quinta-feira, 21 de março de 2024

A SOCIEDADE ESTÁ REJEITANDO O ESTABLISHMENT POLÍTICO ALHEIO AO INTERESSE GERAL. - Artigo: Março/2024



O mundo contemporâneo tem nos revelado que as coisas ficam complicadas no trato do campo político, em que a dimensão de significado e interpretação fica menos evidente e implica juízos de valor. Para a sociedade o que interessa são questões como saber em que consiste a legitimidade, se algo é democrático, quem tem autoridade para decidir o quê ou a quem atribuir determinadas responsabilidades. Segundo o catedrático em Filosofia Política e Social Daniel Innerarity, entramos em um período histórico no qual a maioria dos problemas originários do campo político se tornaram especialmente controversos. Percebemos que a política, já algum tempo, entrou em uma zona de sinalização insuficiente, ou seja, entrou numa rota desconhecida, perdeu a evidência, se tornou uma área cheia de efeitos colaterais.


É fato que a política há muito tempo tira proveito do benefício da ignorância de uma enorme parcela da população, o que sustenta a dominação e a permanência do poder nas mãos dos que habitam o poder econômico e detêm o conhecimento e a informação privilegiada. Contudo, o espaço aberto da internet ampliou e permitiu um maior monitoramento de quem governa. Vivemos uma sociedade em que todos se veem, todos comparam, permitidas pela abertura de tecnologias fáceis de usar. Vivemos no mundo das redes onde as fronteiras perdem sua capacidade de delimitação e reserva. Essa configuração aberta contém, ao mesmo tempo, possibilidades de avanço e retrocesso democrático que cada pessoa precisa aprender a gerenciar.


No momento em que a internet abriu espaço para se falar com todos, a palavra delegar/representar aparece cada vez mais como abstrata e arbitraria no imaginário das pessoas. A diversidade de experiências individuais tem feito com que o monopólio exercido pelos “representantes” sobre a sociedade entrou em colapso e, com ele, as categorias que permitiam que alguns falassem e agissem em nome de outros. O que fica a cada dia mais evidente é que os indivíduos passaram a representar a si mesmos ou afirmam não ser reduzidos à categoria que os representa. Percebo que fica cada vez mais difícil identificar os desejos e vontades dos eleitores. Fica difícil calcular a sociedade sem categorizar as pessoas, sem rotulá-las. A classe política, necessariamente, precisa se reciclar, renovar e aprender a se sintonizar com as mudanças de comportamento do eleitor.


Estamos diante de sociedades exasperadas, onde multiplicam-se os movimentos de rejeição, raiva e medo. A sociedade está rejeitando o establishment político arrogante, alheio ao interesse geral e imponte para lidar com os principais problemas que afligem as pessoas. Entendo que a explicação tem como pano de fundo as mudanças sociais pelas quais passamos e a incapacidade de entende-las. Estudiosos do comportamento social e humano afirmam que assistimos impotentes a uma série de transformações profundas e brutais de nossa forma de vida. Por todo lado cresce o partido dos descontentes. Diante disso, na competição política têm mais chance de vencer os que conseguirem representar melhor esse mal-estar e serem capazes de assumir novas agendas em sintonia com o interesse geral. O que temos percebido é que em razão da grande indignação popular da população com a classe política, os últimos ciclos eleitorais foram marcados por polarização política e pela ascensão de discursos extremos. Estamos diante de uma sociedade irritada e um sistema político sem interação social que faz com que não produza nada de novo capaz de resgatar o interesse da sociedade.


Segundo alguns especialistas em ciências políticas, no qual me incluo, “quando a linguagem política se degrada e parece não ter outros recursos além da retórica da administração tecnocrática e das mensagens publicitárias, a linguagem elementar da ira popular acaba vencendo a batalha.”.

 

Amaury Cardoso

Graduação em Física/ Pós em Gestão Pública/ Pós em Estratégia Política/ Especialização em Ciências Políticas/ Cursando MBA em Marketing Político e Eleitoral, Gestão e Estratégia.

blog de artigos: www.amaurycardoso.blogspot.com.br  

VIVEMOS EM UMA REPÚBLICA, CONTUDO MUITAS PESSOAS ENTRAM EM CONFLITO COM OS SEUS CONCEITOS! - Artigo: novembro/2024

O conceito de República esteve associado ao longo dos anos a um Estado que retrata a preocupação com o bem comum, independente do tipo de re...