“O Príncipe” tornou-se um livro referência aos estudiosos da
Ciência Política, trata-se de uma coletânea dos pensamentos de Maquiavel os
quais ele considera importante para o Príncipe Lorenze Di Pierro. O livro
aborda vários temas, sempre buscando lições da história para confirmar seu
ponto de vista. Esta coletânea de Maquiavel oportuniza um grande aprendizado
não só no campo político, mas nos permite estudar a história para saber o que é
possível. Neste curto texto irei destacar alguns pontos que reputo ser de
grande ensinamento, muito embora toda a obra seja de grande relevância para o difícil
campo do exercício da política.
Destaco que o ponto interessante na leitura dessa obra é o fato
de que embora o livro “O Príncipe” seja largamente lido, em especial aos que se
dedicam a área de humanas, poucas pessoas realmente interpreta o que está
lendo, pois alguns insights são difíceis de retirar. Isso faz do livro ao mesmo
tempo conhecido e obscuro em razão de poucas pessoas extraírem o verdadeiro
conhecimento dele.
Na sua dedicatória, quando Maquiavel se reporta “Ao
Magnificente Lorenze Di Pierro de Medici” destaco o trecho: “Aqueles que lutam
para obter as boas graças de um príncipe estão acostumados a vir até ele com
coisas que consideram mais preciosas, ou nas quais eles o vêem com mais prazer;
por isso, freqüentemente se vê cavalos, exércitos, roupas de ouro, pedras
preciosas e ornamentos similares presenteados aos príncipes, validos de suas
grandezas.
Desejando, portanto, me apresentar para sua Magnificência com
algum testimônio de minha devoção, eu
encontrei em minhas posses nada que goste mais, ou valorize tanto quanto, o
CONHECIMENTO das ações dos grandes homens, obtido por longa experiência....”.
Trata-se de um trecho no mínimo interessante, pelo fato dele destacar que a
posse mais valiosa que ele tem é o conhecimento.
Como Maquiavel afirmava e a história ensina, não devemos
fazer coisas pela metade. “ O homem é sábio deve sempre seguir as estradas pavimentadas
pelos Grandes e imitar aqueles que tiveram maior sucesso, de modo que se ele
não alcançar a perfeição, ele pode pelo menos adquirir um pouco de seu sabor”.
Lição: Não faça as
coisas pela metade. “O homem sábio deve sempre seguir as estradas pavimentadas
pelos Grandes e imitar aqueles que tiveram maior sucesso, de modo que se ele
não alcançar a perfeição, ele pode pelo menos adquirir um pouco de seu sabor.”
Uma lição devemos tirar desse ensinamento. Isso não quer
dizer que não devemos buscar inovar e sempre repetir o velho. Por mais
importante que seja seguir o caminho da Grandeza, não podemos nos pegar
tentando copiar atitudes; os cenários são diferentes, nos cabe absorver os
princípios e aplicá-los a sua realidade. É nosso papel, também, abrir novo
caminho como legado para aqueles que estão por vir. No futuro, nossos ombros
também servirão de apoio para escalada de outros.
Outra afirmação de grande ensinamento podemos encontrar neste
trecho: “Aquelas crueldades nós podemos dizer são bem empregadas, se é
permitido falar bem de coisas malignas, que são feitas de uma vez por todas
pela necessidade de auto preservação e não são continuadas a seguir, mas só o
suficiente para modificar a vantagem do governado. Crueldades mal impostas, por
outro lado, são aquelas que começam pequenas e aumentam, ao invés de diminuir
com o tempo. Ferimentos, por tanto, devem ser causados de uma vez, para que seu
sabor seja menos duradouro e menos ofensivo, enquanto que benefícios devem ser
conferidos pouco a pouco, de modo que eles sejam completamente saboreados.”
De modo resumido, Maquiavel quer dizer: ferimentos devem ser
infringidos de uma vez e com intensidade, enquanto bondade deve ser demonstrada
pouco a pouco. Isso faz as pessoas terem uma imagem poderosa de você: por um
lado, há pulso firme, capaz de atingir com violência; por outro, há bondade e,
como ela é prolongada e distribuída ao longo do tempo, permanece por mais tempo
na mente do povo.
Esse insight pode ser importante na formação de alianças no
mundo de hoje. Nós devemos ser sempre uma pessoa boa, mas se alguém errar com
conosco, na primeira oportunidade, devemos ser enérgico e não deixarmos o outro
se safar com aquilo. A imagem que vamos projetar é de alguém sério, bom, confiável, mas com quem
não se pode agir de má fé. Exatamente a imagem que Maquiavel sugeriu que o
príncipe desenvolvesse.
Uma passagem do Velho Testamento aplicável a situações que
enfrentamos ocorreu com a história de David e Golias. “David se ofereceu a Saul
para lutar com Golias, o campeão filistino e, para encorajá-lo, Saul arma ele
com suas próprias armas; o que David rejeita assim que ele as coloca, dizendo
que não podia fazer uso delas, e que ele desejava encontrar o inimigo com seu
batoque e espada. Em uma palavra, a armadura de outros ou é muito larga ou
muito apertada; ou falha ou pesa em nosso corpo.”
