Diante do cenário desolador em que se encontra o sistema político/eleitoral em nosso país, não seria exagero afirmar que não percebo a existência de partidos políticos que defendam rupturas com a ordem instituída. Estamos atravessando um cenário político turbulento diante de uma massa social indignada, descrente da política e desconectadas dos seus “representantes políticos”, onde os movimentos sociais, criminalizados, ou se acomodaram com o pouco que lhes foi concedido ou estão isolados e sem forças. O que a tempos atrás era reconhecido como um campo político popular e democrático, com peso político para influir nas decisões políticas, está fragmentado e sem capacidade de falar para o conjunto da sociedade, muito menos influir nas decisões de governo, salvo pequenas variações.
O que se percebe, em razão do grande número de partidos desgastados e desconectados com a sociedade, é que está sendo produzida manifestações de grupos de militantes sociais e políticos que se formam aqui e ali, inconformados com a ausência de um projeto estratégico de transformação social para o Brasil, que discutem, de maneira molecular e atomizada, como criar condições para que o tema seja retomado e se coloque de uma maneira mais ampla em nossa sociedade.
Acredito que às perguntas que persegue muitos brasileiros sejam: Qual o Brasil que queremos para um futuro próximo. Conseguiremos superar esse enorme fosso da desigualdade entre a imensa maioria pobre e a minoria rica. Conseguiremos interromper a devastação ambiental que o atual modelo de desenvolvimento provoca. Será que conseguiremos construir um Estado democrático capaz de impor uma regulação e limites à voracidade do capital.
Infelizmente o que se constata é que não ocorre uma disputa política, nem sequer nas campanhas eleitorais, por alternativas de desenvolvimento. Os partidos políticos não incorporam compromissos com temas relevantes para a sociedade e a grande maioria dos políticos consideram desenvolvimento o que na verdade é eventual crescimento econômico.
Percebo e defendo que as contradições políticas desse momento produzem pequenas e grandes rupturas, e essas abrem espaços para o novo! Para tal, é necessário romper com a barreira das fragilidades que foram impostas a imensa parcela da população, que se encontram incapazes de se tornarem protagonistas das mudanças que tanto anseiam em razão da incapacidade de exercerem um qualificado pensamento crítico ao poder dominador, político e econômico, que mantém e aprofunda a exclusão social e a produção da desigualdade, priorizando a concentração de riquezas.
Por fim, está claro que a dificuldade de se conquistar as transformações que a grande parcela da sociedade brasileira deseja está na incapacidade da grande massa populacional pelo fato de possuir ausência de uma reflexão teórica e coletiva, o que os priva de um ferramental analítico indispensável para a formulação de alternativas, sendo a produção e universalização do conhecimento uma questão nevrálgica.
As formas de opressão que garantem a permanência do atual modelo político estão alicerçadas em discriminações que criam e mantém os cidadãos de segunda classe, chamados de marginalizados, e isso só se supera com educação pública de qualidade, muita democracia, cidadãos participativos e com consciência política. O processo histórico político tem confirmado que só se consegue profundas transformações através de muita pressão social e grandes mobilizações que assegure a sociedade o controle social sobre o governo e suas políticas públicas. O caminho das transformações populares nunca foi curto, mas por várias vezes conquistados!
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