A sociedade brasileira tem vivido constantes momentos de sobressalto com os rumos da política nacional, onde as instituições partidárias e sua classe política perdem a representatividade diante da falta de novas idéias, do distanciamento cada vez maior com o cidadão (eleitor) e a incapacidade de apresentar soluções factíveis aos graves fatores estruturais que estão levando ao aprofundamento da crise econômica.
O momento de incertezas no campo político, econômico e social, se aprofunda pelo fato da falta de expectativa de recondução do país, onde a sociedade não identifica uma liderança com capacidade, coragem e independência para assumir o papel de condutor dos destinos da nação, diante da sua percepção do grau de enraizamento do sistema político baseado em um modelo que se alimenta numa coalizão fisiológica sustentada no loteamento da máquina pública e na corrupção.
O que se verifica é que está ocorrendo um processo de erosão do “presidencialismo de coalizão”, que, neste aspecto, compartilho com a posição do ex-presidente Fernando Henrique, ao afirmar: “o presidencialismo de coalizão – no qual se supõe a aliança entre um número limitado de partidos para apoiar a agenda do governo no Congresso – transformou-se em um “presidencialismo de cooptação”. Nele, grandes e pequenos partidos (meros agregados de pessoas que visam ao controle de um pedaço do orçamento) ideologicamente díspares passam a tão somente carimbar as decisões do executivo no Congresso em troca de penetração cada vez maior na máquina governamental e participação nos contratos públicos”. Diante dessa afirmativa é fácil entender que os resultados desse processo são as razões que levam a indignação da sociedade, pois geram ineficiência de gestão e espaço para a instalação da corrupção endêmica.
Essa falta de identificação, pela sociedade, de um líder nacional, com idéias e projeto crível, ou seja, confiável e atraente com capacidade de seduzir e reconquistar um eleitorado perdido e tomado pela indignação, em decorrência aos abalos das revelações que dão conta da institucionalização da corrupção na máquina pública, responsável pelo aprofundamento da crise econômica, que inviabiliza o crescimento e aprofunda o risco da convivência maior com o fantasma da inflação, com fortes reflexos no aumento das desigualdades sociais e de tensões nas sociedades.
Hoje o que se percebe é a falta de um partido com capacidade de formular projetos coerentes com a globalização e as mudanças dos instrumentos de políticas econômicas, cujas as diferenças hoje entre políticas públicas entre esquerda e direita são de matizes, havendo a necessidade de se repensar o atual projeto político e econômico para superar o momento da crise brasileira, lançando o país no rumo do tão almejado desenvolvimento com a ampliação da justiça social.
O discurso que a sociedade espera não é o de só recuperar o que se perdeu, mas sim o do compromisso de promover, através de programas e propostas factíveis, serviços públicos de qualidade que atendam a demanda crescente da sociedade.
Os governos não podem continuar a deixar de reconhecer seus erros e sua responsabilidade diante da crise, onde o baixo investimento em infraestrutura, no passado recente, tenha ocorrido por falta de dinheiro. O que houve foi uma ineficiência da gestão pública dos recursos. O Brasil precisa crescer para incluir pessoas na economia, ou seja, no mercado de trabalho. Isso passa pela eficiência de gestão e investimentos nos setores essenciais, responsáveis para alavancar o desenvolvimento, e para isso precisa elevar, e muito, o nível de investimento para diminuir os gargalos que estão obstruindo o alcance desse objetivo. Infelizmente o que se constata é que os erros praticados pelo governo petista na condução da economia, agravada com a falta de planejamento estrutural de futuro, associada a prática da corrupção sistêmica através do aparelhamento partidário nas estruturas de governo, implantado para alimentar um projeto longo de poder, nos levou a uma grave crise política e econômica, de conseqüências imprevisíveis e cuja a correção não se dará a médio prazo.
A percepção da sociedade com o alastramento da corrupção, levadas pelas investigações do Ministério Público Federal e a Polícia Federal, que a cada dia apresenta fatos novos que desnudam a sua ampla ramificação, e revelam a participação de pessoas de grande influência no poder público e privado, tem causado na grande maioria das pessoas de bem uma indignação e perplexidade, diante da distorção da ética, retidão moral e probidade.
A classe política está dando um tiro no coração ao ignorar e, pior, tentar esconder, diante das evidências, os sucessivos escândalos de corrupção, não admitindo que estão moralmente encurralados por uma sociedade que na esmagadora maioria os rejeitam. Com o processo da investigação da operação Lava-Jato, que esta longe do fim, as apurações do esquema de corrupção na Petrobras evidenciam que mesmo após o julgamento do mensalão, a prática de corrupção no governo petista se intensifica e se caracteriza como um esquema de compra de poder político através de um esquema corrupto tão ambicioso de perpetuação no poder do partido dos trabalhadores, que diante do que já foi apurado, com a contribuição de várias “delações premiadas” se chega ao alto escalão do núcleo do poder em Brasília, cujas as conseqüências serão terríveis para a República.
O fato é que com o início do governo do PT ao poder (2003), se instaurou a corrupção de forma institucionalizada, “endêmica e dissimulada”, como metástase. Finalizo com a pergunta feita pelo Ministério Público Federal:
“como um esquema de corrupção das dimensões do mensalão e petrolão poderia ser implantado sem a cobertura do Planalto?
Amaury Cardoso
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