Neste artigo peço que tentem
compreender o meu comportamento de cidadão extremamente crítico e racional, mas
que diante de tudo que assiste e observa do comportamento humano, se esforça em
compreender as profundas mudanças e inquietações que eclodem no mundo, partindo
de uma superficial análise do processo sócio/cultural do Brasil.
Entendo que a mudança em nosso
país se processará lentamente enquanto uma grande parcela da sociedade
permanecer alienada, indiferente e passível as transformações de valores,
acuada em seus receios, sem estravasar sua indignação diante de um sistema
único a reger a ordem econômica, política, religiosa e moral.
O nosso atraso socio/cultural nos
levou a viver por séculos sem consciência do aprofun damento da nossa
mediocridade, nos impedindo de enfrentar as nossas mazelas, erguer a nossa auto
estima e nos reinventar como nação, nos tirando do atraso em que nos
encontramos em relação aos níveis de renda, educação e produtividade
tecnológica, alicerces necessário a uma nação que se pretende desenvolvida.
O nosso país se originou da
violência da dominação dos seus descobridores e exploradores europeus, o que
explica em grande parte a construção da nossa sociedade e estrutura de poder
cultural forjada por tendências de dominação, oprimida por uma classe dominante
deformada, que condena seu povo ao atraso e à penúria como segurança de se
manter intocada, por séculos, a continuidade de sua dominação.
Essa minha inqueetude diante dos
acontecimentos do presente, que revelam uma mudança radical de comportamento,
me levam a necessidade de entender os dilemas de hoje, as contradições agudas
de uma sociedade excludente, o fracasso da democracia, a violência autoritária,
o descrédito das instituições, o atraso econômico-tecnológico e educacional a que
estamos subjugados, a deficiência e ineficiência dos serviços públicos e o
crescimento da corrosão ética que alimenta a corrupção.
Tenho destacado em vários artigos
que a educação é um instrumento de revolução que possibilita o pleno exercício
da cidadania, tornando-se fundamental, em especial nesses novos tempos, tratá-la
como prioridade política para a construção de uma sociedade democrática e
participativa.
A nossa situação de
desenvolvimento foi tratada como estratégia para o processo de expansão do
capitalismo mundial, não me refiro só ao Brasil, mas a toda a America Latina.
Como produto do capitalismo dos séculos XVI, XVII e XVIII e, consequentemente,
da expansão mundial desse capitalismo, fomos levados a organizar nossa economia
para atender à demanda do mercado mundial.
A nossa condição de
subdesenvolvido surge com a colonização, com a nossa especialização para
exportar produtos agrícolas e matérias-primas, sobretudo os minerais preciosos,
o ouro e a prata.
Segundo o cientista político
Theotônio dos Santos, o nordeste foi um dos maiores centros de exportação em
todo o mundo, e não foi por acaso que Gilberto Freyre desenvolveu seu estudo
sobre a Casa-Grande, que é uma empresa moderna de produção para exportação, com
uma parte voltada para o atendimento doméstico. “Nossa estrutura foi criada
como dependente e por isso não teríamos condições de superar a dependência”,
uma tese que afirmava não ser possível o crescimento econômico de uma nação
dentro de uma economia dependente.
A virada do século XX ao XXI
revelou uma crescente insatisfação que se transformou em um movimento de
crítica que evidencia um mundo em mudança, um mundo em mutação, que tem
desnorteado a quem procura entendê-lo, mas que precisa ser reinterpretado à luz
de novas teorias alinhadas com os novos tempos que dão conta de um mundo
instável, em movimento, das redes que questiona algumas de suas estruturas
formais de poder do qual querem se libertar. O desafio se coloca no sentido do
entendimento da sociedade contemporânea.
Os clássicos da sociologia não
estão fazendo outra coisa que não nos explicar os processos por intermédio dos
quais os homens e as relações sociais se transformam, mas mesmo os estudiosos
do processo civilizatório e social são, com frequência, surpreendidos com fatos
e comportamentos novos e, em razão disso, são levados a reavaliar seus
pensamentos e diagnósticos, cuja a questão central tem sido como reconhecer as
diferenças e como corrigir as desigualdades em um mundo interconectado, porém
excludente. Como lidar com essa diversidade cultural e social no mundo
globalizado, tem sido o grande desafio da sociedade contemporânea, quando tudo
indica que este século será de choques sociais violentos alimentados pelo poder
das redes sociais.
Amaury Cardoso
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