No momento da batalha devemos jogar o nosso jogo; fazermos o
que sabemos. Na hora em que tem muita coisa em jogo, devemos usar as nossas
regras as quais nos sentimos mais confiante.
Outra lição importante que podemos tirar de Maquiavel é sobre
um trecho de sua citação quando diz: “... é muito mais seguro ser temido do que
amado, quando dos dois um deles tem que ser escolhido...” “... o príncipe que,
confiando inteiramente em suas promessas, negligencia outras precauções, está
arruinado; porque amizades que são obtidas por pagamentos, e não pela grande ou
nobilidade da mente, pode de fato serem ganhas, mas elas não estão asseguradas
e em tempos de necessidade não podem ser confiadas; e homens tem menos
escrúpulos em ofender um a quem amam do que é temido, por amor é preservado
pelo link de obrigação, mas medo preserva você pelo temor de punição que nunca
falha.”
Segundo uma passagem de Sebastian Marshall: “se você não pode
ser os dois (amado e temido), o modo mais alto seria ser amado, estimado e
respeitado durante o dia a dia, com algo povoando o canto da mente das pessoas
que se eles agirem de má fé com você, você vai ser fonte de inferno e miséria
para eles. Isso mantém as traições e destruições arbitrárias em cheque.
Eu acho que o amor é mais forte do que o medo. Um comandante
amado Poe seus soldados vai derrotar o comandante temido pelos seus soldados em
quase todas as batalhas..., mas o comandante temido é menos sujeito a chances
arbitrárias. Então, os dois têm valor. Esse trecho do livro destaca como os
seres humanos têm muito em comum.
“É necessário, de fato, colocar uma bola cor nessa natureza e
para ser hábil em simular e dissimular. Mas homens são tão simples, e
governados tão absolutamente por suas
necessidades atuais, que aquele que deseja enganar nunca falha em encontrar
patetas inclinados.”
Talvez isso explique como sempre tem gente caindo em golpes
manjados de estelionato, muito embora eles tenham sempre fatores em comum.
“Não é essencial, então, que um príncipe deva ter todas as
boas qualidades que eu enumerei acima, mas é muito essencial que ele pareça ter
todas elas; eu mesmo me aventuro a afirmar que se ele tenha invariavelmente
praticado todas elas, eles causam danos, enquanto que a aparência de tê-las é
útil (misericórdia, boa fé, integridade, humanidade e religião).”
Para o príncipe, é mais importante aparentar ser algo do que
realmente ser algo, pelo menos em termos de status social. Talvez isso explique
o peso evolutivo da sinalização, quando você indica para outros que tem um
comportamento, para ganhar as vantagens sociais de possuí-lo, mas não o tem na
verdade. Só deixando claro que isso é ruim. Muitas vezes nos enganamos com
comportamentos ineficientes sem realmente alcançarmos o que queremos.
Lição: Algumas
pessoas vão te odiar, invariavelmente. Tente não levantar o ódio de pessoas com
potencial de ameaçar seu poder.
Lição: Em momentos de
incerteza, as pessoas acreditam no que é mais conveniente para elas, não necessariamente
na verdade. Aparências são coisas poderosas.
“...ao príncipe é muito
mais fácil conquistar a amizade daqueles homens que estavam satisfeitos com o
regime passado, sendo, pois, seus inimigos, do que a daqueles que, por estarem
descontentes, tornaram-se seus amigos e aliados, auxiliando-o na conquista do Estado.”
Neste trecho Maquiavel revela que ser mais fácil se aliar com
o antigo status quo para se manter no poder do que com a facção revolucionária.
No capítulo XXI do “Príncipe” Maquiavel transmite uma lição
de extrema importância quando diserta sobre “O QUE CONVÉM A UM PRÍNCIPE PARA
SER ESTIMADO”. Em resumo destaco o trecho: “... quando surge a oportunidade de
alguém ter realizado alguma coisa extraordinária de bem ou de mal na vida
civil, obtendo meio de premiá-lo ou puni-lo por forma que seja bastante
comentada, acima de tudo, um príncipe deve empenhar-se em dar de si, com cada
ação, conceito de grande homem e de inteligência extraordinária.
Um príncipe é estimado,
ainda, quando verdadeiro amigo e vero inimigo, isto é, quando sem qualquer
consideração se revela em favor de um, contra outro. Esta atitude é sempre mais
útil do que ficar neutro, ...” “...o príncipe deve ter a cautela de jamais
fazer aliança com um mais poderoso que ele para atacar os outros, senão quando
a necessidade o compelir, torna-se seu prisioneiro...”
Fazer uma análise estratégica do livro “O Príncipe” não é
tarefa fácil, uma vez que a cada releitura de seus capítulos novas
interpretações tiramos, tamanha a riqueza de seus conceitos e lições. Resolvi construir
essa análise bastante resumida, motivado pelas observações feitas pela minha
amiga Grace Anne, a quem agradeço por me provocar uma releitura dessa magnífica
obra de Nicolau Maquiavel.
Amaury Cardoso
www.amaurycardoso.blogspot,com.br
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