Concluímos mais um processo eleitoral, e estas eleições de 2018 se
caracterizaram como uma das eleições mais imprevisíveis que já participei. Foi
uma eleição marcada pelo repúdio a política, com forte rejeição a velha
aristocracia política, onde a sociedade brasileira deixou claro o seu
desapontamento com a degradação da estrutura política em nosso país.
O sistema político foi sendo destruído ao longo dos anos pós
redemocratização e chega nesta eleição com evidencias claras de estar
destroçado, razão pela qual se compreende o fato de afastar inúmeras lideranças
da atividade política partidária e, por conseguinte, da busca de um mandato.
Chegamos a esse ponto em razão da falta de interesse de grupos
dominantes da política brasileira em permitir o surgimento de novas lideranças
que possibilitem uma renovação na representação política. Agindo desta forma tenta
impedir a aproximação de novas expressões políticas junto ao conjunto da
sociedade, o que se comprova na relutância em realizar uma profunda reforma na
estrutura do sistema político e eleitoral.
Diante disso, o Brasil esta vivendo um momento dos mais preocupantes da
sua história. As eleições de 2018 se tornaram um enfrentamento sem precedentes,
culminando com uma disputa dos extremos ideológicos, sendo vencedor a corrente
que incorporou a onda conservadora e anti-petista.
Esta eleição apresentou vários resultados que para muitos eram
inesperados. Um desses resultados foi o fato de que o eleitorado nacional
governado pelos três maiores partidos (MDB, PT e PSDB), em comparação as
eleições passadas, em especial a de 2014, perderam considerável parcela de
eleitores. O MDB foi o partido que mais encolheu no comparativo com 2014.
Perdeu cerca de 19 milhões, ou seja, 66% do patamar que alcançou nas eleições
estaduais de 2014, ao passar de 7 para 3 governadores, sendo um do Distrito
Federal. Em seguida vem o PT que perdeu 13 milhões de eleitores ao passar de 5
para 4 estados governados pela legenda. O PSDB, mesmo mantendo o controle no
estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, perdeu cerca de 8 milhões
do eleitorado governado.
Outro resultado evidente foi o fato dos partidos tradicionais, que
acostumados a dividirem a grande parcela do eleitorado e com isso obterem maior
representação política, sofreram uma grande perda eleitoral em razão do fato da
pulverização dos votos entre os partidos em disputa.
Fazendo um comparativo entre a eleição de 2014 e 2018, os maiores
partidos tiveram perdas significativas em suas bancadas no senado, na câmara
federal e nas assembléias legislativas.
SENADO:
2014 – 1º MDB 18 - 2º PSDB 12
- 3º PT 9
2018 - 1º MDB 11
- 2º PSDB 8 - 6º
PT 6
Observamos que os três maiores partidos no senado (MDB, PSDB e PT) que
atualmente tem juntos quase a metade do senado, na próxima legislatura passa a
representar menos de um terço das cadeiras do senado.
CÂMARA FEDERAL:
2014 - 1º PT 69 - 2º
MDB 65 -
3º PSDB 54
2018 - 1º PT 56
- 4º MDB 34 - 9º
PSDB 29
Observamos que a bancada do MDB e PSDB tiveram uma grande baixa na
câmara.
ASSEMPLÉIAS ESTADUAIS:
2014 - 1º MDB 142
- 2º PT 110 - 3º
PSDB 97
2018 - 1º MDB
93 - 2º PT
85 - 4º PSDB 73
Esse quadro configura que ocorreu uma pulverização na representação
legislativa no senado, na câmara federal e nas assembléias legislativas, onde
os partidos tradicionais e maiores perderam poder e força.
Outro dado significativo ocorrido na câmara federal nas eleições de
1998 à 2018 envolve a relação do percentual da representação feminina e a taxa
de renovação.
MULHERES NA CÂMARA:
1998 – 28 – 5,5%
2002 - 42 - 8,2%
2006 - 45 - 8,8%
2010 - 45 - 8,8%
2014 - 51 - 9,9%
2018 - 77 – 15%
RENOVAÇÃO NA CÂMARA:
(deputados novatos)
1998 - 183 – 35,7%
2002 - 184 - 35,9%
2006 - 193 - 37,6%
2010 - 189 - 36,8%
2014 - 198 - 38,6%
2018 - 243 - 47,3%
A pulverização das forças políticas também se deu na representação dos
governos estaduais e seu eleitorado por partido.
MDB – Elegeu três governadores (PA, AL e DF), totalizando 6,9% do
eleitorado nacional.
PT – Elegeu quatro governadores (BA, CE, PI e RN), totalizando 14,5% do
eleitorado nacional.
PSDB – Elegeu três governadores (MS, SP e RS), totalizando 29,4% do
eleitorado nacional.
PP – Elegeu um governador (AC), totalizando 0,4% do eleitorado
nacional.
DEM – Elegeu dois governadores (MT e GO), totalizando 4,6% do
eleitorado nacional.
PSB – Elegeu três governadores (ES, PB, e
PE), totalizando 8,31% do eleitorado nacional.
PDT – Elegeu um governador (AP), totalizando 0,3% do eleitorado
nacional.
PSL – Elegeu três governadores (RO, RR, e SC), totalizando 4,4% do
eleitorado nacional.
PSC – Elegeu dois governadores (RJ e AM), totalizando 10% do eleitorado
nacional.
PHS – Elegeu um governador (TO), totalizando 0,71% do eleitorado
nacional.
NOVO – Elegeu um governador (MG), totalizando 10,6% do eleitorado
nacional.
PC do B – Elegeu um governador (MA), totalizando 3% do eleitorado
nacional.
PSD – Elegeu dois governadores (SE e PR), totalizando 6,5% do
eleitorado nacional.
Nesta nova configuração a posição dos partidos por número de eleitores
em relação aos estados governados, fica:
1º - PSDB - 29,4%
2º - PT - 14,5%
3º - NOVO - 10,6%
4º - PSC - 10.0%
5º - PSB -
8,3%
6º - MDB -
6,9%
7º - PSD - 6,5%
8º - DEM - 4,6%
9º - PSL - 4,4%
10° PC do B 3,0%
11° PHS - 0,7%
12º PP - 0,4%
13º PDT - 0,3%
Por fim, é importante destacar que os votos nulos, brancos e
abstenções, os chamados “Não Votos”, alcançou o significativo patamar de 42,5
milhões de eleitores, sendo que o voto nulo teve alta de 3%, em comparação a
2014.
Abstenções – 21,25 %
Nulos - 7,44%
Brancos - 2,15%
Totalizando 30,84% ( Média
nacional de “Não votos”)
EVOLUÇÃO DOS VOTOS NULOS, BRANCOS E ABSTENÇÕES
(Período eleitoral entre 2002 e 2018)
Nulos
Brancos Abstenções
2002 – 4,12% 1,88% 20,47%
2006 – 4,71%
1,33%
18,99%
2010 – 4,40%
2,30% 21,50%
2014 - 4,63% 1,71% 21,10%
2018 - 7,44% 2,15% 21,25%
O que se conclui diante do resultado das eleições de 2018 é que a
resposta foi dada nas urnas, aqueles que no meio político e partidário não
entenderam o clamor da sociedade, ou se entenderam relutaram em aceitar os
novos tempos da política arcaram com as conseqüenciais.
Amaury Cardoso
Presidente Estadual da FUG/RJ
Blog: www.amaurycardoso.blogspot.com.br