O sistema político e eleitoral em nosso país, da forma como
se apresenta, não se sustenta mais. Exauriu-se em razão da lógica do fisiologismo,
da chantagem entre os poderes executivo e legislativo, do leilão de cargos que sustentam
a corrupção e o poder.
O surto de indignação da sociedade aumenta em razão da
desesperança do cidadão com relação a inadiável reforma política, e se
justifica pelo fato da certeza de que com esse Congresso e esse sistema eleitoral
que o preserva, o caos está longe do fim e nada avançará no sentido da promoção
de mudanças significativas que coloque os pilares que sustentam o status quo
dos “cardeais políticos” em risco.
Na percepção da grande maioria da sociedade, todos os
partidos estão envolvidos no processo de corrupção e encrencados nas
investigações da Lava-Jato. Os sinais da intolerância da sociedade com a
corrupção que se revela endêmica sinalizam para a exigência do fim da
impunidade, e o combate ostensivo e rigoroso da prática da corrupção.
O Congresso não pode se colocar como obstáculo a uma demanda
latente da sociedade, e sentar em cima de dois milhões de assinaturas que
endossaram proposta apresentada pelo Ministério Público Federal, contendo dez
medidas contra a corrupção. Esta proposição está mofando na Câmara dos
deputados, que sequer criou comissão especial para tratar do assunto proposto
através de iniciativa popular.
O que se percebe é que mesmo diante do competente trabalho
que as instituições do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e do
judiciário, sobretudo a primeira instância simbolizada na figura do juiz Sergio
Moro, não estão bastando. Compartilho com a opinião de que a Lava-Jato, por si
só, não salvará o Brasil. Os tentáculos da corrupção são profundos e fortes, e
em razão disso é indispensável à força da cidadania vigente, vigorosa e ativa.
Finalizo com a citação de um trecho do discurso proferido há
102 anos por Rui Barbosa, no senado: “(...) De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto
ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da
virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. (...).
Que a reforma política e do sistema eleitoral venha para
resgatar a credibilidade da democracia representativa, o fortalecimento da
instituição partidária e, consequentemente, o avanço da nossa jovem democracia.