“O conhecimento jamais poderá ser
completo e perfeito”
Inicio esse artigo reflexivo com uma
pergunta que constantemente me faço: Será que compreendemos o mundo em
que vivemos? Será que a ciência conseguirá decifrar a mente de
Deus, como supõe o físico Stephen Hawking em seu livro “Uma breve história do
Tempo”?
O processo civilizatório e as mudanças
através de suas descobertas têm revelado que para a ciência não existe verdades
finais, absolutas, uma vez que o ser humano tem o ímpeto da busca pelo
conhecimento.
Ignorar o passado, ou pior, não
entendê-lo, nos impede ter a compreensão exata do presente nos limitando à
consciência do nosso destino, fazendo com que nossa percepção da realidade seja
incompleta, nos impedindo perceber através de nossos sentidos o que ocorre à
nossa volta, tão bem definido na fabula de Saint – Exupéry, quando a raposa
disse ao pequeno Príncipe: “O essencial é invisível aos olhos”.
Atravessamos o século XXI e o que podemos
afirmar com certeza acerca das propriedades da matéria a energias milhares de
vezes mais altas do que o conhecimento adquirido através dos estudos atuais.
A última palavra sobre a essência das
ciências empíricas é a da natureza. Se nossa compreensão sobre a natureza que
nos envolve é limitada, nosso conhecimento sobre o mundo natural é limitado,
conseqüentemente, nosso aprendizado do mundo é limitado pelo fato de não
percebermos muitas coisas ao nosso redor em decorrência de nossos limites. Essa
miopia provoca a ciência, desafiando a imaginação dos cientistas.
O que sabemos do mundo decorre do que
podemos descobrir através do passar do tempo, mas é certo, como ocorreu com
nossos antepassados, que não vemos tudo. A realidade é diferenciada entre os
seres humanos, uma vez que a percepção é diferenciada, sendo para muitos
invisíveis ou inacessíveis.
Será que a compreensão da natureza, da
realidade, é apenas questão de ampliarmos os limites da ciência ou devemos
aceitar que o conhecimento científico tem limites?
O conhecimento nos proporciona uma visão
mais abrangente do mundo, nos permite construir realidades que só serão
contestadas através de maior conhecimento, fato que tem sido motivação para
ampliarmos as fronteiras do conhecimento, vencendo a ignorância do momento, o
que nos leva a concluir que quando o conhecimento cresce a ignorância também
cresce. Enquanto a tecnologia progredir a realidade de hoje será superada pela
realidade de amanhã. “A crença de que existe uma verdade final é uma
fantasia, um fantasma criado pela nossa imaginação”.
O fato que nos parece obvio é que enquanto
a ciência avançar aprendemos mais sobre o mundo, e a cada avanço se revela que
teremos mais a aprender.
Milan Kundera em seu livro “A Insustentável
Leveza do Ser”, coloca que são perguntas sem resposta que definem os limites
das possibilidades humanas, que descrevem as fronteiras da existência humana.
Já Reinhold Niebuhr em seu livro “A Natureza e o Destino do Homem” afirma que o
homem sempre foi o seu problema mais angustiante. Essas duas interpretações me
inquietam e me traz a pergunta: Será que podemos entender o mundo sem algum
tipo de crença? Porque não crer que a morte não seja o final, mas o início de
uma nova existência? Por não crer que a vida se repete em ciclos? Como a
primeira vida surgiu, se nada vivo existia para lhe dar a luz? Como o mundo
surgiu? Será que podemos afirmar que não existem outras formas de vida
inteligente em algum lugar do Cosmos?
Percebo que o desejo de conhecer nossas
origens e lugar no Cosmos é uma das características que mais definem a nossa
humanidade, ou seja, entender quem somos e compreender o sentido de nossa
existência.
Nos registros Históricos do processo
civilizatório ocorreu, por volta do século VI a.C, uma profunda mudança de
perspectiva na Grécia antiga. Idéias revolucionárias sobre a dimensão social e
espiritual do homem apareceram durante esta época na China, com Confúcio e Lao
Tse, na Índia, com Sidarta Gautama (Buda), na Grécia com o surgimento da filosofia
ocidental, com os filósofos pré-socrates. Que questionaram e argumentaram a
natureza fundamental do conhecimento e da existência que redefiniu a relação do
homem com o desconhecido.
Esse processo vem se repetindo e se
aprofundando através dos tempos, e essa busca constante pelo conhecimento tem
causado um preço que nem todos querem pagar. Aprender requer coragem e
tolerância, em razão de causar uma profunda e traumática mudança de perspectiva,
nos tirando de uma visão cômoda da realidade, nos fazendo rever o que para nós
é o certo, nos colocando diante do incerto.
Essas incertezas são tantas que chegam a
nos angustiar. Como definir por que o Universo existe? O que causou sua
existência? Religiões diversas buscam explicar esse enigma através de uma
divindade criadora que existe fora dos limites impostos pelas leis da natureza.
Segundo cientistas físicos que argumentam
que a física moderna, em particular a mecânica quântica, possa explicar a
origem cósmica, o fato é que explicar a origem do universo apenas através da
ciência é um enorme desafio conceitual.
Enquanto essa realidade se manter imposta,
ficaremos convivendo com a milenar disputa entre as teses da religião e da
ciência, e convivendo com nossa angustia existencial.
Finalizo com essa bela reflexão do
matemático e filósofo Blaise Pascal, que traduz o meu sentimento: “Quando
considero a curta duração da minha vida, engolida pela eternidade que passou e
passará antes e após o pequeno intervalo que preencho, ou que possa ver
engolfado pela imensidão infinita de espaços que me são inescrutáveis e que não
me conhecem, tenho medo, e me surpreendo de estar aqui e não acolá, agora e não
antes ou depois. Quem me pôs aqui? Quem deu origem e direção para que este
espaço e este intervalo de tempo sejam ocupados por mim”.
Segundo o físico Marcelo Gleiser, ainda,
hoje o terror de Pascal reflete a reação de muitos quando se deparam com
revelações da ciência que, três séculos mais tarde, confirmou de forma
extraordinária a vastidão espacial e temporal do Cosmos. Se não através da
religião, conforme Pascal propõe em sua defesa do Cristianismo, como encontrar
sentido em uma existência tão efêmera?
Amaury
Cardoso
E-mail: amaurycardosopmdb@yahoo.com.br