profissões, a exigência neoliberal de que cada um seja um empresário de si mesmo, que se vejam como capital humano, que tenham sucesso e poder sem que as condições para isso sejam dadas, produzem subjetividades e sujeitos inseguros, carentes de certezas e de ordem, o que é um caldo de cultura extremamente favorável para o crescimento de forças políticas conservadoras de centro-direita, direita e extrema-direita que se propõem a produzir a ordem, a segurança e a certeza, em todos os âmbitos. Num mundo em que tudo parece naufragar, em que todos parecem surfar sobre ondas enfurecidas, em que tsunamis varrem periodicamente as praias e as casas de nossas vidas, essas forças reativas e reacionárias aparecem como a tábua de salvação, o restolho salvador, o último porto e lugar seguro para se habitar. O encarniçamento, a violência, o aferramento com que as pessoas combatem a favor dessas forças da reação só demonstram o quanto para elas essas opções reacionárias são importantes existencialmente, o quanto elas parecem ser o único e último refúgio em um mundo hostil e perigoso."
Amaury Cardoso
Bacharele Licenciatura emFísica, Pós em Gestão Pública, Especialista em Ciências Políticas, MBA em Marketing Político e Eleitoral, Gestão e Estratégia.
www.amaurycardoso.blogspot.com.br