quinta-feira, 1 de novembro de 2018

A RESPOSTA DAS URNAS - ARTIGO: NOVEMBRO/2018


Concluímos mais um processo eleitoral, e estas eleições de 2018 se caracterizaram como uma das eleições mais imprevisíveis que já participei. Foi uma eleição marcada pelo repúdio a política, com forte rejeição a velha aristocracia política, onde a sociedade brasileira deixou claro o seu desapontamento com a degradação da estrutura política em nosso país.

O sistema político foi sendo destruído ao longo dos anos pós redemocratização e chega nesta eleição com evidencias claras de estar destroçado, razão pela qual se compreende o fato de afastar inúmeras lideranças da atividade política partidária e, por conseguinte, da busca de um mandato.

Chegamos a esse ponto em razão da falta de interesse de grupos dominantes da política brasileira em permitir o surgimento de novas lideranças que possibilitem uma renovação na representação política. Agindo desta forma tenta impedir a aproximação de novas expressões políticas junto ao conjunto da sociedade, o que se comprova na relutância em realizar uma profunda reforma na estrutura do sistema político e eleitoral.

Diante disso, o Brasil esta vivendo um momento dos mais preocupantes da sua história. As eleições de 2018 se tornaram um enfrentamento sem precedentes, culminando com uma disputa dos extremos ideológicos, sendo vencedor a corrente que incorporou a onda conservadora e anti-petista.

Esta eleição apresentou vários resultados que para muitos eram inesperados. Um desses resultados foi o fato de que o eleitorado nacional governado pelos três maiores partidos (MDB, PT e PSDB), em comparação as eleições passadas, em especial a de 2014, perderam considerável parcela de eleitores. O MDB foi o partido que mais encolheu no comparativo com 2014. Perdeu cerca de 19 milhões, ou seja, 66% do patamar que alcançou nas eleições estaduais de 2014, ao passar de 7 para 3 governadores, sendo um do Distrito Federal. Em seguida vem o PT que perdeu 13 milhões de eleitores ao passar de 5 para 4 estados governados pela legenda. O PSDB, mesmo mantendo o controle no estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, perdeu cerca de 8 milhões do eleitorado governado.

Outro resultado evidente foi o fato dos partidos tradicionais, que acostumados a dividirem a grande parcela do eleitorado e com isso obterem maior representação política, sofreram uma grande perda eleitoral em razão do fato da pulverização dos votos entre os partidos em disputa.

Fazendo um comparativo entre a eleição de 2014 e 2018, os maiores partidos tiveram perdas significativas em suas bancadas no senado, na câmara federal e nas assembléias legislativas.

SENADO:
2014 – 1º MDB 18  -  2º PSDB 12  -  3º PT 9
2018 -  1º MDB 11  -  2º PSDB   8  -  6º PT 6

Observamos que os três maiores partidos no senado (MDB, PSDB e PT) que atualmente tem juntos quase a metade do senado, na próxima legislatura passa a representar menos de um terço das cadeiras do senado.
CÂMARA FEDERAL:
2014 -  1º PT 69  -  2º MDB 65  -  3º PSDB 54
2018 -  1º PT 56  -  4º MDB 34  -  9º PSDB 29

Observamos que a bancada do MDB e PSDB tiveram uma grande baixa na câmara.

ASSEMPLÉIAS ESTADUAIS:
2014 -  1º MDB  142  -  2º PT 110  -  3º PSDB 97
2018 -  1º MDB    93  -  2º PT   85  -  4º PSDB 73

Esse quadro configura que ocorreu uma pulverização na representação legislativa no senado, na câmara federal e nas assembléias legislativas, onde os partidos tradicionais e maiores perderam poder e força.

Outro dado significativo ocorrido na câmara federal nas eleições de 1998 à 2018 envolve a relação do percentual da representação feminina e a taxa de renovação.

MULHERES NA CÂMARA:
1998 – 28 – 5,5%
2002 -  42 -  8,2%
2006 -  45 -  8,8%
2010 -  45 -  8,8%
2014 -  51 -  9,9%
2018 -  77 – 15%

RENOVAÇÃO NA CÂMARA:
     (deputados novatos)
1998 -  183 – 35,7%
2002 -  184 -  35,9%
2006 -  193 -  37,6%
2010 -  189 -  36,8%
2014 -  198 -  38,6%
2018 -  243 -  47,3%

A pulverização das forças políticas também se deu na representação dos governos estaduais e seu eleitorado por partido.
MDB – Elegeu três governadores (PA, AL e DF), totalizando 6,9% do eleitorado nacional.
PT – Elegeu quatro governadores (BA, CE, PI e RN), totalizando 14,5% do eleitorado nacional.
PSDB – Elegeu três governadores (MS, SP e RS), totalizando 29,4% do eleitorado nacional.
PP – Elegeu um governador (AC), totalizando 0,4% do eleitorado nacional.
DEM – Elegeu dois governadores (MT e GO), totalizando 4,6% do eleitorado nacional.
PSB – Elegeu três governadores (ES, PB, e PE), totalizando 8,31% do eleitorado nacional.
PDT – Elegeu um governador (AP), totalizando 0,3% do eleitorado nacional.
PSL – Elegeu três governadores (RO, RR, e SC), totalizando 4,4% do eleitorado nacional.
PSC – Elegeu dois governadores (RJ e AM), totalizando 10% do eleitorado nacional.
PHS – Elegeu um governador (TO), totalizando 0,71% do eleitorado nacional.
NOVO – Elegeu um governador (MG), totalizando 10,6% do eleitorado nacional.
PC do B – Elegeu um governador (MA), totalizando 3% do eleitorado nacional.
PSD – Elegeu dois governadores (SE e PR), totalizando 6,5% do eleitorado nacional.

Nesta nova configuração a posição dos partidos por número de eleitores em relação aos estados governados, fica:

1º - PSDB  -  29,4%
2º - PT       -  14,5%
3º - NOVO - 10,6%
4º - PSC     - 10.0%
5º - PSB     -   8,3%
6º - MDB   -   6,9%
7º - PSD     -   6,5%
8º - DEM   -   4,6%
9º - PSL     -   4,4%
10° PC do B  3,0%
11° PHS     -   0,7%
12º PP        -   0,4%
13º PDT     -   0,3%

Por fim, é importante destacar que os votos nulos, brancos e abstenções, os chamados “Não Votos”, alcançou o significativo patamar de 42,5 milhões de eleitores, sendo que o voto nulo teve alta de 3%, em comparação a 2014.

Abstenções – 21,25 %
Nulos          -    7,44%
Brancos      -    2,15%
Totalizando   30,84% ( Média nacional de “Não votos”)

EVOLUÇÃO DOS VOTOS NULOS, BRANCOS E ABSTENÇÕES
                  (Período eleitoral entre 2002 e 2018)

Nulos                                 Brancos                   Abstenções
2002 – 4,12%                      1,88%                         20,47%
2006 – 4,71%                      1,33%                         18,99%
2010 – 4,40%                       2,30%                        21,50%
2014 -  4,63%                      1,71%                         21,10%
2018 -  7,44%                      2,15%                         21,25%

O que se conclui diante do resultado das eleições de 2018 é que a resposta foi dada nas urnas, aqueles que no meio político e partidário não entenderam o clamor da sociedade, ou se entenderam relutaram em aceitar os novos tempos da política arcaram com as conseqüenciais.
                                                      



Amaury Cardoso
Presidente Estadual da FUG/RJ
Blog: www.amaurycardoso.blogspot.com.br

       




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