sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O DILEMA DE UM MUNDO INTERCONECTADO, PORÉM DESIGUAL E EXCLUDENTE. Artigo: Fev de 2014

Neste artigo peço que tentem compreender o meu comportamento de cidadão extremamente crítico e racional, mas que diante de tudo que assiste e observa do comportamento humano, se esforça em compreender as profundas mudanças e inquietações que eclodem no mundo, partindo de uma superficial análise do processo sócio/cultural do Brasil.

Entendo que a mudança em nosso país se processará lentamente enquanto uma grande parcela da sociedade permanecer alienada, indiferente e passível as transformações de valores, acuada em seus receios, sem estravasar sua indignação diante de um sistema único a reger a ordem econômica, política, religiosa e moral.

O nosso atraso socio/cultural nos levou a viver por séculos sem consciência do aprofun damento da nossa mediocridade, nos impedindo de enfrentar as nossas mazelas, erguer a nossa auto estima e nos reinventar como nação, nos tirando do atraso em que nos encontramos em relação aos níveis de renda, educação e produtividade tecnológica, alicerces necessário a uma nação que se pretende desenvolvida.

O nosso país se originou da violência da dominação dos seus descobridores e exploradores europeus, o que explica em grande parte a construção da nossa sociedade e estrutura de poder cultural forjada por tendências de dominação, oprimida por uma classe dominante deformada, que condena seu povo ao atraso e à penúria como segurança de se manter intocada, por séculos, a continuidade de sua dominação.

Essa minha inqueetude diante dos acontecimentos do presente, que revelam uma mudança radical de comportamento, me levam a necessidade de entender os dilemas de hoje, as contradições agudas de uma sociedade excludente, o fracasso da democracia, a violência autoritária, o descrédito das instituições, o atraso econômico-tecnológico e educacional a que estamos subjugados, a deficiência e ineficiência dos serviços públicos e o crescimento da corrosão ética que alimenta a corrupção.

Tenho destacado em vários artigos que a educação é um instrumento de revolução que possibilita o pleno exercício da cidadania, tornando-se fundamental, em especial nesses novos tempos, tratá-la como prioridade política para a construção de uma sociedade democrática e participativa.

A nossa situação de desenvolvimento foi tratada como estratégia para o processo de expansão do capitalismo mundial, não me refiro só ao Brasil, mas a toda a America Latina. Como produto do capitalismo dos séculos XVI, XVII e XVIII e, consequentemente, da expansão mundial desse capitalismo, fomos levados a organizar nossa economia para atender à demanda do mercado mundial.

A nossa condição de subdesenvolvido surge com a colonização, com a nossa especialização para exportar produtos agrícolas e matérias-primas, sobretudo os minerais preciosos, o ouro e a prata.

Segundo o cientista político Theotônio dos Santos, o nordeste foi um dos maiores centros de exportação em todo o mundo, e não foi por acaso que Gilberto Freyre desenvolveu seu estudo sobre a Casa-Grande, que é uma empresa moderna de produção para exportação, com uma parte voltada para o atendimento doméstico. “Nossa estrutura foi criada como dependente e por isso não teríamos condições de superar a dependência”, uma tese que afirmava não ser possível o crescimento econômico de uma nação dentro de uma economia dependente.

A virada do século XX ao XXI revelou uma crescente insatisfação que se transformou em um movimento de crítica que evidencia um mundo em mudança, um mundo em mutação, que tem desnorteado a quem procura entendê-lo, mas que precisa ser reinterpretado à luz de novas teorias alinhadas com os novos tempos que dão conta de um mundo instável, em movimento, das redes que questiona algumas de suas estruturas formais de poder do qual querem se libertar. O desafio se coloca no sentido do entendimento da sociedade contemporânea.

Os clássicos da sociologia não estão fazendo outra coisa que não nos explicar os processos por intermédio dos quais os homens e as relações sociais se transformam, mas mesmo os estudiosos do processo civilizatório e social são, com frequência, surpreendidos com fatos e comportamentos novos e, em razão disso, são levados a reavaliar seus pensamentos e diagnósticos, cuja a questão central tem sido como reconhecer as diferenças e como corrigir as desigualdades em um mundo interconectado, porém excludente. Como lidar com essa diversidade cultural e social no mundo globalizado, tem sido o grande desafio da sociedade contemporânea, quando tudo indica que este século será de choques sociais violentos alimentados pelo poder das redes sociais.




                                                                  Amaury Cardoso
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