É triste ter que
iniciar esse artigo com a constatação de que estamos diante da dilapidação da
ética em nosso país, que, infelizmente, atinge grande parcela da sociedade que
por anos se mostrou indiferente e muitas das vezes conivente em razão do fato
de reeleger representantes de caráter no mínimo duvidoso. A putrefação moral da
classe política ao longo dos anos e mais evidente a cada legislatura, salvo
poucas exceções, agrava a crise de valores morais e éticos e coloca a atual
Democracia Representativa como uma das piores dos últimos anos.
O processo de
investigação da operação Lava-Jato, após dois anos de seu início, chega a uma
etapa decisiva neste final de 2016 com reflexos no campo político totalmente
imprevisível. A “delação do fim do mundo”, que virá a tona no início de 2017
através de depoimentos de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht, principal
empresa corruptora, irá causar uma hecatombe no circulo político brasileiro
provocando um enorme estrago aos cardeais que à décadas dominam e ditam as
decisões políticas em nosso país, através da prática de uma política ultrapassada
e em exaustão, que corrompeu a República e desviou bilhões de dólares dos
cofres públicos.
O processo de
investigação no estágio em que chegou, confirma que a corrupção sistêmica se
instalou em todas as esferas do poder público, sendo responsável pelo atraso
social brasileiro, que agoniza o país em razão da indecência moral e ética da
grande maioria da classe política, agravada pela ineficiência administrativa de
gestores, salvo raríssimas exceções, que condenaram um país de grandes riquezas
minerais a se perpetuar na mediocridade e miséria social e educacional de seu
povo, sendo o atraso educacional seu maior sintoma falimentar.
Nada irá mudar sem a
ocorrência do saneamento das relações entre a convivência responsável e
transparente entre o público e o privado. Os casos escabrosos de corrupção e
ineficiência de gestão que estão sendo revelados nos últimos anos tem causado
uma grande insatisfação social com relação ao sistema político vigente, cuja
indignação e descrédito alcançaram um elevado grau que ameaça atingir às
instituições, o que irá abalar a nossa nova república com sérias consequências
para a nossa jovem democracia, caso não ocorram mudanças no comportamento da
elite dirigente, principalmente, no aspecto da transparência, na gestão
eficiente, na responsabilidade orçamentária, na adoção da interlocução direta
com a sociedade civil e compromisso claro com a renovação de princípios e
valores.
Para que nosso país
passe a ter reais esperanças de futuro a que se tentar, efetivamente, promover
as reformas estruturais, que em razão de não terem sido realizadas acumulam
décadas de atraso e são responsáveis pela exclusão social, baixo crescimento
devido a fragilidade econômica, forte concentração de renda em uma pequena
classe e segregação educacional de uma grande parcela da sociedade brasileira.
Continuar adiando as
reformas que o país tanto necessita, no campo político, previdenciário,
trabalhista, tributário e educacional, é soterrar as chances de reconstrução da
nossa nação, levando-a a desagregação.
Diante do atual quadro
político e econômico que o país atravessa não será fácil realizar as reformas
estruturais que o país precisa, principalmente, diante da falta de uma
liderança nacional que reúna competência, coragem e credibilidade para implementá-la.
Contudo, não há alternativa. A sociedade brasileira precisa entender seu
importante papel nesse momento e sua responsabilidade em liderar esse processo,
onde 2018 se apresenta como uma grande oportunidade!
Amaury Cardoso